O DIÁRIO DO TURISMO falou com exclusividade com o CEO da Atlantica Hospitality International, Eduardo Giestas. Administrador de empresas com bacharelado pela George Washington University, de Washington DC, nos Estados Unidos, iniciou sua vida profissional trabalhando na Nestlé Beverage Company, nos EUA. De volta ao Brasil atuou na Procter & Gamble, A.T. Kearney, Claro, Equifax no Brasil, onde ocupou a presidência, Time4Fun como vice-presidente de Marketing e Vendas, e na Laureate International Universities, inicialmente como CEO da Universidade Anhembi Morumbi e BSP e, depois, como presidente da unidade de São Paulo na rede global de ensino superior.
No setor hoteleiro foi CEO e membro do Conselho de Administração da Sauipe S.A., complexo de hotéis e resorts. Em 2017, assumiu a posição de CEO da Atlantica. Ele integra a série Entrevistas Presidenciais, confira:
por POR ROBERTO MAIA*
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O senhor está na presidência da Atlantica Hospitality International desde janeiro de 2017. O que mudou na empresa nesse período e quais foram os seus maiores desafios até o momento?
Desde a minha entrada na Atlantica, o caminho tem sido na direção de alavancar a participação da empresa no mercado, seguindo as tendências de hospedagem. Nos últimos cinco anos, nosso modelo de gestão se consolidou e se fortaleceu, prova é que dobramos a quantidade de empreendimentos em nosso portfólio. Em 2017 tínhamos 85, e agora em 2022 temos mais de 165, que estão espalhados em mais de 60 cidades no território brasileiro. As alianças estratégicas com grandes marcas foram essenciais para esse crescimento. Em 2018, agregamos 22 hotéis da Vert Hotéis e, em 2021, foram mais 23 hotéis do Transamerica Hospitality Group. Esperamos fechar o ano com 185 hotéis.
Desde 2020, também estamos presentes no setor de hospitalidade com nossos residenciais com serviços, que têm grande potencial de expansão, principalmente na capital paulista. Temos quatro empreendimentos nesse formato em operação, além dos mais de 26 contratos que já estão assinados e a perspectiva de chegar a 40 assinaturas até o final do ano.
Cada passo que damos para crescer está atrelado aos desafios que se apresentam em um mercado dinâmico. Na pandemia, por exemplo, tivemos que avaliar o cenário com muita atenção e propor alternativas para continuar atendendo as necessidades de nossos hóspedes com segurança. Fico muito satisfeito com o resultado que conseguimos, pois seguimos expandindo nossas operações por todo o país e acelerando a digitalização, o que alavancou as vendas pelo nosso canal direto, por exemplo.
Atualmente, quantos hotéis integram o portfólio da Atlantica? São quantas marcas? E o número de quartos, quantos são?
Hoje contamos com um portfólio com cerca de 170 empreendimentos, que agregam a oferta de mais de 27 mil quartos, em mais de 60 cidades no Brasil. A Atlantica detém alianças exclusivas com as maiores marcas hoteleiras do mundo – Choice Hotels (bandeiras Sleep Inn, Comfort, Comfort Suites, Quality e Clarion), Radisson Hotel Group (bandeiras Radisson, Radisson BLU, Radisson Collection, Radisson RED, Park Plaza e Park Inn by Radisson), Hilton (bandeiras Hilton Garden Inn, DoubleTree by Hilton e Motto by Hilton) e Wyndham (bandeiras Wyndham, Ramada Hotel & Suites, Ramada e Ramada Encore) -, além de contar com as marcas próprias Go Inn, eSuites, Transamérica e a chancela by Atlantica.
Como a Atlantica enfrentou os meses de restrições e hotéis fechados por causa da pandemia do Coronavírus?
Os impactos foram significativos quando a pandemia atingia seu ápice, porém conseguimos passar por esse período desenvolvendo ações que permitiram inovações. Podemos citar três pontos cruciais:
Eficiência Operacional – Revimos nossos processos e proporcionamos aos nossos hotéis soluções que geraram maior eficiência operacional e agilidade e assertividade nas respostas. Isso possibilitou, entre outras coisas, que os hotéis chegassem ao ponto de break even mesmo com um nível de ocupação mais baixo. Os processos estabelecidos serão mantidos para que os ganhos operacionais se mantenham na retomada.
