Alexandre Sampaio, presidente da FBHA: “Falta articulação política, compromisso em eleger representantes para o setor”

Continua depois da publicidade

Alexandre Sampaio dispensa apresentações. Ele é o segundo entrevistado da série Entrevistas Presidenciais do DIÁRIO iniciada em fevereiro com Paulo Kakinoff, presidente da GOL. Este espaço é dedicado àqueles executivos que compreendem sua atividade de forma macro e contextualizada, mas que, paradoxalmente, possuem um conhecimento agudo, profundo, daquilo a que se propõem liderar e conduzir.

EDITORES DO DIÁRIO

É o caso de Sampaio, que transita sobre temas contemporâneos, que fazem parte do métier das entidades em que atua. Nesta entrevista, Alexandre fala de vários assuntos (Pandemia C-19, Reforma Tributária, Eleições 2022, ações regionalizadas, EaD) e um que se destaca é o papel do trade turístico na definição de políticas para o setor. Sem rodeios, ele vai direto ao ponto: “Nunca o trade conseguiu convencer com argumentos válidos o quanto o turismo é importante. Falta articulação política, compromisso em eleger representantes e empresários de grande porte dispostos a comandar um movimento neste sentido”, afirma.

Esses e outros assuntos, uns menos outros mais importantes da pauta do turismo brasileiro são apresentados abaixo, na entrevista conduzida pelos jornalistas Gabriel Emídio e Paulo Atzingen, acompanhe:

Veja também as mais lidas do DT

Com base na sua experiência, conhecimento e ‘feeling’, a taxa de otimismo geral maior, em 2022, tem fundamento?

Esta resposta depende de muitos fatores e varia bastante de acordo com a região do Brasil, mas vamos concentrando-nos, portanto, apenas no mercado de hotéis e restaurantes. Ainda neste verão, os destinos de praia, apesar da Ômicron, estão com boa ocupação, mesmo com restrições impostas por algumas prefeituras. Já as capitais de beira mar estão bem, especialmente as do Nordeste. Na mesma situação encontram-se as cidades de fronteira agrícola e as ligadas a polos industriais, de mineração, off shore petrolífero e geração de energia. A propósito, o setor de alimentação fora do lar tende a acompanhar também esta linha de raciocínio. Temos observado, ainda, que as expectativas estão melhorando para os municípios que têm tradição na captação e realização de eventos e negócios, como São Paulo, por exemplo. Apesar da inflação e do ano eleitoral, a primeira quinzena de março tende a ser aquecida para os empreendimentos destas regiões. Em resumo, estamos nos recuperando, sim, até porque a base de comparação sobre 2021 é melhor neste comparativo do que no ano passado.

Na esteira da ‘taxa de otimismo’, o que se pode antever no comportamento do varejo, em 2022?

Uma taxa de otimismo maior dependerá de como a pandemia do SARS-COV2 se comportará e da adoção de políticas públicas que minimizem os seus efeitos na economia do Turismo. Por se tratar de um ano eleitoral no Brasil, tal tema se traduz em variável determinante para a construção de um cenário otimista.

Pandemia C-19: o gosto amargo da crise econômica, social e política, no Brasil, induziu à busca de alternativas inovadoras, por parte da CNC?

Sim. A atuação institucional da CNC junto aos poderes constituídos foi customizada e intensificada, com a finalidade de amenizar os efeitos da crise sanitária no comércio de bens, serviços e turismo.

Quais os pontos essenciais da agenda relativa ao Sistema Terciário brasileiro, em 2022?

A necessidade de uma urgente Reforma Tributária, tornando o sistema de tributos mais justo e equilibrado, além da adoção de políticas públicas que fomentem o Turismo Nacional. Obviamente, isso passa por um conjunto de medidas que compensem as perdas experimentadas na pandemia.

O grau elevado de endividamento do brasileiro, acrescido da inflação alta e desemprego, reduz a expectativa otimista para a indústria do turismo nacional?

A consecução ou não desses cenários dependerá do desfecho político neste ano eleitoral, bem como do grau de apoio do Congresso ao governo, no que diz respeito à necessidade de uma Reforma Tributária, bem como a adoção de medidas que minimizem os impactos da pandemia no setor turístico, que indiscutivelmente foi o mais afetado na economia brasileira.

Perto de completar 77 anos de fundação, a CNC apontaria medidas econômicas e administrativas indispensáveis, por parte do governo, para proteger a indústria do turismo brasileira?

