Agentes de viagens dão sua opinião sobre o caso 123 Milhas

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A agência de viagens digital 123 Milhas anunciou na sexta-feira, 18, em seu site, que suspendeu temporariamente os pacotes com datas flexíveis e a emissão de passagens promocionais. 
Ela prejudicou e vai prejudicar milhares de consumidores que já haviam contratado e pago pelo serviço para viagens entre setembro e dezembro de 2023. Ela segue o rastro do Hotel Urbano – Hurb, que em maio deste ano arranhou totalmente sua reputação com cancelamentos de reservas de hotéis e pacotes. 
por REDAÇÃO DO DIÁRIO 

O Ministério do Turismo já acionou o Ministério da Justiça e Segurança Pública para que, por meio da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), avalie a instauração de um procedimento investigativo que esclareça as razões de tais cancelamentos, identifique todos as pessoas atingidas e promova a reparação de danos a todos os clientes prejudicados.

O DIÁRIO ouviu a opinião de três agentes de viagens e fez a eles duas perguntas: O que leva uma OTA (Agência Travel Online) à essa situação lamentável de destruir sonhos e projetos, deixando passageiros no chão, por meio desses cancelamentos?. 

Qual o segredo para uma agência de viagem atuar no mercado consumidor, ter lucro, atender a clientela satisfatoriamente e sobreviver a crises econômicas?

Lucia Helena de Jesus, da Lual Turismo: “Emprestando dinheiro” 
Lúcia Helena de Jesus, da Lual Turismo
Lúcia Helena de Jesus, da Lual Turismo (Foto: arquivo pessoal)

Para Lúcia Helena de Jesus, da Lual Turismo, o que essas empresas digitais fazem é pegar dinheiro adiantado e devolver depois, correndo o risco disso não acontecer. “Acredito que isso aconteceu porque elas (OTAs) fazem coisas absurdas, que não tem como cumprirem. Como é que uma pessoa vai vender um aéreo, para daqui a dois anos, se nem a companhia aérea tem ainda? 

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“Quando aconteceu com a Hurb, foi a mesma coisa. Eu falei para os clientes: “Olha, você está emprestando seu dinheiro para eles, eles vão só devolver o seu dinheiro depois”. E foi justamente isso que aconteceu. Muitos clientes compraram com eles e alguns não tiveram seu dinheiro de volta”.

“Quando aconteceu com a Hurb, foi a mesma coisa. Eu falei para os clientes: “Olha, você está emprestando seu dinheiro para eles, eles vão só devolver o seu dinheiro depois”.

“Tenho minha agência há 13 anos. Então, quando as operadoras se apresentam para as agências, para negociar e vender, elas demonstram e provam que estão no mercado há muito tempo e mostram o que fazem. Para aí fecharmos o negócio. Mas já aconteceu de operadoras bem conceituadas no mercado que faliram e as agências de viagem, os agentes, tiveram que pôr do bolso, ficaram sem saber o que fazer. Então, é preciso saber bem com quem você vai trabalhar, que seja confiável”. 

Paraquedistas

“Eu acho que a primeira coisa que uma agência tem que ter é não ser paraquedista. Tem muito paraquedista no mercado, que se torna grande muito rapidamente. São “práticas” não convencionais, do tipo: “escrever primeiro, para pagar depois”. Então, eu acho que em qualquer negócio, você tem que ter um bom capital de giro e eu acho que quem quebra bastante as empresas são os bancos brasileiros, essa é a minha opinião pessoal. Deve haver um equilíbrio entre entradas e saídas. É muito estranho uma agência de viagem que vende 1 milhão em bilhetes aéreos, mas tem um faturamento de 70 mil”.

Willian José Perico, da Wings Turismo: “Não se brinca com o sonho das pessoas”
William José Perico, da Wings Turismo
William José Perico, da Wings Turismo (Foto: arquivo pessoal)

William José Périco é Sócio-diretor da Agência Wings, de Rio Claro, SP. Sua empresa, com mais de 40 anos jamais brincou com os sonhos das pessoas.

“Como profissionais de turismo ficamos tristes em ver essa situação da 123milhas. A minha empresa tem 40 anos e nós nunca tivemos um processo de 1 passageiro, porque temos como norma oferecer ao nosso cliente, uma coisa que seja possível. Não se brinca com sonhos. A gente têm que adequar o recurso dentro da possibilidade de tempo. Então, o que eu vejo com essas OTAs é que as pessoas que trabalham a mais tempo com turismo sabiam que isso ia acontecer um dia. Não “existe almoço de graça”, correto? 

Não se brinca com sonhos. A gente têm que adequar o recurso dentro da possibilidade de tempo.

Qualidades inerentes

“Creio que uma empresa, para sobreviver no mercado, tem que ter qualidade da prestação de serviço, bom relacionamento com os fornecedores e com os clientes, muita seriedade, e uma boa prestação de serviço. Porque com isso, você consegue fazer uma venda de baixo custo, mas com qualidade e mostrar para o passageiro justamente o que ele vai encontrar. Graças a Deus, estamos aqui, mesmo depois de pandemia, de crises, a gente continua de portas abertas e não deixando de atender o cliente, não deixar o cliente no chão”.

Alan Veiga – Sócio-diretor da AV Viagens e Turismo: “Não trabalhar com o dinheiro do cliente”

Alan Veiga, sócio-diretor da AV viagens e Turismo, de Marabá
Para o sócio-diretor da AV Viagens e Turismo, de Marabá (PA), Alan Veiga, a aposta em um modelo de mercado como este, no foco em quantitativo de venda, acaba ficando insustentável. “Essas OTAs se baseiam em teorias errôneas de que os valores vão baixar, e com a realidade vindo à tona, totalmente contrária ao que eles apostaram, são obrigados a “colocar dinheiro do bolso”, comenta. Segundo Veiga, isso pode até resolver momentaneamente, mas como o volume de venda dessas OTAs é enorme, era evidente que uma hora não iam aguentar mais, restando assim, a atitude que tomaram de não honrar os contratos!
 
Alan adianta que para que uma agência se sustente no mercado é necessário focar na qualidade dos seus serviços e na satisfação plena de seus clientes. “É imprescindível que não faça negócios apostando em perspectivas futuras, principalmente no que se diz respeito a Valores!”, pontua.
 
“Trabalhar com o valor correto, emitindo no ato, sem trabalhar com o dinheiro do cliente”, reforça. “Nem sempre a agência terá o menor preço, pois a tarifação é feita pelas Companhias aéreas, mas pelo menos não haverá riscos de prejuízos nem para a agência, e muito menos para o cliente, o que é mais importante!”, analisa. 

 


Por Caroline Figueiredo – repórter do DT.

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