Divino Espírito Santo: um pouco mais de fé e festa em São Paulo

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Em cinco cidades próximas da capital é possível conhecer essa tradição que veio da Europa e ganhou cores e sabores bem paulistas

EDIÇÃO DO DIÁRIO com agências


Não muito longe da capital paulista, a menos de 200 km, é possível conhecer as tradicionais Festas do Divino Espírito Santo. Acontecem todos os anos em diversas cidades, 50 dias após o domingo de Páscoa, no Dia de Pentecostes.

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Populares e marco de fé, essas festas, além de mesclarem o sagrado e o profano com o mesmo brilho, são sempre repletas de cores, movimento e comida. Muita comida. Tudo começou na Idade Média, em plena Europa, quando monges italianos levaram a devoção ao Divino Espírito Santo para as ilhas dos Açores e, mais tarde, no século XIII, a Rainha Santa Isabel oficializou essa comemoração em Portugal. Para essas festas chegarem a todo o Brasil e às demais colônias portuguesas, foi muito rápido.

Se por um lado, o culto ao Divino Espírito Santo, que tem seu auge na festa de Pentecostes e comemora a aparição do Espírito Santo em formato de língua de fogo sobre os apóstolos, por outro lado, o festejo comemora a colheita das plantações. O termo Pentecostes se originou a partir do grego pentēkostḗ, que significa “quinquagésimo”, em referência aos 50 dias que se sucedem depois da Páscoa.

Desde a chegada às nossas vilas, já no século XVII, esses festejos foram somando folguedos de matriz africana, as comidas típicas dos tropeiros (como o afogado), a dança das fitas (cuja origem se perde nos tempos), o que gerou características bem distintas. Por isso, selecionamos cinco cidades paulistas – Itu, Mogi das Cruzes, Caraguatatuba, São Luiz do Paraitinga e Tietê – onde é possível apreciar essas famosas e tradicionais Festas do Divino Espírito Santo

Festa do Espírito Santo, em Itu (Crédito: Renata Guarnieri)

Itu

A cidade, fundada em 1610, fica a 98 km de distância de São Paulo e promove uma das mais importantes Festas do Divino do interior paulista. Foi a partir de Itu que essa tradição ibérica se disseminou para cidades como Porto Feliz, Tietê, Laranjal Paulista, Piracicaba e Capivari. As festas começam na Páscoa, quando são benzidas as imagens que seguirão pela zona rural para visitar fazendas e sítios, onde se pedem prendas para a festa de Pentecostes. O cortejo solene da Bandeira do Divino percorre as ruas centrais de Itu e entra pelas casas abençoando as pessoas ao som da cantoria de violeiros. Também ocorre, pelas ruas da cidade, o desfile de carros de boi enfeitados com o estandarte vermelho do Divino. Para ir de São Paulo a Itu, percurso de 100 km, deve-se seguir pela SP-280 (Rodovia Castello Branco) até a saída 78 e em seguida a SP-075 (Rodovia Archimedes Lammoglia) até saída 30-A.

Caraguatatuba

A 173 km de São Paulo, apresenta sempre sua Festa do Divino, cuja primeira edição ocorreu em 1992. A cidade celebra o seu padroeiro, o Divino Espírito Santo, com uma Novena, em cuja festa litúrgica a cor vermelha predomina. Para abrir o evento, a já tradicional Cavalgada percorre as ruas da cidade até chegar à Catedral do Divino, no bairro do Indaiá, para o levantamento da Bandeira do Divino. Como sempre, acontece a partilha de alimentos ao som de orações e cantorias, o que enlaça a cultura popular com religiosidade. Para chegar até Caraguatatuba a partir de São Paulo, deve-se seguir pela SP-070 (Rodovias Ayrton Senna e Carvalho Pinto) até a saída 96 e em seguida, pela SP-099 (Rodovia dos Tamoios).

São Luiz do Paraitinga

Nos dez dias de festejos do Divino em São Luiz do Paraitinga, 174 km da capital, as ruas do Centro Histórico ficam tomadas de turistas e devotos e interditadas para veículos. Trata-se de um dos eventos mais tradicionais e importantes da cidade que, com suas várias pousadas, recebe visitantes para pagar promessas, rezar, acompanhar a procissão do Divino, pedir bênçãos e provar o afogado (comida típica dos tropeiros) que é distribuída gratuitamente ao povo. Entre as atrações, o turista poderá assistir a missas, procissões, congadas e moçambiques (e outros folguedos), a farra dos bonecões gigantes do João Paulino e a Maria Angu, à dança das fitas, entre outras. Da Capital, chega-se a São Luiz do Paraitinga pelas Rodovias SP-070 (Ayrton Senna e Carvalho Pinto) e pela SP-125 (Rodovia Oswaldo Cruz).

