Como classificar os chamados “vinhos de mesa”?

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A série Pergunte ao Werner continua neste mês de maio com indagações para lá de interessantes: a questão desta semana é do jornalista Roberto Maia, editor da revista Qual Viagem e do site Travelpedia. “Como classificar os chamados vinhos de mesa?”

Abaixo, a resposta de Werner:

Roberto pede que opine sobre os vinhos de mesa, se são bons, aceitáveis ou ruins.

Primeiro devo esclarecer que vinho de mesa no Brasil são aqueles elaborados com uvas americanas, tipo Isabel, Niagara, Bordô (não Bordeaux). No resto do mundo, de um modo geral, são elaborados com uvas viníferas, o francês vin de table, o italiano vino da távola, por exemplo.

Nos Estados Unidos há um mercado muito interessante desses vinhos, pois é bem aceito em algumas regiões, principalmente da parte leste. A Cooperativa Vinícola Aurora exportava muito o vinho Sangue de Boi para essa região.

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Disse-me certa feita Edual João Garbin: “o vinho de vinífera é melhor por ter sido o primeiro”. Em princípio não há registros da produção de vinhos com uvas americanas, mas pesquisadores estão trabalhando nisso.

Infelizmente, o vinho de uvas americanas, principalmente, para o Eurocentrismo, caiu em desgraça, por seu aroma “foxy”, lembra a raposa e um professor da Universidade Católica afirma que essas uvas sequer são frutas, mas não sabe definir o que é.

Vinho Sangue de Boi, felicidade nas mesas brasileiras (Crédito: Vinícola Aurora)

O curioso e que porta enxertos com essas uvas salvaram a viticultura europeia da filoxera, por ser resistente a essa doença. A Itália é um dos países que permite a elaboração de vinho com essas uvas apenas para consumo próprio. Lembro que um amigo italiano disse que no mercado era vendido a vinte mil lira, os expertos italianos transformaram em 20 Euros, ainda que a Isabel lá era chamada de Fragolino Rosso e a Niágara Fragolino Bianco.

Esse amigo é Giancarlo Bossi, autor de livros de degustação e farmacêutico de profissão, cuja farmácia herdou do pai, na Itália.

Máximo Possível

Voltando ao nosso assunto e já que foi citado Fragolino, esse é um espumante italiano elaborado com uva tinta, normalmente bonarda e aromatizado com morango, para conceder um sabor Foxy, típico das variedades americanas. Em outras palavras, conseguem falsificar algo sem valor, mas dando valor ao falsificado.

As uvas americanas produzem muito e via de regra dão vinhos pouco alcoólicos, que necessitam ser ‘chaptalizados’, que nada mais é do que a adição de sacarose (açúcar de cana) no mosto (suco) da uva, para se alcançar o nível mínimo legal de 10º, até o limite de 3º de álcool, aproximadamente 60 gramas por litro.

Por ser uma uva desprestigiada, grande parte dos produtores procuram tirar o máximo possível de quilos de uva por hectare, o que interessa é a quantidade, sem se preocupar com a qualidade. Essa é a regra geral.

Normalmente, os vinhos assim produzidos não são bons, muito ácidos e para se obter um equilíbrio no sabor se adiciona mais açúcar de cana, fazendo assim surgir o vinho conhecido como suave, termo aliás, usado apenas no Brasil.

Nos Estados Unidos há um mercado muito interessante desses vinhos, pois é bem aceito em algumas regiões, principalmente da parte leste (Crédito: Getty Images)

Comparando SECO com SUAVE, faz com que este último vinho seja o mais consumido no Brasil.

Felizmente e recentemente, alguns produtores começaram a tratar tais uvas como se fossem viníferas ou europeias, controlando a produtividade no parreiral e evitando ao máximo a tal ‘chaptalização’.

Um desses vinhos é o As Americanas, em garrafas de 2 litros, produzido pela Vinícola Conceição, mais conhecida como Dom Dionysius, do amigo e enólogo Ivan Tisatto, com quem conversei há pouco. Disse-me ele que também quase não usa fungicidas, uma grande vantagem em relação as uvas europeias. Mais, por não serem essas uvas europeias, não significa inferiores, talvez possam ser até superiores, por serem mais resistentes.

Uva Isabel

Há um bom tempo na Vínicola Zanrosso, também de Caxias do Sul, elaboramos como experiência, um vinho branco a partir da uva Isabel, com uma tecnologia italiana de vinificação em branco, o resultado foi mil litros de um vinho de excelente qualidade. Contam até que o prefeito da cidade queria comprar toda a produção.

O vinho Panceri: nos moldes do produto italiano, com a uva Isabel

Santa Catarina também está dando o exemplo. Na região do Vale do Rio do Peixe estão elaborando espumantes da uva Niágara, muito interessantes. A vinícola Panceri está produzindo um Fragolino nos moldes do produto italiano, mas com a uva Isabel. Outra região interessante desse estado é o Vale da Goethe, no entorno a Urussanga, onde produzem bons vinhos e espumantes com a uva Goethe, que é um hibrido de americana com vinífera.

Infelizmente os brasileiros parecem sofrer de certa síndrome de pânico com tudo o que é produzido aqui, pois pouco valorizam o que é seu. Pior que isso vale para tudo.

Se você gosta de vinhos de mesa produzidos com uvas americanas, continue gostando, pois o gosto é seu e de mais ninguém.


Dicas do Editor:

Vinícola Panceri 

(49) 3566-7700
(49) 99904-0093
panceri@panceri.com.br
vendas@panceri.com.br
Vinícola aberta de segunda-feira a sábado das 08h00 às 12h00 e das 13:30 às 17:00.

https://loja.panceri.com.br/espumantes/cortes-fragolino


Vinícola Conceição 
Conceição Linha Feijó, s/n. Caxias do Sul – RS.
Fone/Fax: 55 – 54 – 2272087
Celular 55 – 54 – 99798044 ( Ivan )
vinicola@vinhosdionysius.com.br

 

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