Oposto a países como os Estados Unidos, 70% dos hotéis brasileiros são independentes, e apenas 30% estão atrelados a redes. O problema é que, salvo honrosas exceções, operar isoladamente promove várias disfuncionalidades operacionais e econômicas. Em geral, é um modelo de negócios equivocado e obsoleto, que acaba por ignorar a experiência acumulada do setor, levando cada novo empreendimento a praticamente “reinventar a roda”.
As redes hoteleiras se consagraram mundialmente como forma inteligente de otimizar recursos, reduzir custos e, o mais importante, facilitar a vida do viajante. “As redes permitem estabelecer padrões e processos, beneficiar-se do valor da marca, e melhor gestão dos canais de distribuição”, comenta Patrick Mendes, CEO para a subsidiária brasileira e para a região latino-americana da Accor.
Tornar-se a maior rede do país não ocorreu por acaso. Outros tentaram, mas não conseguiram.
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Redes nacionais, como a Othon, se estabeleceram bem antes que a Accor, mas parecem ter perdido o trem da inovação. Ao dormir sobre os louros, hoje sobrevivem como pálida sombra do passado glorioso.
Tampouco a maioria das multinacionais da hotelaria foram longe em seus empreendimentos. Ou não vieram ao país a tempo. Ou até entraram, mas desistiram no meio do caminho. Ou preferiram concentrar suas baterias em outros destinos. Ou optaram por atuar em nichos, como luxo ou resorts.
O sucesso da hotelaria francesa Accor no Brasil é resultado de uma aposta de longo prazo. Desde 1977 há um projeto hoje materializado em um rico portfólio de marcas que atende todos os segmentos, do luxo (como Sofitel e Pullman), midscale (como Novotel, Mercure e Adagio) e econômico (como ibis).
Na sua trajetória recente no Brasil, a Accor tem uma dívida de gratidão com Roland de Bonadona, seu ex-CEO e atual consultor. Um dos franceses mais brasileiros do país, ele se formou em Administração e Sociologia na França. Recém aposentado após 42 anos de serviços para a corporação, está em São Paulo desde 1989, de onde nunca mais saiu. Sob sua batuta, a rede se consolidou como a maior do país.
Na sua trajetória recente no Brasil, a Accor tem uma dívida de gratidão com Roland de Bonadona, seu ex-CEO e atual consultor. Um dos franceses mais brasileiros do país…
A Accor conta hoje com 266 hotéis em operação na América do Sul, dos quais 233 no Brasil. Com 12 mil colaboradores na região, a meta é chegar a 2020 com 500 hotéis, 400 deles no Brasil. Para isto, estão projetados investimentos de R$ 8 bilhões.
Desde 2015, o energético Patrick Mendes substitui Bonadona como CEO do grupo para a região. Também francês, está na empresa desde 1994, e no Brasil há cinco anos. Aqui, comandou as operações de diversas marcas da Accor. Antes, trabalhou na subsidiária de Portugal e depois em vendas globais. Graduado pela INSEAD, sua experiência profissional inclui ainda a passagem por grandes redes hoteleiras internacionais na Europa.
Mendes reconhece em Bonadona o responsável pela herança da sólida base de negócios.
“A hotelaria é uma velha dama que precisa ser rejuvenescida”, define Mendes. A seu favor, conta com uma gestão mundial bem mais generosa em flexibilidade nas normas rígidas que caracterizam as adotadas pelas corporações. Ele ganhou a benção de Paris para usar uma fórmula de operação onde 70% é padronização, e 30% espaço para inovação. Neste último, tem carta branca para desligar o piloto automático e entrar em ação com o talento.
O sucesso da Accor é uma ótima notícia para todos que acreditam na viabilidade de redes hoteleiras no Brasil. É um case de que dá para realizar um trabalho em equipe sem estrelismos, onde a sucessão das lideranças ocorre de forma natural, sem percalços. “Se Bonadona foi o grande costureiro da Accor no Brasil, Patrick Mendes é hoje seu melhor alfaiate”, define com precisão Toni Sando, presidente da Visite São Paulo, ele próprio um ex-executivo da rede.
- Fábio Steinberg é jornalista e fundador do portal Viagens e Negócios