Nada confortável passar, ano após ano, sob a miragem de um país do futuro, com seu potencial enorme entregue a sono profundo. E enquanto isso, outros destinos menos dotados de recursos naturais se reinventam para o turismo e alcançam resultados econômico-sociais de notória relevância. Aqui a percepção das políticas governamentais ainda se baseia num Brasil dos cartões postais – nostálgico e contemplativo. E isso, os olhos (e os dólares) do mundo não compram.
(CONSELHO EDITORIAL DO DT)
Duas publicações recentes, deste mês de setembro, ensejam reflexões sobre o tema, sob recortes diferentes e complementares. Uma das matérias saiu na revista Veja (12/09/2018), sob o título metafórico “Gigante Adormecido”. A outra, assinada pelo DIÁRIO, intitulada “Presidente da Achet apresenta números do turismo do Chile” a partir de palestra de Guillermo Correa, presidente da Associação Chilena de Empresas de Turismo (Achet), ocorrida no último dia 03, na cidade de Valdivia, centro sul do Chile. Tema: “Escenário actual de La Indústria del Turismo e los viajes”. O DIÁRIO participou como única mídia brasileira convidada.
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A matéria da Veja sustenta que o nosso potencial é extraordinário, mas urge mudar o modo de vender o país mundo afora. Em vez de estereótipos, temos de oferecer facilidades e vantagens comparativas. Cita exemplos da África do Sul e da Costa Rica, que investem em sustentabilidade e zelam pela diversidade. Lembra que o Brasil ocupa a metade do território sul-americano, mas recebe apenas ¼ dos turistas estrangeiros no Continente.
Já a reportagem do DIÁRIO DO TURISMO se abastece de dados com a maior autoridade do turismo chileno, Guillermo Correa. Mostra a retomada econômica do país, a partir de 2017 – um traço distintivo em relação a todas as demais nações do Cone Sul. O dirigente analisa o cenário global e admite que, em se tratando do Chile, “a única ameaça que pode interferir nesse crescimento é um eventual embate entre Estados Unidos e China”.
Ao mostrar números do turismo, Correa diz que a Achet vende 90% de todos os pacotes de viagens, por meio de suas agências e operadores. Gráfico aponta que em 2007, a movimentação aérea era de 4.91 milhões de passageiros internos e 4.10 milhões internacionais. Em 2017, os voos domésticos saltaram para 11.6 milhões e os internacionais para 10.7 milhões de passageiros.
A evolução dos resultados chilenos entre 2024 e 2017, em número de chegadas de turistas internacionais, é auspiciosa. Se em 2014 o país recebeu 3,6 milhões de visitantes, em 2017 atingiu 6.4 milhões. Com as previsões otimistas para 2018, o Chile ultrapassa o Brasil em número de turistas estrangeiros. E hoje já vive um momento de pós revolução digital, com foco em “mudança de pensamento estratégico para reimaginar e reinventar o negócio em si mesmo”, assegura Guillermo Correa.
O desempenho do turismo chileno e o painel crítico exposto na matéria da Veja nos remetem ao cenário político do Brasil, que em alguns dias elege o novo presidente da República. Teremos como sair do campo das promessas para um engajamento prático na causa do turismo brasileiro? Será que basta a chamada vontade política, desprovida de planejamento, organização, capacidade empreendedora? Teremos como adotar um posicionamento acima de ideologias e regionalismos atrasados?
Que o próximo mandatário do país perceba o turismo como Questão de Estado – e não um mero apêndice da economia. Que orçamentos compatíveis sejam geridos por profissionais competentes, à luz de diretriz orientada por uma política nacional do turismo. E que se compreenda, em definitivo, que o turista contemporâneo não quer voltar pra casa com malas de bugigangas, mas com um repertório adorável de histórias vivenciais pra contar.
Que o país da cordilheira, com todas suas limitações geográficas e climáticas nos sirva de inspiração!
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