Carnaval em Colônia

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*por Osvaldo Alvarenga

–O que vocês estão fazendo aqui hoje? Por que não estão no Brasil?

Nos perguntou perplexa a foliã, como todos os demais nas ruas, fantasiada para a festa que já ia começar. Resultado do susto que tomou quando dissemos que éramos brasileiros. Ela deve ter observado as nossas expressões de surpresa; talvez por não estarmos fantasiados, ou também talvez por não estarmos bebendo. Óbvio estava: éramos de fora e havíamos caído de paraquedas naquela praça.

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A resposta? Porque vivemos na Europa; porque as passagens estavam baratas; por absoluta ignorância sobre Colônia e seu carnaval. Não tínhamos a menor ideia do que esperar. Sabíamos da Catedral, um marco do estilo gótico, e o, até hoje, sempre que ouço, comovente The Köln Concert, álbum do Keith Jarrett, todo improviso, gravado aqui em 1975. Para ser franco, lembro que ouvi de uma amiga nascida na cidade que, tirando a catedral, não havia nada especial para ver.

Não acreditei nela. É comum ver gente desvalorizando a cidade natal. Sei como é. Se me perguntam sobre Juiz de Fora, digo, sem medo de errar, que é o fim do mundo. Exagero meu. Sei disso. Certamente há lá pessoas que amam viver na cidade. Pensei que minha amiga também exagerasse em relação à própria cidade. Colônia não pode ser só a catedral. É implicância de quem desencantou e foi embora muito cedo. Como eu em relação à minha cidade, calculei que ela estivesse de má vontade com a cidade dela.

É bem verdade que sobrou pouco da Colônia histórica e que a estação que construíram no lugar da original, no centro, e tudo que se vê à volta, logo na chegada, lógico, tirando a catedral, é muito feio e sem graça. Para quem vem de trem a primeira impressão não é boa. Aliás, é boa sim. Porque a catedral está ali na frente e a pessoa não tem olhos para mais nada. À volta, ao retorno à estação, depois de já estar familiarizado com a catedral, é quando fica a má impressão.

Chegamos ao entardecer da quarta-feira antes do carnaval. Estranhamos tantas pessoas fantasiadas caminhando de um lado para o outro. Gente nova e gente velha, sem restrição de idade. As praças cobertas com arquibancadas, monumentos e vitrines com tapumes. A noite estava excepcionalmente quente para essa época do ano e por isso tanta excitação; foi o que pensei. Errado.

Tivemos tempo para visitar a Catedral e depois jantar num restaurante tradicional. E experimentar a cerveja Kölsch, exclusiva da região. O dia seguinte seria dedicado ao Museu Ludwig e a um walking tour pelo centro. No restaurante descobrimos que no dia seguinte não teria cozinha aberta, é feriado e um dos dias de desfiles e festas mais importantes do carnaval local, nos explicou a garçonete.

Depois de comer muito e muito bem, caminhamos para ver a cidade à noite. Algumas praças famosas, o passeio pela margem do Reno, tudo cheio. O oposto de Frankfurt onde depois das sete não havia viva alma nas ruas, aqui a cidade estava em festa. Por volta das onze quase não víamos ninguém sem fantasia. Hora de voltar para o hotel e revisar a programação do dia de seguinte.

Tudo que olhávamos para fazer estaria fechado; até os restaurantes indicados, que pinçamos de guias na internet, não aceitavam reservas pelo site. O tour pelo centro também não. É que quinta de carnaval aqui é como a nossa terça de carnaval. Ou o domingo. Tudo para durante a festa. No hotel, o barulho nos quartos ao lado incomodava. Por toda noite foi um sair e entrar de gente sem fim. Percebemos então onde havíamos nos metido.

No outro dia, logo cedo, antes das dez, as ruas continuavam cheias. Não sabíamos se as pessoas estavam voltando das festas, indo para uma ou as duas coisas. Descobrimos depois: as duas coisas. Descobrimos também, a Catedral fechada, museus – todos – fechados, lojas fechadas; mas e o sabonete de Colônia que queríamos comprar para dar de presente? Fechado. Nem sabonete, nem Água de Colônia. Todo o centro tomado por foliões fantasiados. Sem fantasias os policiais (mas tinham a farda), os garis (idem), os catadores de latinhas de cerveja (não imaginei que eles existissem na Alemanha), a Iêda e eu.

Desolados pela programação frustrada, curiosos com aquele carnaval inusitado, nos encostamos numa janela baixa de um bar num largo movimentado para observar a folia. Ao nosso lado dois casais de foliões bebiam cerveja e conversavam animados. A música ia alta:

–onde está a sua fantasia?– perguntou uma delas; primeiro em alemão, depois em inglês.

–ora, pois é– respondeu a Ieda ou eu, não importa, ambos sem graça.

–não, vocês precisam se animar. Olha, toma aqui um pouco de cerveja; de onde vocês são?

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