A História do Piloto Marcel Reine, e seus fiéis Cavaleiros do Céu

Continua depois da publicidade

Não é segredo que de fato, Antoine de Saint-Exupéry, autor do livro “O Pequeno Príncipe”,  Henri Guillaumet, Jean Mermoz e Marcel Reine tinham uma grande importância para a história da aviação francesa além de forte vínculo com o Brasil em seus primórdios, atuando como pilotos e cuja amizade prevaleceu nos ares.

por José Augusto Cavalcanti Wanderley*


Vamos hoje, contar a história de Marcel Reine, que antes de ser um excelente piloto comercial da Aéropostale (Compagnie Générale Aéropostale), começou sua carreira obtendo com sucesso o seu certificado militar no Centro de Formação de Avors, na França, em 1921. Em seguida, obtém a patente de piloto comercial na escola de aviação Morane-Saulnier, como instrutor. Mas foi somente anos depois, que de fato sua trajetória como piloto começa, onde conhece imaginem só, o já piloto Antoine de Saint-Exupéry, que viria a ser seu instrutor e futuro grande amigo e companheiro de trabalho.

Veja também as mais lidas do DT

Em dezembro daquele ano, Reine ingressou na Latécoère (futura Aéropostale) e consegue o brevê de piloto comercial. Foi no novo emprego nos anos seguintes que conheceu mais dois de seus grandes amigos, Jean Mermoz, Henri Guilaumet além é claro, de Antoine de Saint-Exupéry que falamos acima, recém-contratados na empresa de correio aéreo.

Após o período de aprendizado, foi designado para a missão Toulouse – Casablanca e depois Casablanca – Dakar. Marcel Reine também foi responsável para uma importante missão de resgate da tripulação de um hidroavião uruguaio, tendo a bordo inclusive, o mecânico chamado Rigol, um dos primeiros a tentar dar a volta ao mundo. Mas como nem tudo são flores, sua carreira também passou por percalços: Marcel Reine teve um acidente próximo a Cap Juby (hoje Tarfaya, Marrocos), onde ele e mais dois tripulantes foram capturados pelos mouros, em pleno deserto e terreno hostil. Os mouros sempre pediam resgate, e a negociação foi feita por ninguém menos que seu próprio amigo Antoine Saint-Exupéry, na época gerente da estação de Cap Juby da Latécoère, e que cuja habilidade para negociações era admirável, tendo recebido nessa época o apelido pelos próprios mouros de “Senhor das Areias”, período em que escreveu seu primeiro livro, “Correio Sul” em pleno deserto.

Marcel Reine com amigos (Foto: arquivo pessoal)

Reine também conseguiu outros feitos, quando foi designado para a América do Sul em 1929, no primeiro trecho que liga Buenos Aires a Assunção, depois ao Rio de Janeiro, e finalmente, Santiago do Chile, onde, assim como o piloto e companheiro Henri Guillaumet, realizou inúmeras passagens na Cordilheira dos Andes, fato este que fez Guillaumet receber o título de “Arcanjo dos Andes”.

Em Terras Petropolitanas

Marcel Reine também é muito lembrado por sua ligação com o Brasil, especialmente em Petrópolis, Itaipava onde adquiriu uma fazenda cujo nome passou a ser LA GRANDE VALLÉE. A fazenda era frequentada não só por ele mas também por seus “camaradas” pilotos que aproveitavam entre uma escala e outra no Rio de Janeiro, no Aérodromo do Campos dos Afonsos para descansarem na casa e desfrutarem da região calma e do clima agradável. Na fazenda, Reine tinha total liberdade para trazer suas amizades, fazendo cavalgadas, desfrutando de queijos e vinhos especiais de origem francesa, apesar de serem considerados fedorentos pelos poucos habitantes da região, embora fosse claro que eram os melhores queijos, além disso, usavam o tempo de descanso para desfrutar de seus discos de 78 rotações em Gramofones manuais. Reine inclusive, tinha profunda vontade de passar seus últimos dias em terras petropolitanas, onde disse com carinho sobre a LA GRANDE VALLÉE: “Um cantinho onde irei me retirar.”

Jean Mermoz (Foto: arquivo pessoal)

Quis o destino que Marcel Reine fosse abatido em 1940 por combatentes italianos envolvidos em uma batalha aérea contra os britânicos durante a Segunda Guerra Mundial, quando em missão de transportar o novo alto comissário da França, Jean Chiappe. Seu heróismo voando pelo seu país em importantes missões foi reconhecido com mais de 8 títulos honoríficos devido as suas contribuições em missões aéreas em tempos de paz e guerra.

Importante destacar que Henri Guillaumet e Jean Mermoz foram outros cavaleiros que desapareceram em missões, Guillaumet no mesmo ano de Reine, em 1940 e Mermoz em 1936. Jean Mermoz inclusive, desapareceu no dia em que completava sua 25ª travessia do Atlântico Sul, feito que é muito lembrado até hoje por sua bravura em atravessar comercialmente a rota Senegal a Natal no Brasil, fato este que reforça mais uma vez a ligação dos pilotos com nosso país, e que lhe foi dado o título que o faz ser conhecido como “Arcanjo do Atlântico”. Já Antoine de Saint-Exupéry, morre em 1944, abatido em combate contra as tropas alemãs durante a Segunda Guerra Mundial. Os restos de seu avião, um P-38 Lightning, e uma pulseira com o nome do piloto e o da mulher, Consuelo Suncin gravados só foram encontrados no Mar Mediterrâneo 54 anos após sua morte. Interessante, é que os quatro morreram da mesma maneira: Fazendo o que mais gostavam que era voar.

Saint-Exupéry (Foto: arquivo pessoal)

Oportunamente, iremos compartilhar por aqui também as histórias e triunfos dos demais Cavaleiros do Céu!


*por José Augusto Cavalcanti Wanderley com a gentil colaboração da jornalista Nicole Vieira

Publicidade

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Recentes

Publicidade

Mais do DT

Publicidade