por Paulo Atzingen*
Os cinco anos de vida que o Bourbon Assunção comemora neste mês de dezembro merecem destaque em nosso DIÁRIO.
Em 2011, mesmo com o Brasil experimentando um boom de desenvolvimento, com empresas brasileiras utilizando as linhas de financiamento do BNDS-ProCopa Turismo para abrirem e prometerem novas unidades em todo o nosso território, a Bourbon curiosamente, à época, foi na direção contrária. Ao invés de Rio de Janeiro ou Nordeste, apostou no Paraguai. Paraguai? Perguntavam especialistas, acionistas e oportunistas.
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Naquele início da década 10 deste século, a família Vezozzo emprestava sua reputação e seu conhecimento de quarenta e cinco anos em hotelaria para um grupo de investidores paraguaios, capitaneados pela Confederação Sulamericana de Futebol, a Conmebol.
Combinação explosiva
De lá para cá, muita coisa mudou. Aqui, principalmente. Nosso país, ou melhor nossos dirigentes políticos e econômicos, marqueteavam um PIB de 4% ao ano tendo como base um volume de negócios que nos fazia integrar o honroso grupo dos Brics, ao lado de Rússia, India e China; além disso, tínhamos orgulho em dizer que éramos a 6ª economia do mundo.
É preciso lembrar que até setembro de 2013, 17 operações do programa ProCopa foram aprovadas, o que viabilizou investimentos da ordem de R$ 1,7 bilhão por meio da contratação de R$ 1,0 bilhão em créditos.
A combinação explosiva de má administração dos gastos públicos (e privados), especulação financeira e arrogância política fez e faz o país enfrentar a pior crise ética, moral e econômica dos últimos 30 anos. Enquanto isso, lá na região do Chaco, o pequeno Paraguai, com o governo do ex-presidente democrático Fernando Lugo e do atual Horácio Cartes, com suas guarânias, tocadas em suas harpas, com sua economia acanhada e uma política econômica menos agressiva, menos audaciosa e menos especulativa, manteve-se equilibrada e hoje, tem um dos melhores PIBs da América do Sul.
Em 2010, o Paraguai experimentou a maior expansão econômica da região e a mais alta da América Latina, com uma perspectiva histórica de crescimento do PIB de 9%.
Em 2010, o Paraguai experimentou a maior expansão econômica da região e a mais alta da América Latina, com uma perspectiva histórica de crescimento do PIB de 9%. A consultora internacional norte americana PricewaterhouseCoopers indicou um crescimento de 10,5% da economia paraguaia em 2010. A rede Bourbon inteligentemente colocou os pés neste país exatamente nesta época.
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Vai fazer o quê no Paraguai?
O próprio gerente do Bourbon Assunção, Fernando Macedo é quem fala: “Os meus amigos perguntavam o que você vai fazer no Paraguai? Hoje muitos querem mudar para cá”, brinca; mas uma brincadeira com um grande fundo de seriedade, considerando os índices de desemprego do Brasil.
Números e nomes
Os números do Bourbon Assunção são superlativos: Nestes cinco anos foram realizados no hotel – associado ao grande Centro de Convenções da Conmebol, mais de 1.600 eventos (uma média de 320 eventos por ano), mais de 440 mil pessoas passaram pelo hotel e pelo centro de convenções, que pode receber até 4.500 pessoas em um só evento.
“Nosso hotel tem a vantagem de fazer parte de um complexo onde há shows fantásticos de estrelas internacionais. Essa combinação mantém nossos índices de receita equilibrados”, afirma Adriana Cardoso, diretora de marketing e produto do grupo Bourbon. Fernando acrescenta que seu staff tem capacidade para atender até 1.800 pessoas em um jantar. O hotel possui 162 funcionários, sendo 90% deles paraguaios.
Mesmo com a vigência do contrato com a Conmebol se estender até 2036 (são 25 anos), o marketing do hotel tem buscado descolar o nome Conmebol do nome Bourbon. “Temos e continuamos tendo um ótimo relacionamento com a Conmebol, no entanto o Bourbon já é conhecido em todo o Paraguai, somos uma marca forte, mesmo porque mantemos o nome da capital do país, Assunção, que tem um valor histórico e simbólico ainda maior”, explica Fernando.
Alterações Viárias
As cinco grandes reformas realizadas no hotel – praticamente uma por ano – não se sobressaem comparadas às grandes alterações viárias e urbanas do entorno. São duas ótimas rodovias (a autopista Silvio Pettirossi e a avenida General Aquino) que, ao se encontrarem defronte ao hotel, formam um anel viário que leva ou para o aeroporto internacional de Assunção, ou para a capital do Paraguai. “Com a chegada do hotel essas obras foram fundamentais. Ficou muito mais fácil ir e vir para Assunção e para o aeroporto”, afirma.
Discrição e Linha Direta
Dados recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam que o PIB do Brasil encolherá 64 bilhões de dólares neste ano, valor equivalente a todo o PIB do Paraguai e não é preciso estudar relações internacionais, sociologia política ou economia aplicada para saber que o Paraguai, mesmo pequeno, está bem. Vive-se em um país com um PIB verdadeiro em alta – que exporta eletricidade e tem rendimentos que cobrem as importações de petróleo. Já o hotel parece o microcosmo de uma região em ritmo acelerado, que quer crescer, mas responsavelmente. O Bourbon Assunção fica a três minutos de um aeroporto que recebe mais de 20 companhias aéreas internacionais diariamente (sendo duas brasileiras), o que significa que o mercado assunceno está aquecido.
Macedo conta que astros como Paul Mccartney, príncipes da Espanha (o Felipe, que já é Rei) e todo o tipo de celebridades se hospedam e se hospedaram no Bourbon. “Somos conhecidos como o hotel das Estrelas. No entanto, precisamos respeitar a intimidade dos nossos hóspedes. Tietar só com a permissão assinada”, exagera o gerente mostrando a praxe hoteleira.
Por outro lado, Macedo tem linha direta com as autoridades paraguaias. O próprio presidente Horácio Cartes já ligou para ele para reservar o centro de convenções. “Somos promotores do destino, a nossa profissão nos brinda com surpresas como essa. Tenho o telefone direto da ministra do Turismo do Paraguai, Marcela Bacigalupo”, adianta Fernando.
Constante como o Rio
Somados a esse excelente relacionamento, localização privilegiada e marca respeitada, um outro fato salta aos olhos de quem vem do Brasil e circula pelas ruas de Assunção, ou se hospeda no hotel: a vontade de trabalhar e fazer acontecer dos paraguaios. Diferente de países onde a soberba transforma instituições e a economia inflada estimula especuladores imaturos e presunçosos, e, por tabela, impacta negativamente a motivação das pessoas, aqui a economia mantém-se em níveis estáveis, como o Rio Paraguai, que banha a capital. Lento, gentil e constante, sem avançar em suas margens.
*Paulo Atzingen é jornalista e fundador do DIÁRIO DO TURISMO