Já está sendo feito isto com nosso projeto em curso “Vai Turismo”, que discute com ampla participação da comunidade empresarial do turismo em todo o Brasil uma série de propostas que visam sensibilizar candidatos aos cargos proporcionais ou majoritários nos Estados e na União. Na prática, a intenção é que constem nos programas partidários aspectos relevantes de nossa atividade. A CNC, com o objetivo de defender os setores de comércio e serviços, propõe uma ampla discussão destes segmentos igualmente fundamentais ao Brasil, o que propiciará uma integração plena dos serviços no país.

Qual a importância do projeto ‘Vai Turismo’?

Como foi amplamente difundido, a estratégia é interagir regionalmente com o empresariado por meio dos conselhos de turismo das Fecomércios nos 27 estados, além do Distrito Federal. Queremos também ouvir a sociedade organizada, atores partícipes e setor público quando convidado (decisão que cabe às federações do comércio em cada unidade da federação). Tudo baseado na metodologia que leva em conta o ambiente ESG e a ótica dos destinos turísticos inteligentes – ambos amparados em consultoria internacional contratada especialmente para este fim. Não esqueçamos que as entidades nacionais empresariais que fazem parte do Cetur (Conselho de Turismo) da CNC terão papel crucial em conciliar este arcabouço.

Considera viável, no curto prazo, a massificação da oferta de EaD a jovens, no nível médio, direcionada à profissionalização?

É uma tendência inexorável, mas não adianta massificar o EaD, sem que haja a possibilidade de absorção da mão de obra daí resultante, o que passa pelo fortalecimento dos players do turismo. Outro ponto a ser destacado é que a profissionalização deve ocorrer em paralelo à retomada do ensino de base.

“O papel do Sesc é muito importante, porque além de prover em quase todo o Brasil ensino médio e fundamental presencial e também remoto, integra a família brasileira” (Crédito: Alexandre Sampaio)

Os gigantes SESC e SENAC estão preparados para coordenar um amplo mutirão, no que se refere à educação dos jovens?

O papel do Sesc é muito importante, porque além de prover em quase todo o Brasil ensino médio e fundamental presencial e também remoto, integra a família brasileira, com assistência ao idoso (qualidade de vida, inserção social, saúde, etc), também desenvolve atendimento médico, dentário, serviços à mulher, além de manter uma série de hotéis e centros de lazer para os comerciários associados espalhados em todo o território brasileiro. O programa Mesa Brasil é um exemplo único de cuidados com os menos atendidos, população em risco alimentar e desvalidos da nossa população, não se esquecendo da divulgação do esporte de alto nível para nossos jovens e amplo programa cultural na literatura, artes cênicas e música.

O Serviço Nacional de Aprendizado do Comércio (Senac) também é uma referência mundial na educação profissional, com enorme variedade de cursos nos mais distintos campos da atividade do comércio, serviços e turismo, presencias e EAD, com inúmeras medalhas em competições mundiais, com formação, rápida e de capacitação técnica, chegando inclusive à graduação superior e pós. Ressaltamos que a maior parte de nossa grade está no PSG (Programa Senac de Gratuidade), além da disponibilidade igualmente para cursos in company e sob medida para nossos empresários qualificarem seus colaboradores. O banco de profissionais egressos do Senac é a procura imediata de nossos empreendedores quando enveredam em novos negócios e precisam de funcionários treinados e qualificados. Por isso, o desafio proposto pelo Ministério do Trabalho, neste novo programa de inserção dos jovens e idosos para postos de trabalho, não pode prescindir do Senac e Sesc

Política de Governo x Política de Estado, no setor do turismo: como analisa essa dicotomia tão antiga, porém pouco alterada, no passar dos anos?

O problema é que nunca o trade conseguiu convencer com argumentos válidos o quanto o turismo é importante. Falta articulação política, compromisso em eleger representantes e empresários de grande porte dispostos a comandar um movimento neste sentido. Esperamos que o documento do “Vai Turismo” ressalte junto aos eleitos esta percepção da grandeza dos benefícios advindos desta escolha.

A despeito de erros e desacertos na condução do país, que ações pertinentes, oportunas e viáveis apontaria, em relação à recuperação da indústria de serviços, em geral?

Um fato inquestionável é que somos um país de grandes riquezas, mas também com grandes diferenças sociais, educacionais e regionais. Temos miséria, comunidades com grande índice de criminalidade perto dos atrativos turísticos, falta de saneamento básico, dificuldade nos transportes públicos, poucos falam inglês, investimentos em sinalização turística incipiente e muita corrupção. A velha máxima é a pura verdade, quando a administração pública é boa para a população, o turismo se desenvolve. Temos todos os atrativos naturais, grandes cidades que atraem eventos, congressos e seminários, mas faltam políticos comprometidos com o bem de todos. Se elegermos bem, talvez o turismo evolua.

Qual o papel das pequenas e microempresas, no processo de fortalecimento da área de serviços?

As MPEs, EPPs e MEIs têm um papel fundamental no nosso segmento. O Sebrae tem números e pesquisas que comprovam isso. São as que mais empregam, incorporam tecnologia e geram desenvolvimento em áreas que necessitam de empreendedorismo.

Tomara que os próximos governos a se elegerem atentem-se para as pequenas empresas na área de serviços. Elas são, por exemplo na Itália, o fator que faz a diferença na economia.

A CNC, enquanto entidade sindical, busca aumentar a representatividade no Congresso Nacional, especialmente nas eleições de 2022?

As entidades sindicais estão vedadas, pela legislação, a qualquer interferência no processo eleitoral. Assim, esperamos que os melhores e os mais engajados com a retomada do Turismo sejam eleitos.

Enquanto presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), como a entidade se posiciona em relação ao IRRF nas remessas financeiras ao exterior?

Apesar de não representarmos agências de viagens na FBHA, achamos justo o pleito da adequação desta tributação em parâmetros racionais.

A união das chamadas ‘forças vivas’, representadas pelas entidades setoriais do turismo brasileiro, é para valer ou ainda tem muito de retórica?

No Conselho de Turismo da CNC, temos um exemplo real desta política de sinergia entre as entidades. Somos vinte e seis representações de todo o espectro do turismo nacional, convivendo harmonicamente em prol do nosso segmento

O fortalecimento do turismo doméstico, mesmo que induzido pelas limitações impostas pela pandemia C-19, contribui para a melhora do receptivo nacional, na perspectiva de voltar a receber viajantes estrangeiros?

Sem dúvida, preservou grande parte das empresas de turismo que sobreviveram à Covid-19 e amadureceu o empresariado nacional para voltar a receber estrangeiros.

Acrescente, por gentileza, conteúdos relevantes não alcançados pelas perguntas.

Precisamos atrair provas ou etapas internacionais de grandes competições e circuitos esportivos do mundo para nosso país. Eles garantem audiência global, podendo, nestas transmissões, divulgarmos o Brasil para o mundo.


Quem é Alexandre Sampaio
Empresário com mais de 39 anos de atuação no mercado hoteleiro carioca e fluminense, Alexandre Sampaio é presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA) e também do Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade da Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Cetur/CNC), que reúne mais de 20 entidades associativas empresariais do turismo, além de representantes do turismo nas Federações do Comércio nos estados.
Sampaio é ainda membro do Conselho Nacional de Turismo do Ministério do Turismo; coordenador do Comitê Brasileiro de Normatização em Turismo (CB54), órgão de planejamento, coordenação e controle das normas relacionadas ao Turismo da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Com formação em Ciências Contábeis, Sampaio foi presidente do SindRio entre 2002 e 2010, quando assumiu a presidência da FBHA.

Publicidade
  1. O nosso trade turistico é muito desunido, não tem espaço para amadores, não existe união no setor, cada um pensa exclusivamente no seu bolso ou na sua empresa, existe muita desconfiança em nosso mercado do turismo, infelizmente ainda somos amadores não vamos sair nem tão cedo desta crise.
    Quando existe união em qualquer setor tudo fica facil de melhorar, mas no turismo de maneira geral, muito dificil de algo de bom acontecer.

  2. O nosso trade turistico é muito desunido, não tem espaço para amadores..
    Quando existe união em qualquer setor tudo fica facil de melhorar, mas no turismo de maneira geral, muito dificil de algo de bom acontecer.

  3. Parabéns, Alexandre Sampaio;

    Em uma frase, resumiu tudo, estamos juntos sempre, falo tbm em nome da ABAV/RJ.
    Nossa indústria tem que ter representantes natos, não os oportunistas “eleitorais” que aparecem em ano de pleito e que sendo eleitos e carregados pela nossa indústria, nada fazem de efetivo; Vc está certíssimo e sabe que tem “compliance” de nossa Associação e apoio meu!

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Recentes

Publicidade

Mais do DT

Publicidade