Cheira a limão, mas o gosto é de vinho!*

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Cheira a limão, mas o gosto é de vinho! Pode isso Arnaldo?

Pode, a regra é clara, mas a frase anterior é um erro de interpretação: limão remete à fruta cítrica e assim deveria ser interpretado por aquele que está julgando o vinho.

por Werner Schumacher*


Esta brincadeira com o Arnaldo me fez lembrar um recente estudo suíço-holandês sobre a percepção dos aromas, integrado por um grupo mesclado de especialistas e apreciadores, esses, não necessariamente, com grandes conhecimentos.

O título acima é uma demonstração da limitação que a linguagem tem sobre a degustação de vinhos. É muito difícil para qualquer degustador, especialista ou não, expressar-se corretamente do ponto de vista linguístico.

Uma das razões para isso é a memória olfativa de cada um.

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Cheira a pimentão, mas o gosto é de vinho.

As uvas tintas de Bordeaux apresentam essas características: Cabernet Franc e Sauvignoin, Merlot e Malbec, entre outras. Por muito tempo se acreditava que fosse uma característica de tipicidade.

Lembro-me de um curso de degustação que a Associação Brasileira de Enologia (ABE) organizou junto com a Embrapa e o professor (que não lembro o nome), foi taxativo em dizer que esses aromas identificados com as variedades acima eram um defeito, resultado da colheita de uvas não completamente madura ou até um pouco verde, portanto um defeito.

Há quem goste… lembro um evento realizado no Hotel Casacurta em Garibaldi onde foi dado a degustar um vinho tinto do norte da Itália, que tinha um aroma de pimentão impressionante, um defeito que se presume seja causado pela colheita precoce, mas para o produtor italiano e o importador brasileiro se trata de uma característica de tipicidade. O Sauvignon Blanc dessa região, a do Alto-Adige, apresentam esse aroma, cujo nome científico é enorme, abreviando para pirazina.

Na nossa região, também se encontrava muitos vinhos com essa característica, com o tempo e uma maior dedicação nos vinhedos, conseguiu-se a produção de uvas mais maduras e de melhor qualidade, diminuindo drasticamente essa característica.

Cheira a petróleo, mas o gosto é de vinho.

É uma das descrições do vinho Riesling alemão. No início de maio tive a oportunidade de degustar um vinho Riesling de Nova Petrópolis, elaborado com Riesling renano de um vinhedo propriedade de um alemão (não o conheço). Não sei onde há outro vinhedo desse varietal, mas a experiência degustativa é um indício de que a variedade assume as suas características próprias, não importando solo e clima.

O cheiro a petróleo [querosene] era impressionante para esse vinho de praticamente 12 anos, não estava oxidado, apenas com esse odor, pra mim desagradável.

Enfim, uma mesma variedade pode se adaptar em um solo e clima diferente e apresentar suas características originais ou produzir um vinho completamente diferente que a origem. Ao falarmos de tipicidade de um vinho é preciso considerar essa condição.

Millenials

Um recente estudo italiano diz que os Millenials não estão mais dando bola pra essa questão de origem, portanto, a tipicidade poderá perder importância com o tempo, esses consumidores darão preferência para a pegada de carbono, vinho em lata, etc.

Consequentemente, a forma de falar de vinho passará a ser diferente. Aqueles que conhecem de vinho não chegam a 5% entre os apreciadores. Muitos desses críticos de vinho escrevem na verdade para os seus pares e esquecem a grande maioria dos consumidores, que avidamente querem ser informados, mas não da forma pretensiosa de muitos desses críticos.


* Smells Like Lemon, Tastes Like Wine é uma canção do britânico Alan Price, que foi tecladista da banda The Animals, que inspirou o título desse texto.


 

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