Festa do Divino em Mogi das Cruzes ( foto: site prefeitura de Mogi)

Mogi das Cruzes

Fundada por bandeirantes no século XVI, Mogi das Cruzes tem uma das mais antigas e importantes Festas do Divino em solo paulista. Já em maio de 1613, o evento é citado em ata da Câmara da então “Villa de Sant’Anna de Mogy Mirim”, como era chamada, à época. Alguns aspectos das antigas festas se mantiveram, como a Entrada dos Palmitos, um cortejo que percorre as ruas do centro, sendo prestigiado sempre por mais de 40 mil pessoas. Com a cor vermelha nos estandartes, há as alvoradas, o Império do Divino, vários grupos folclóricos e uma variedade de comidas típicas. Para ir a Mogi das Cruzes desde a Capital, num percurso de 61 km, deve-se seguir pela SP-070 (Rodovia Ayrton Senna) até a saída 44 e pela SP-088 (Rodovia Pedro Eroles).

Tietê

Em Tietê, a 147 km de São Paulo, o que não falta é tradição quando o assunto é a Festa do Divino: a 182ª edição foi no final de 2021. Tudo começou em 1830, devido a uma epidemia de maleita que ceifou diversas vidas na região. Os habitantes de Tietê então fizeram uma promessa ao Divino Espírito Santo para que a doença se dissipasse e, em virtude do milagre alcançado, uma festa anual seria realizada em sua homenagem. Atualmente, o evento começa no início de dezembro com a Missa da Descida das Canoas, na Igreja Matriz e, vinte dias depois, acontece o Encontro das Canoas (os chamados batelões), às 18h, quando os grupos de batelões se cruzam sob a Ponte dos Arcos, seguido de uma missa campestre. Para chegar a Tietê, saindo de São Paulo, deve-se seguir pela SP-280 (Rodovia Castello Branco) até a saída 99-A, SP-097 (Rodovia Dr. Antônio Pires de Almeida) e pela SP-300 (Rodovia Marechal Rondon) até a saída 158.

Glossário de termos das Festas do Divino

 

PENTECOSTES – De origem grega, significa “quinquagésimo”, designando uma comemoração hebraica que acontece 50 dias após a Páscoa.

 

IMPÉRIO DO DIVINO – Representa a autoridade exercida pelo Espírito Santo sobre os povos, a sua soberania, enquanto terceira Pessoa da Santíssima Trindade.

 

MASTRO VOTIVO – Há um centro energético da Festa do Divino, que é o levantamento do mastro votivo, um elemento simbólico de enorme importância nas comemorações. É um sinal da verticalidade concreta que une Céu e terra, os mortos e os vivos, o corpo e alma, o indivíduo atual aos seus antepassados. Artifício.

 

ENCONTRO DOS BATELÕES (em Tietê) – São grandes barcos que chegam a transportar até 40 pessoas, movidos por varejões (varas compridas que impulsionam embarcações) ou por remos. No principal dia da Festa do Divino, por volta das 18h, acontece o encontro fluvial das Irmandades do Divino, que estão a bordo dos batelões, os barcos do rio abaixo e os do rio acima, com revoadas de pombos, queima de fogos e tiros de trabuco preparados por fogueteiros

 

COMIDAS TÍPICAS – Durante as Festas do Divino são preparados o tortinho (um bolinho típico de Mogi das Cruzes, cuja massa é feita de farinha de milho branca e o recheio de carne moída), o rosa-sol (um licor saboroso à base de cravo e canela, distribuído aos antigos devotos no cortejo e no levantamento do mastro votivo), yakissoba, tempurá, pastéis, lanches, doce de abóbora, figo, sagu, arroz doce, chocolate quente, quentão, churrasco, tempurá e o afogado (ensopado feito à base de carne e batata, servido em cumbucas de barro, com acompanhamento de farinha de mandioca torrada).

 

FOLGUEDOS – São representações populares coletivas e folclóricas em que a dança tem papel de destaque. Ora dramáticos, ora brincantes, mas sempre coreografados, os folguedos mais conhecidos no Brasil são o boi-bumbá, os reisados, os congos e moçambiques, nas suas variações, os maracatus, as cabocladas, as taieiras, as folias de reis e os caboclinhos.

 

CAPITÃES DE MASTRO – Durante a Festa do Divino, o Capitão de Mastro é o braço direito do Imperador e, com os casais de festeiros, são os responsáveis pela comissão de organização de todo o evento em louvor ao Divino Espírito Santo. Ele serve de mediador, um gerenciador e realizador das decisões do Império.

 

 CASAIS DE FESTEIROS – Os festeiros são casais responsáveis pela Festa do Divino e acompanham todas as cerimônias religiosas na cidade durante os dias de comemorações. Eles saem da igreja em procissão, empunhando bandeiras e remos (como acontece em Tietê, por exemplo) e seguem em dois grupos de até 60 festeiros até os batelões atracados no rio, e esses devotos vestem calças e camisas brancas, com gorros azuis e cintos vermelhos.

 

POUSOS – Os tradicionais pousos ainda existem nas comemorações do Divino Espírito Santo em muitas cidades brasileiras. Eles ocorrem quando os donos das casas recebem os amigos devotos, sempre com mesas fartas, durante o período preparativo das festividades de Pentecostes.

 

DANÇA DAS FITAS – De raiz europeia, a dança das fitas (ou dança da fita) é uma manifestação milenar e que se popularizou por todo o Brasil com nomes variados (dança do tipiti, na Amazônia, engenho-de-fitas no Rio Grande do Norte, entre outros), com ocorrências documentadas desde o século XIX principalmente em comemorações como as Festas do Divino, Festa de Reis, Natal e Ano Novo.

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