por José Queiroz*
O Turismo de Eventos existe, funciona, é importante para muitas cidades do mundo, e para Salvador também. Mas não é a principal vocação da cidade, não foi assim que o turismo começou, nem foram eventos que encheram a cidade de turistas em passado recente. Ao contrário, foram os atrativos culturais e naturais, e ações corretas para divulgá-los, que despertaram o segmento de eventos e o interesse dos atores locais que fazem dinheiro fácil nessas ocasiões. Que precisam dos atrativos, mas não cuidam deles, e por isto muitas empresas não querem mais seus eventos em Salvador.
Nenhuma cidade é turística por causa de eventos, simplesmente porque é impossível mantê-los o ano inteiro em todas as cidades turísticas do mundo, não há empresas suficientes para tanto. Há, sim, muitos intermediários, muita insistência em criar eventos novos, e muitos recursos gerados pelo turismo regular sendo desviados para o aprimoramento das vendas das operadoras, que é caríssimo, e que envolve qualificação, novas ferramentas de vendas, publicidade, viagens de negócios, etc. Foi assim que se descobriu que operadores e os parceiros público/privado locais poderiam ter seus hotéis, sua rede de transporte e seus centros de convenções, como a Arena Sauípe, que custou o sacrifício do centro de convenções e do turismo cultural de Salvador.
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Na década de 1980 Salvador recebia um número expressivo de turistas brasileiros, os argentinos vinham em peso conhecer a cidade do Jorge Amado, e os europeus também. Esse número caiu no final da década, mas explodiu de novo nos anos 1990 e se manteve até 2006. Nesse segundo momento, várias operadoras brasileiras e estrangeiras renomadas encheram a cidade de pessoas de todas as idades, principalmente jovens universitários, atraídos pela história, pelo povo e pela música. Ninguém vinha por eventos, que era apenas um complemento das atividades de empreendedores e profissionais. Mas, como se sabe, a reforma do Pelourinho não foi concluída, não houve tempo de aprimorá-la, e os investimentos na cidade cessaram completamente.
E não inventem nada, senhores secretários de Turismo. Salvador não precisa de ‘corredor religioso’, isto é função das agências, que precisam atualizar seus produtos. Triste do receptivo de Salvador se não fosse a Igreja do Bonfim que se visita desde 1754!
Turismo Cultural é a vocação natural de Salvador, e podem-se aproveitar suas praias, comida e música original. França, Espanha e Estados Unidos recebem mais de 50 milhões de turistas por ano e não é por eventos, nem praias, nem festas! Salvador é parte importantíssima da história do continente americano, tem um povo único e uma religiosidade particular. Basta colocar pessoas preparadas para gerir a atividade, como compete à indústria turística! Franceses, espanhóis e afros descendentes norte americanos há muito tempo descobriram as qualidades de Salvador e do seu povo, as quais sua elite e seus gestores não reconhecem.
Qualquer esforço para recuperar o turismo da cidade tem que envolver a melhoria imediata do aeroporto, acabar com a tirania dos taxistas e profissionalizar o atendimento ali e no porto. Os transportes precisam de apoio, renovação, espaço para circular e estacionamento. A Transalvador e a AGERBA são o terror do transporte de turismo! A primeira multa sem apelação, e a segunda está cobrando valores exorbitantes dos proprietários de vans, por exemplo, que pagam uma taxa para sair da cidade, além dos pedágios. Os hotéis precisam de ajuda para recuperação e a cidade precisa de novos hotéis de lazer que acomodem famílias, e não apenas participantes de eventos! Coloquem alguns quiosques no calçadão de Jaguaribe, Salvador precisa oferecer praia, e esta é uma das mais lindas do mundo!
A Prefeitura precisa ter coragem de ordenar e fiscalizar o insuportável comércio ambulante/móvel – conhecido mundialmente! – aquele que acompanha os turistas desde a hora que chegam ao atrativo até a hora de ir embora. Atenção Secretária Municipal de Ordem Pública, Rosemma Maluf: dia 23 de maio, um sujeito se aproximou de turistas para vender seu produto com um cigarro de maconha nos dedos, em plena Praça Municipal. E isto não é difícil de controlar, Salvador não pode continuar assim! Vocês têm que acabar também com a prostituição bizarra da Praça da Sé.
E não inventem nada, secretário municipal Érico Mendonça, e estadual Nelson Pelegrino, Salvador não precisa de ‘corredor religioso’, isto é função das agências, que precisam atualizar seus produtos. Triste do receptivo de Salvador se não fosse a Igreja do Bonfim que se visita desde 1754! É preciso, sim, apoiar não só a visitação à Irmã Dulce, mas aos terreiros de Candomblé e à Mansão do Caminho. Gastem seus esforços culturais no Pelourinho, incentivem a instalação de escolas, faculdades e cursos de história, letras, música, teatro, cinema, jornalismo. Dêem descontos para o baiano estudar, isto os levará a consumir e interagir com os turistas, que os querem conhecer. O Turismo precisa da produção cultural e musical autêntica da cidade! E, pelo amor de Deus! Salvem os azulejos do Convento de São Francisco!
*José Queiroz é guia de turismo em Salvador