Digitalização – A pandemia acelerou o processo de digitalização do mercado, assim observamos o surgimento de soluções digitais voltadas para o relacionamento com o hóspede (vendas ou atendimento). Seguindo essa tendência, em 2021, a Atlantica lançou seu novo site de vendas para reservas de hotéis e residenciais com serviços e um aplicativo exclusivo para Atlantica Residences – com opções de reservas, check-in, checkout, chave eletrônica e compra de serviços pay per use.
Adequação dos serviços ao novo perfil do hóspede – Vimos um crescimento da tendência do bleisure, viagens que combinam negócios e lazer, por isso alguns de nossos hotéis precisaram rever seus serviços e estruturas para atender às demandas do hóspede que passou a estender suas viagens de trabalho para aproveitar as atrações de lazer do hotel ou do destino, podendo até mesmo levar a família junto.
A demanda atual já retornou aos patamares de 2019 – pré-pandemia? E as diárias médias?
No primeiro trimestre, tivemos uma receita de R$ 316 milhões, isso representa uma alta de 110% na comparação com 2021 e 24% melhor do que o registrado no mesmo período de 2019. A diária média do primeiro trimestre de 2022 fechou 33% acima de 2021 e 21% acima de 2019, e no segundo trimestre fechou 38% acima de 2021 e 16% acima de 2019. Já a taxa de ocupação, no primeiro trimestre de 2022, fechou 45% acima de 2021 e 6% abaixo de 2019, e no segundo trimestre fechou 66% acima de 2021 e 1% abaixo de 2019. A expectativa de ocupação para julho é de 60%. Em ocupação, estamos performando um pouco abaixo de 2019, pois os hotéis têm colocado o foco no incremento da ADR.
Em meio à pandemia o senhor esteve à frente de um processo de negociação com a Vert Hotéis. Quantos hotéis foram agregados ao portfólio e o que mudou após a fusão? Houve crescimento da receita?
Em 2018, firmamos uma aliança estratégia com a Vert Hotéis e em 2020 concluímos a aquisição de 22 hotéis ao portfólio da Atlantica, o que gerou um incremento de receita de 6% a 8%. Após essa fusão, passamos a ter o direito de desenvolver as marcas eSuites, Ramada e Ramada Encore. Ampliamos a cobertura geográfica e nos fortalecemos, principalmente no mercado de Minas Gerais. Além disso, adicionamos artigos de relacionamento importantes, com novos investidores, novos parceiros/fornecedores e trade.
Quais são os projetos em desenvolvimento atualmente pela Atlantica? Quantas novas aberturas estão previstas para esse ano e os próximos?
Superamos o desafio da pandemia e saímos mais fortes. Estamos avançando em várias frentes, a perspectiva é finalizar 2022 com 24 novos hotéis. O nosso planejamento segue firme e estimamos alcançar a meta de 300 unidades em 2026, com uma receita de R$ 3bi.
Entre os novos projetos, aumentamos o nosso portfólio de hotéis de lazer. Anunciamos recentemente a assinatura de contrato para a operação de mais uma unidade da bandeira DoubleTree by Hilton, desta vez na cidade turística de Foz do Iguaçu, no estado do Paraná; além disso, lançamos o Cyan Resort by Atlantica, localizado na cidade de Itupeva, no interior de São Paulo, tendo como principal novidade um complexo com mais de 5.300 m² de lazer, que atende os mais diferentes públicos. Ainda, temos previsão de abertura de mais cinco hotéis focados em lazer: Ecoresort Dunas de Marapé (AL), eSuites Esmeraldas (MG), Radisson Flecheiras (CE), DoubleTree by Hilton Canela (RS) e Hilton Garden Inn Itapema (SC).
