Até que ponto as cores influenciam escolhas e afetam sentimentos? Não faz muito tempo a resposta era não. Tratado como pseudociência, o assunto era equiparado à parapsicologia ou da frenologia (que pretende determinar o caráter ou capacidade mental pela estrutura do crânio).
Isto mudou. Diferente das outras duas, que continuam flutuando entre a picaretagem e a ciência, o estudo das cores saiu do ostracismo. Ganhou status de seriedade, depois de adotado por pesquisas comportamentais.
A cada dia surgem novidades sobre a Psicologia das Cores. Mais que preferências pessoais, influência cultural ou associação com experiências, têm a capacidade de evocar emoções. Estamos cercados de exemplos. Vermelho e amarelo dos arcos do McDonalds, assim como o vermelho do logo da Pizza Hut e KFC, despertam apetite. Já o azul é a pior cor para um restaurante, pois provoca inapetência. Rosa e roxo do Victoria’s Secret fazem mulheres se sentirem mais femininas. Amarelo provoca choro em bebês. O branco da Apple reflete forte apelo ao moderno, limpo e suave.
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Assim como azul foi feito para meninos e rosa é para meninas, o verde claro tem cara de quarto de hospital. O nobre roxo veste realezas e religiosos de altas patentes. Etiquetas de preço em amarelo fazem as pessoas pensarem que ganham desconto, mesmo que não seja verdade.
Um estudo da Universidade de Harvard conclui que os mesmos alimentos, se etiquetados em verde são percebidos como saudáveis e vendem mais, ocorrendo o contrário se marcados em vermelho. Paredes de celas pintadas de rosa acalmam prisioneiros agressivos. Cores como laranja, vermelho e amarelo passam a impressão de temperatura mais quente, enquanto azul, verde e roxo claro transmitem a sensação de frio.
Em esportes de combate, atletas que usam vermelho tendem a levar vantagem, diz estudo de antropologistas britânicos. A instalação de luzes azuis em estações japonesas reduziu o índice de suicídios de gente que se jogava à frente dos trens. Uma pesquisa norte-americana indicou que garçonetes que se vestem de vermelho recebem melhores gorjetas.
O que tem este assunto a ver com viagens e mobilidade? Tudo. As cores têm potencial para também comprometer ou alavancar relacionamentos, principalmente os profissionais.
As cores estão tão impregnadas na sociedade moderna que nem nos damos mais conta delas. Traduzem amor ou amizade, pureza ou paixão, alegria ou tristeza, guerra ou paz, “pare” ou “siga”. O mercado consumidor também está saturado de cores-símbolos, do vermelho Coca-Cola ou Bradesco ao verde Starbucks ou margarina. Não é à toa que empresas inovadoras como o Google pesquisam e usam cores, como demonstra aliás a nova marca. Marcas que transmitem sofisticação como a Chanel e Prada sequestraram o negro para refletir esta sensação. O seguro de carros esporte vermelhos são mais caros, pois provocam reações de força e maior velocidade.
O que tem este assunto a ver com viagens e mobilidade? Tudo. As cores têm potencial para também comprometer ou alavancar relacionamentos, principalmente os profissionais. Isto é confirmado por estudo canadense que revelou que 90% das impressões iniciais sobre um produto se baseiam no impacto das cores das embalagens. E o que são as roupas senão uma embalagem pessoal? “Em termos de projeção, sua aparência fala mais sobre você que o que diz ou como diz”, explica a especialista em estilo Carol Davidson. “De todos os elementos do guarda-roupa, a cor fala em primeiro lugar”, conclui a professora do Fashion Institute of Technology de New York.
Por isto, seja na hora de sair de casa para um encontro ou reunião importante, ou fazer as malas principalmente em viagem de negócios, pense duas vezes ao escolher as cores que vai vestir. Ternos marrons tendem a passar a ideia de passividade bovina, enquanto o azul marinho pode ser interpretado como alguém excessivamente formal.
* Fábio Steinberg é jornalista e administrador, trabalhou 18 anos na IBM e também foi executivo em comunicação na AT&T, Hill & Knowlton e Rede Globo. De 2000 a 2013 atuou como consultor em comunicação empresarial. Atualmente, escreve sobre turismo, viagens, negócios, tecnologias e mobilidade. É autor dos livros Ficções Reais (sobre o mundo corporativo), Viagens de Negócios e O Maestro (biografia).