Para renovar a cultura de mobilidade nas cidades é necessário reformular as características de nossas ruas, construindo nova infraestrutura? Talvez transformar as ruas existentes, permitindo sua melhoria por meio da renovação de suas formas de uso seja um caminho mais efetivo. Propiciar aos espaços condições que permitam a diversificação das atividades cotidianas é fundamental para o resgate do domínio público da cidade.
por POR GUSTAVO PARTEZANI (Arquitetos do Futuro)
A permanência das pessoas em uma rua não ocorre apenas pela implantação de um espaço limpo e bonito. Ao contrário do que se imagina, a qualidade do espaço está ligada diretamente à experiência de seu uso. A intensidade de satisfação propiciada ao cidadão usando os espaços urbanos – ainda que para atividades lúdicas, culturais, ou para o ócio cotidiano – é o que realmente importa para que as pessoas se identifiquem com os lugares da cidade.
Parklets (que tomam vagas dos automóveis para a promoção de pequenos espaços públicos), ciclovias e paraciclos, bem como implantação de mobiliários urbanos de lazer, são formas inovadoras de conciliar a qualidade da permanência nas ruas com a necessidade de eficácia nos deslocamentos. São ações de curto prazo que transformam a paisagem urbana e fazem da rua, mais que uma via de passagem, um lugar dos cidadãos.
Veja também as mais lidas do DT
Compartilhamento
Novos meios de transporte coletivo e compartilhado, ao mesmo tempo, apresentam resultados extremamente positivos. Veículos elétricos que não emitem nem CO2 nem ruídos, carros compartilhados e transporte público por trilhos são infraestruturas muito mais adequadas ao desenvolvimento urbano do que o velho automóvel.
Se a ocupação da rua durante as décadas passadas representou a instalação de atividades prejudiciais à vida da população, nesta década estamos vivenciando uma mudança cultural. As ruas se configuram agora como importante lugar de pertencimento da população. As atividades cotidianas de ocupação da rua fortalecem a renovação dos usos da cidade, e estabeleceram-se como o novo parâmetro para a transformação urbana.
*Gustavo Partezani é arquiteto e urbanista, fundador do escritório URBR e ex-Diretor de Desenvolvimento da SP Urbanismo. Gustavo também é um dos autores da publicação DOTS nos Planos Diretores, do WRI Brasil.