A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – ABIH Nacional, juntamente com a ABIH PE e representantes do trade de turismo de Pernambuco, se posicionaram contrários à instalação de um enorme complexo turístico no terreno conhecido como a Casa do Governador, localizado em Porto de Galinhas, no litoral sul de Pernambuco. O projeto prevê a construção de dois hotéis com 1.000 unidades habitacionais, além de flats e unidades de lazer, numa propriedade de 70 hectares, cuja a posse é do Estado e da União.
EDIÇÃO DO DIÁRIO e agências.
Desde 2001, o assunto vem sendo discutido pelo trade turístico e a comunidade de Porto de Galinhas que são unânimes em afirmar que o projeto é inadequado para a região. Em 2006, quando o grupo português Teixeira Duarte adquiriu o terreno através de leilão, os problemas ficaram ainda mais sérios, envolvendo diversas questões judiciais.
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Hoje, após diversos embargos na justiça, o posicionamento dos representantes do trade no balneário continua o mesmo. Para o presidente da ABIH Nacional, Manoel Linhares, a região já oferta cinco mil leitos, em mais de 20 hotéis e 200 pousadas, e o ideal seria usar o espaço com outras finalidades.
“Porto de Galinhas é hoje um case mundial que vem sendo trabalhado há mais de 30 anos quase que exclusivamente pela hotelaria e empreendedores do turismo local. Hoje, recebe um milhão de turistas por ano, sendo que 70% nacional e 30% estrangeiros. O governo do estado poderia, por exemplo, criar um centro de lazer com diferentes equipamentos turísticos para aumentar as opções de entretenimento e, consequentemente, o tempo de permanência do viajante no destino”, ressaltou Linhares.
No projeto apresentado um dos itens causa ainda maior polêmica: uma área é destinada para implantação de flats e condomínios. “Esse tipo de empreendimento é de extremo risco, pois gera diversos problemas aos destinos turísticos, como a super oferta de leitos e o não recolhimento de tributos ao município. É preciso destacar ainda que a instalação de flats, num local que deve ser utilizado com o viés do desenvolvimento sustentável, certamente irá descompensar o equilíbrio da indústria hoteleira que vem se instalando há décadas com competência, coerência e previsibilidade, e não servirá sequer como impulsionador do turismo e gerador de emprego, pois os flats geram apenas um décimo dos empregos criados pelos hotéis”, explica Otaviano Maroja, vice-presidente do Porto de Galinhas Convention & Visitors Bureau.
Para ele, o balneário que recebe turistas do Brasil e do mundo, com permanência média de sete dias, necessita de atrativos turísticos e de um centro que suporte tal demanda. “A área poderia ser utilizada também para expansão da Vila, que hoje se encontra congestionada. Precisamos lembrar que o local é uma área estratégica para o desenvolvimento consistente e durável do destino turístico de Porto de Galinhas, sendo a última área de grande porte existente, então precisa ser muito bem utilizada”, comentou.
Além disso, os representantes do setor de turismo destacam que a atual infraestrutura da região é outro impasse para o desenvolvimento de um empreendimento de tamanho porte. “Porto de Galinhas oferece belíssimas praias, ótimos restaurantes, hotéis de alta qualidade, mas ainda temos dificuldade com saneamento básico, limpeza urbana, vias de acesso, segurança e iluminação pública. São diversos gargalos que Porto enfrenta e, sem dúvidas, isso pode ficar ainda mais sério com a construção de um espaço que vai aumentar ainda mais o número de leitos na região. É muito importante que haja o debate aberto entre o poder público, as entidades de classe e a iniciativa privada de forma que possamos encontrar a melhor solução para uso da área”, afirma Artur Maroja, presidente da ABIH/PE.
O presidente nacional da ABIH ressaltou ainda que projetos como esse podem incentivar um turismo predatório e inviabilizar comercialmente diversos hotéis, pousadas e resorts da região, ressaltando que há outras formas de se utilizar o local, mas com o objetivo de atrair mais turistas qualificados para a região. “Já foi sinalizada à Embratur, o interesse de empresas em instalar um parque temático no local. É preciso ter planejamento, estratégia e estimular o turismo na região através de iniciativas coordenadas e não aumentar a oferta turística da forma irresponsável que está sendo proposta. O problema se agrava mais quando o local escolhido é cercado de polêmicas e processos judiciais”, finalizou Linhares.