por Alexandre Sampaio*
Os bares e restaurantes do nosso país estão colapsando. Apesar de ser algo duro de admitir, não podemos ignorar o fato de que o setor de Alimentação Fora do Lar enfrenta dificuldades sérias e que precisam ser sanadas o quanto antes. Caso não consigamos reverter esse cenário, o futuro do segmento será assombrado por falências e dívidas a longo prazo.
Desde o ano passado, quando a Covid-19 provocou os primeiros casos da doença no Brasil, houve um acompanhamento intenso dos empresários acerca do assunto para proteger os estabelecimentos de futuros prejuízos. Apesar das iniciativas, não foi possível mitigar o dano.
Veja também as mais lidas do DT
Segundo a Associação Nacional de Restaurantes (ANR), chegamos a junho deste ano registrando 71% de bares e restaurantes endividados por conta da pandemia. Além disso, logo no começo de 2021, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) indicou que, dentro do turismo, foram eliminados 397,1 mil postos formais de trabalho apenas em 2020. Deste valor, 221,1 mil correspondiam ao serviço de alimentação.
Atualmente, ainda com a circulação da infecção viral e com a presença de variantes mais transmissíveis, enxergamos que o trade enfrenta crises ramificadas que trazem déficits acumulativos. Podemos acrescentar ao cenário desestabilizante, por exemplo, a força da inflação dos alimentos, que voltou a subir. O aumento dos preços tem atingido diferentes produtos, como carne, cereais e, recentemente, o leite.
Esse tema, quase inexplorado, atinge em cheio os empreendimentos do nosso setor. É fácil assimilar: estes espaços buscam vender os seus produtos. Para isso, é necessário adquirir insumos para abastecer o mercado local. Com a dificuldade de encontrar valores mais baixos, principalmente em relação aos alimentos, muitos empresários ficam no prejuízo, pois não conseguem suprir os preços das compras. Além disso, ainda podemos acrescentar à situação a baixa circulação de clientes, o que também enfraquece ainda mais o retorno financeiro para esses ambientes.
Segundo a reportagem publicada pela Agência Brasil, a inflação desacelerou para 0,53% em junho, depois de chegar a 0,83% em maio. Entretanto, este é o maior resultado para o mês desde 2018, quando os valores ficaram em 1,26%. Com isso, o indicador acumula alta de 3,77% no ano e 8,35% nos últimos doze meses.
Os dados, apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicam que a crise econômica que enfrentamos está longe de acabar. A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgada em julho, corrobora esse fato. Apesar do setor de serviços ter voltado a atingir o volume de receitas das vésperas da pandemia, o turismo ainda mostra sinais fracos de movimentação.
De acordo com o levantamento, as perdas do segmento caíram pelo segundo mês consecutivo e, felizmente, tendem a se reduzir de acordo com o avanço do processo de vacinação. Mesmo assim, ainda registramos o volume de receitas 34,7% abaixo. É um valor delicado e que destaca a necessidade da diminuição de restrições tão intensas nos nossos meios de hospedagem e alimentação.
A economia possui altos e baixos. Nesse momento, ela busca a sua recuperação. Todavia, nosso segmento ainda se encontra num movimento de retração. Portanto, faço um apelo: campanhas para a retomada precisam ser adotadas. O futuro do setor de Alimentação Fora do Lar não deve caminhar em direção ao desemprego e ao fechamento dos estabelecimentos.
*Presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA).