New Orleans: o casamento perfeito da crise com a oportunidade

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por Fábio Steinberg*

Ninguém na cidade jamais vai esquecer o dia 29 de agosto de 2005. Foi quando o furacão Katrina, considerado o maior destrutivo e caro desastre natural da história dos Estados Unidos, deixou 80% de New Orleans debaixo d’água. Com duzentas mil casas submersas a até cinco metros de profundidade, o local ficou ao deus dará, sem luz, água e esgoto, com segurança precária, e sob um calor infernal.

 O episódio deixou cicatrizes profundas. Em seu rastro, um saldo de 2 mil mortes e 90% de desabrigados que perderam todos os pertences, e centenas de milhares de cidadãos que tiveram que abandonar suas casas  às pressas.

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New Orleans não é uma cidade qualquer. É bem diferente de qualquer outro destino do mundo. Sua população extremamente diversificada é resultado de uma combinação única de culturas, como a inglesa, francesa, espanhola, africana e caribenha. Essa feliz mistura criou um incrível mosaico que se reflete na música, gastronomia e modo de vida que se adaptam como luva ao clima ameno e geografia ímpar do lugar. Berço do jazz, costuma encantar com sua alegria contagiante e clima de festa contínua até o mais mal-humorado dos visitantes.

Uma das primeiras iniciativas foi uma campanha para restaurar a imagem de New Orleans como destino ideal para lazer e convenções.

Com uma economia dependente do turismo, até 2014 recebia 10 milhões de pessoas que geravam uma renda anual de 4.9 bilhões de dólares, nada menos que 35% de sua receita operacional. Logo após o Katrina, os visitantes encolheram para quase um terço do original. Com isto, os seus gastos se reduziram a pouco mais da metade.

Assim, enquanto a cidade tratava de curar suas feridas e reconstruir uma arruinada infraestrutura, o CV&B se incumbiu de resgatar a toque de caixa a indústria do turismo. Uma das primeiras iniciativas foi uma campanha para restaurar a imagem de New Orleans como destino ideal para lazer e convenções. Nela, reconhecia-se de forma honesta os problemas enfrentados, mas sempre com bom humor lembrava que “a verdadeira alma de cidade é à prova d’água” e que “o Aquário é a única área ainda debaixo d’água”. Somem-se ainda várias ações, como a visita de 700 jornalistas internacionais, que ajudaram a dissipar nuvens que porventura ainda poderiam pairar por ali.

Uma vez mais o azar decidiu flertar com New Orleans. De um lado, veio a imprensa, sem dar um segundo de trégua em relação ao aumento do índice de criminalidade da cidade. Do outro, ocorreu um grave derramamento de 88 mil galões de óleo cru da BP no Golfo do México em 2010, que apesar de não trazer consequências ao local, colocou em risco esforços desenvolvidos até então. Uma pesquisa de opinião feita à época apontou que, entre outras más notícias, um terço das pessoas pretendia cancelar suas viagens ao destino, e 48% acreditavam que a comida do mar servida nos restaurantes seria contaminada pelo petróleo vazado.

Era preciso desfazer com urgência esta percepção. Um incansável trabalho de formiga desarmou com as mensagens corretas novos potenciais estragos. Deu certo. A vinda de turistas voltou a crescer. Passados dez anos, o número de visitantes não para de se ampliar, e já se equipara ao anterior ao Katrina.

 Agora, o mais interessante: o turismo de New Orleans é fruto do próprio esforço da indústria, pois não depende do governo. A sua receita provém de duas fontes principais. A primeira é a taxa de hospedagem cobrada nas diárias. A segunda é uma contribuição voluntária de 1300 estabelecimentos, não só hotéis, mas de todos associados ao turismo. Em complemento, os hotéis criaram uma terceira taxa entre eles, voltada a solucionar problemas de interesse comum. Como, por exemplo, ampliar a segurança dos turistas no French Quarter.

Agora, o mais interessante: o turismo de New Orleans é fruto do próprio esforço da indústria, pois não depende do governo.

O modelo de New Orleans deu tão certo que merece ser copiado. Basta dizer que no ano passado o destino recebeu 9.8 milhões de pessoas, 6% delas internacionais, e que gastaram 6.8 bilhões de dólares. Como principal ganha-pão do destino, o turismo gera 84 mil empregos.

Eis aí uma relação ganha-ganha para empresas e governo. “Cada dólar que aplicamos em marketing produz pelo menos 17 dólares em impostos”, festeja Kristian Sonnier.

Viagens & Negócios
por: Fábio Steinberg
https://blog.steinberg.com.br

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