““Não adianta falarmos de sustentabilidade do verde se a empresa não parar em pé”, afirma o VP de Design e Construção da Accor na América do Sul, Paulo Mancio
Por Zaqueu Rodrigues (com edição do DT)**
A cultura sustentável está renovando a construção de hotéis. O avanço tecnológico reflete-se em materiais cada vez mais alinhados com as demandas globais, aumentando a performance e reduzindo os impactos ambientais. “A cada dia encontramos soluções mais inteligentes para economizar. Hoje temos vários equipamentos que vão se aprimorando nos principais eixos de sustentabilidade”, avalia o VP de Design e Construção da Accor na América do Sul, Paulo Mancio em entrevista exclusiva ao DIÁRIO.
Mancio continua, apontando que as transformações representam um avanço muito grande para a hotelaria, pois os impactos são mais positivos tanto no meio ambiente quanto no setor financeiro. Para seguir nessa jornada rumo à hotelaria sustentável, ele explica que o primeiro passo é a sustentabilidade econômica. “Não adianta falarmos de sustentabilidade do verde se a empresa não parar em pé. Claro que essa cultura envolve uma cadeia toda, mas a primeira base, e digo isso com muita responsabilidade, é a econômica”.
“Não adianta falarmos de sustentabilidade do verde se a empresa não parar em pé. Claro que essa cultura envolve uma cadeia toda, mas a primeira base, e digo isso com muita responsabilidade, é a econômica”.
A sustentabilidade está presente na construção de hotéis sob as mais variadas perspectivas, ressalta ele, explicando que existem basicamente dois caminhos para erguer um hotel. “O primeiro é por meio do projeto greenfield, quando o hotel é construído do zero, do chão; já o segundo é o brownfield, quando um hotel nasce a partir de uma estrutura já levantada”.
Veja também as mais lidas do DT
Um exemplo do modelo brownfield é o conjunto de casas do histórico Largo do Boticário, no Cosme Velho (RJ), que abrigará o primeiro hotel Jo&Joe da Accor na América do Sul. “Estamos transformando uma joia do Rio de Janeiro em um hotel”, define Mancio, ressaltando que o processo de readaptação do edifício, que é tombado pelo Instituto Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural (Inepac), está preservando todas as características originais do complexo.
Toada do desenvolvimento
Mancio avalia que a construção civil no Brasil segue a toada de um país em desenvolvimento. Membro-diretor do Green Building Council, instituição que busca ampliar a sustentabilidade na construção civil, Mancio afirma que a cultura sustentável é uma consciência que a Accor vem construindo há muitos anos. “Há 20 anos a gente faz economia e reuso de água, economia de energia, tratamento de efluentes e de resíduos. A Accor estuda células voltaicas há 25 anos. Agora virou moda no Brasil, mas, quando eu dava aulas sobre células voltaicas, achavam que eu era louco”, lembra.
Energia solar
Ele conta que a utilização de energia solar nos projetos de hotéis da Accor é obrigatória há pelo menos 15 anos. As células de captação de energia solar nos telhados representam, como define Paulo Mancio, dinheiro de graça. E justifica na matemática: “Com a energia solar eu tenho uma economia de 30% no consumo de energia”.
A evolução dos materiais é primordial para a hotelaria, aponta Mancio, que recorre à didática acadêmica para explicar a evolução das lâmpadas. “As lâmpadas têm três gerações. A primeira foi a tradicional lâmpada com filamento, incandescente. Depois surgiu a PL, que tinha um gás em seu interior e era 20% mais econômica. Ela consumia menos energia e devolvia a mesma luminosidade da anterior. A terceira geração foi a lâmpada LED, que consome menos energia para fornecer a mesma luminosidade e com vida útil maior. “Enquanto a incandescente durava em torno de um ano e dois meses, o LED chega a durar cerca de oito anos. Hoje já estamos na quarta geração do LED”.
Ar condicionado: o vilão
O maior vilão no consumo de energia em um hotel é o ar condicionado. “É um dos pontos mais importantes da sustentabilidade. Na Finlândia, no Brasil, nos Estados Unidos ou na África do Sul, o maior vilão da energia é o condicionamento de ar. Na Finlândia será do frio para o calor; no Rio de Janeiro, do calor para o frio. Percebemos e começamos a dar foco nisso, pois o ar condicionado tem um grande impacto econômico. Em nossos hotéis, hoje utilizamos a melhor tecnologia de ar condicionado do mundo”, diz Mancio, destacando que essas tecnologias permitiram economias de até 40% num único hotel.
“Como temos ações no mercado de capitais de Paris, os compromissos da Accor com a sustentabilidade são formais”
O compromisso da Accor, reforça Mancio, é zerar a pegada de carbono até 2050. “Como temos ações no mercado de capitais de Paris, os compromissos da Accor com a sustentabilidade são formais. A Accor está acompanhando o mundo moderno e sustentável. Até chegar lá e zerar, temos metas parciais. A gente deseja alcançar 50% desse compromisso em 2030, o que é um trabalho gigantesco, pois há toda uma cadeia envolvida”. A eliminação de amenities dos hotéis Accor, por exemplo, é parte desse compromisso.
Tempo e qualidade de vida
Em um período de profundas transformações climáticas e comportamentais, Mancio ressalta que a moeda deixou de ser capital. “Hoje precisamos falar sobre tempo e qualidade de vida. Ambos estão conectados com as coisas mais importantes que a gente tem: a vida, a nossa família. Essa é uma reflexão que precisamos fazer neste momento. A pandemia foi um acelerador de várias reflexões e fenômenos humanos. Muita gente parou para pensar sobre o que realmente é importante em suas vidas. Agora a hotelaria precisa entregar um novo produto para essas demandas do mercado. A Accor está se mexendo muito acelerada nesse sentido. Ela está olhando para todas essas novas soluções de mercado e está tentando entregar isso tudo”.
*Leia a segunda parte desta entrevista na edição de quinta-feira (22)
**Zaqueu Rodrigues é jornalista colaborador do DIÁRIO