A série ‘Entrevistas Presidenciais’, do DIÁRIO, ganha em sua galeria de entrevistados Alceu Vezozzo Filho, presidente da Rede Bourbon de Hotéis & Resorts. A organização hoteleira nasceu na cidade de Londrina, norte do Paraná, em 1963, pelas mãos do patriarca, Alceu Vezozzo. Quase seis décadas depois, já desponta no conglomerado familiar o jovem Antônio Antimo Vezozzo, 20 anos, que segue os passos do avô e do pai, Alceu Vezozzo Filho. A presente entrevista foi concedida por telefone, ao editor do DIÁRIO, jornalista Paulo Atzingen.
DIÁRIO – Alceu, qual foi seu chamado para a hotelaria? Onde, quando e por quê?
Nasci e cresci dentro de um hotel. Tem um lado que me encanta, que é, em última instância, tratar de pessoas. Um meio de hospedagem é um local onde você abriga as pessoas, por diversos motivos. Mas o abrigar, o acolher, o proporcionar a elas algo bom como experiência, esse é o X da questão. E isso é o que me atraiu muito, desde criança – a satisfação de bem receber.
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Nesse meu negócio, antes do dinheiro, vem servir bem. E você ganha um bom dinheiro, ao servir bem, em primeiro lugar. O mal da hotelaria moderna é que parte dos investidores olha o negócio como uma caixa registradora, antes mesmo de servir. Não entende que esse negócio dá dinheiro, mas o sucesso financeiro vem depois de servir bem. Essa evolução provoca uma mudança, que a meu juízo deve ser a origem natural desse business.
DIÁRIO – Fale da sua formação e o impacto dela na atividade que exerce.
Cursei engenharia Civil pelo Mackenzie. Depois fiz administração hoteleira, na University Massachusetts, EUA. A engenharia ensina a olhar um projeto hoteleiro e enxergar a execução da construção. Posso dizer que a engenharia me ajudou muito. Eu conheço de projeto de construção civil, e um bom projeto é chave para uma boa operação hoteleira.
Qual o problema recorrente na hotelaria brasileira? Projetos arquitetônicos que, na hora em que são executados, dificultam a boa operação do hotel e do resort. Às vezes falta o depósito. Ou faltam partes do prédio. O famoso erro de projeto hoteleiro, quem aprova não sabe.
DIÁRIO – Há males que vêm para bem, diz o ditado popular. A pandemia trouxe algum benefício para a rede Bourbon? Qual foi o maior aprendizado?
Eu, naturalmente, sou uma pessoa otimista. E creio que esse tsunami teve semelhança com uma terceira guerra mundial. Só que é uma guerra contra um bicho invisível. Eu acredito que a pandemia C-19 esteja controlada, dominada, em números cada vez menores. E isso nos dá uma visão ainda mais otimista. Por três vezes nós conseguimos levantar voo e abortamos a tentativa, em 2020, 2021 e no início de 2022.
A partir do meu otimismo, calculo que a hotelaria ganhou um grande ensinamento, trazido por esse autêntico terremoto. E esse ensinamento se estende à indústria brasileira, no seu todo. Tivemos de reaprender a consumir menos mão de obra e entregar a mesma coisa que se entregava antes da pandemia. Qual a grande lição disso? O negócio hoteleiro do Brasil tornou-se mais lucrativo. Que paradoxo! Na desgraça, você tem o ensinamento que mudou o drive.
DIÁRIO – Pode-se deduzir, então, que antes da pandemia empregava-se mão de obra em excesso?
A redução de pessoal foi geral, na hotelaria brasileira e mundial. Por comparação ou analogia, quando se consegue aprender a comer menos, mantém-se a saúde sem a necessidade de comer mais. Sempre se gastou mais mão de obra do que se precisava. E a lição veio com a pandemia. Aquele hoteleiro consciente, que soube aprender com a pandemia, o seu negócio tornou-se mais lucrativo.
DIÁRIO – O senhor acredita que as pessoas mudaram, ficaram mais atenciosas e solícitas?
O homem tornou-se mais digital. O comércio eletrônico e a venda online explodiram. E as pessoas aprenderam a ser cada vez mais individualistas. Um simples smartphone resolve a solidão do cara. As pessoas continuam as mesmas, eu acho, mas elas aprenderam a ser mais solitárias. No seu universo de isolamento de covid, aceitaram a solidão.