O segmento de residenciais com serviços da vertical Atlantica Residences também é uma das apostas de crescimento da Atlantica, fortemente embasada em inovação, focado no cliente que quer se sentir em casa ao se hospedar e que busca a praticidade e as facilidades de uma moradia planejada e bem localizada, com conforto, qualidade e segurança. Estamos com mais de 26 contratos assinados e uma estimativa de encerrar o ano com 40. Oferecemos ao mercado quatro tipos de residenciais com serviços prototipados: m/ode (econômico), e/joy (intermediário), u/rbit (lifestyle) e e/pic (luxo), além da chancela by Atlantica Residences para hotéis convertidos em residenciais com serviços. Em operação, temos studios da marca e/joy, na Vila Mariana e no Butantã (SP), o Bela Cintra Stay by Atlantica Residences (SP) e o Moinhos Park by Atlantica Residences (POA). Ainda neste ano, lançaremos os primeiros e/pic e u/rbit. Para os próximos cinco anos, pretendemos contar com aproximadamente seis mil studios e apartamentos no portfólio, advindos da parceria com mais de 15 incorporadoras em território nacional.
Em uma terceira área de atuação, passamos a administrar empreendimentos multipropriedade, modalidade praticada principalmente em destinos de lazer, com conceito de segunda moradia ou casa de temporada. Nessa vertical, utilizamos as mesmas tecnologias e formas de gestão administrativas e operacionais dos hotéis e residenciais, cuidando de todo o fluxo hoteleiro e gestão condominial do empreendimento.
A meta de atingir 40 mil quartos em 2025 se mantém ou foi reformulada por causa da grave crise vivida pela hotelaria?
Pretendemos aumentar em 57% a disponibilidade de quartos no pool em 2026, seguindo nosso objetivo de ofertar mais de 40 mil quartos pelo território nacional, conforme anunciamos em 2021.
Qual é a previsão de faturamento para 2022? E qual é a sua expectativa para atingir a meta.
A projeção de faturamento é muito positiva, inicialmente de R$ 1,35 bilhão, porém agora deve superar R$ 1,5 bilhão. O valor representa uma alta de 80% sobre o registrado no ano passado e de 30% ante 2019.
A Atlantica trabalha com importantes bandeiras internacionais. Como é administrar os interesses de cada uma delas? Há ou já houve algum tipo de conflito?
A Atlantica Hospitality International tem parcerias de longas datas, desde 1998 com Choice Hotels, desde 2001 com Radisson Hotel Group e desde 2012 com Hilton. Construímos um ótimo relacionamento com cada uma das marcas, baseado na confiança mútua e muita proximidade, o que gera segurança nos serviços que oferecemos. À exemplo, a Hilton nos confiou a gestão do primeiro hotel da marca Motto by Hilton na capital paulista, que tem abertura prevista para 2024, além de mais dois Double Tree by Hilton, sendo um em Porto Alegre e o outro na cidade de Foz do Iguaçu. E, em outubro, também inauguramos o primeiro Park Plaza da Radisson em Porto Alegre.
Durante a 23ª convenção anual, a Atlantica anunciou o Onby, novo produto com conceito de autosserviço, e o programa de fidelidade Let’s Atlantica. Fale sobre esses dois novos produtos.
Os dois projetos serão lançados oficialmente no segundo semestre. Na ocasião, vocês terão todos os detalhes.
Em 2021, o senhor assumiu a presidência do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil). Como está se sentido nessa função associativa e quais os planos até 2024, quando termina o seu mandato?
Assumi como presidente do conselho do FOHB, apoiando Orlando de Sousa, presidente executivo da entidade associativa. Meu papel é priorizar e estabelecer a pauta da entidade, representar institucionalmente o grupo em fóruns junto às autoridades governamentais e grupos organizados da sociedade civil, alinhar prioridades com os pares do setor e fomentar a aproximação do FOHB com outras entidades representativas da cadeia do turismo.
A hotelaria é um elo fundamental na cadeia de valor do turismo nacional. Nosso setor é de extrema importância social e econômica para o país, não só pela representatividade no PIB, como também por sua capacidade de geração de empregos. Somos promotores de inclusão social, pois empregamos, capacitamos e desenvolvemos profissionais na base da “pirâmide”. Nossos esforços estão direcionados para as pautas de reformas estruturais necessárias para a plena recuperação do setor pós-pandemia.
Essa nominação também demonstra o compromisso da Atlantica para o desenvolvimento saudável do setor. Acreditamos e lutamos por um ambiente competitivo saudável, com regras claras e justas a todos os players e partes relacionadas da hotelaria. Sempre vimos o FOHB como o condutor e maestro deste processo.