DIÁRIO – Além da diminuição da carga tributária, como o senhor acha que o governo pode colaborar com a iniciativa privada, em especial com a hotelaria nacional?
A situação é extremamente complexa. Por quê? O nosso querido Brasil é um carro beberrão de gasolina, um Maverick antigo, que fazia dois quilômetros por litro. Eu acho que Bolsonaro tem o mérito de não ter gasto tanto dinheiro e não esbanjou. Eu vi a conclusão das obras de transposição do Rio São Francisco. Acompanho a construção da nova ponte que ligará o Brasil e o Paraguai na cidade de Foz do Iguaçu, prevista para ser inaugurada em 2022, ao lado do Marco das Três Fronteiras. E, também, as obras da nova rodovia perimetral de Foz do Iguaçu. O fato é que sou um pouco cético quanto a mudanças da carga tributária. Talvez até aconteça.
A hotelaria brasileira foi contemplada com uma benesse para ajudar ase recuperar dos grandes prejuízos. O PERSE – Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos – prevê cinco anos de isenção dos quatro impostos federais. Isso, sim, foi um alento concreto recebido agora recentemente. Fora isso, não recebermos nada, sequer uma linha do Fungetur.
DIÁRIO – Quais os planos para o futuro da rede Bourbon? Novos modelos de administração? Joint Venture com alguma multinacional? Aquisições?
Você consegue fazer planos de médio e longo prazo no Brasil? O Brasil é uma caixinha de surpresas. O que eu enxergo, para nós, da Bourbon? Temos algumas boas oportunidades, estamos trabalhando para a expansão da rede, que já se aproxima de 4 mil quartos. Já é uma das 10 maiores do país.
Nós vamos crescer, continuar crescendo, mas não quero inchar. Quantidade não é qualidade. Temos colegas que acham importante crescer em quantidade. Eu não, quero qualidade. Continuaremos crescendo, somos a cadeia hoteleira mais antiga. do brasil. Somos uma jovem senhora 60 anos.
Precisar números, o Brasil não permite. No entanto, vamos crescer de uma maneira organizada, sempre com foco na nossa cultura, bom atendimento, limpeza dos ambientes, estrutura predial em perfeito estado. Essa é a cultura da Bourbon, que hoje conta com cerca de dois mil funcionários diretos.
DIÁRIO – O que o senhor diz sobre a sua equipe de colaboradores?
Eu tenho um time com o qual me envolvo diretamente. Um time de executivos sensacional. Dou um valor especial à área de Recursos Humanos. Meus colaboradores, costumo dizer, são minha matéria-prima.
DIÁRIO – Ciudad del Este, Assunção e Buenos Aires. Existem planos de expansão no mercado sul-americano?
Há outras oportunidades, sim, porque somos a única companhia brasileira hoteleira internacional. Isso nos ensinou a atuar fora do Brasil, o que não é fácil. Oportunidades estão chegando e elas serão aproveitadas, a curto, médio e longo prazo.
DIÁRIO – No início de agosto de 2021 vocês inauguraram o Rio Hotel By Bourbon da Barra Funda, em São Paulo. Nossa repórter Mary Ellen escreveu o seguinte: “Durante a entrevista exclusiva ao Diário do Turismo, o telefone toca. Do outro lado da linha está o pai Alceu Vezozzo, querendo saber se tudo havia corrido bem”. O senhor pode descrever a importância de Alceu Vezozzo pai para a rede Bourbon?
Foi o grande mentor, o grande professor e inspirador da rede que nós somos, hoje. A nossa cultura, o nosso modo de trabalhar, as nossas atitudes – ele sempre foi e sempre será a nossa maior referência.
Rede Bourbon
A Rede Bourbon possui 59 anos de mercado, 22 empreendimentos espalhados pela América Latina, cerca de 5 mil quartos e mais de 41.000 m² em espaços para eventos e convenções além de uma reconhecida expertise para atender os mais variados eventos (congressos, feiras, exposições, coquetéis e eventos sociais) e aos públicos mais exigentes. Presente em 3 países (Brasil, Argentina e Paraguai), 9 estados e 18 cidades, com um total de mais de 5 mil acomodações confortavelmente equipadas.
Sob o comando de Alceu A. Vezozzo Filho, a Rede Bourbon atende a todos os segmentos de hospedagem com um completo portfólio de categorias e marcas, classificadas de acordo com o perfil de cada empreendimento.
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