O aplicativo de transporte Uber e o MeToo Brasil criaram uma série de vídeos para combater a violência sexual que acontece diariamente com as mulheres nos transportes. Nessa série, são apresentados os tipos de comportamento que não são tolerados na plataforma.
por Karina Pio – freelancer para o DIÁRIO
As empresas citadas acima usam como referência um estudo realizado pelo Instituto Patrícia Galvão e pelo Instituto Locomotiva em fevereiro de 2019. A pesquisa, de âmbito nacional, ouviu mais de mil brasileiras de várias classes sociais que utilizaram algum transporte, seja público ou por aplicativo.
Veja também as mais lidas do DT
“A pesquisa confirma que, infelizmente, o assédio sexual no transporte e nas viagens em geral faz parte da rotina das mulheres brasileiras. Para elas, que em sua maioria estudam e trabalham fora de casa, a segurança no deslocamento é uma questão essencial”, afirma a diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, Jacira Melo.
Veja o vídeo
Mas afinal, o que é assédio sexual?
De acordo com o artigo 216-A do Código Penal, é o ato de “constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual” e para ser configurado assédio sexual precisa haver uma relação de subordinação entre vítima e agressor.
As violências que acontecem em outros contextos, são classificados como estupro ou importunação sexual – muito comum em meios de transporte – e também se caracterizam como crime.
E não se enganem, estas agressões podem ser mais que o toque não permitido. Os olhares insistentes, cantadas indesejadas, comentários de cunho sexual, ser fotografada sem permissão, por exemplo, também são violência.
De maneira geral, o assédio e a violência sexual são uma série de condutas que não respeitam a liberdade e integridade física, moral ou psicológica de alguém.
As Mulheres no transporte
O DIÁRIO ouviu algumas mulheres que utilizam os meios de transportes diariamente. A professora Camila Cravo, 30, diz que não sentava nos assentos ao lado do corredor no ônibus: “Era batata!, só sentar no banco do corredor que chegava algum homem e ficava se esfregando em mim e a culpa era da condução por ser pequena ou da lombada que a balançava… Essa situação era muito comum, acontecia muitas vezes. Eu preferia ir em pé o caminho todo.” Hoje a professora tem um veículo próprio para se locomover pela cidade.
Infelizmente, mulheres de todas as idades estão sujeitas as violações nos meios de transportes. A turismóloga Jessica Karolina, de 31 anos, narrou o que aconteceu em sua adolescência.
“Eu estava em pé em um ônibus cheio e tinha um cara encostando em mim. O que eu mais me lembro foi a sensação de ser observada pelo reflexo do vidro e eu, adolescente, achei que estava sendo paquerada. Mas fui percebendo que ele estava muito perto e eu me senti incomodada. Até então, não sabia que era assédio. E se eu me senti desconfortável é porque realmente foi assédio”, disse ela, afirmando que hoje adota algumas medidas para tentar prevenir possíveis importunações: “eu sempre tento sentar no lado da janela e coloco uma bolsa na frente do corpo” concluiu.
Assédio no carro de aplicativo
Já a Jessica Martins, estudante de 24 anos, nos relatou um episódio que aconteceu dentro de um carro particular que solicitou por meio de um aplicativo. “Um dia o motorista começou a fazer perguntas muito pessoais. Questionou se eu realmente estava indo para minha casa, quem morava comigo, se eu tinha namorado e o que eu fazia nos finais de semana”, expôs a estudante e ela ficou incomodada com as perguntas.
Isso é tão violento que pode gerar inúmeras consequências, as vezes irreversíveis, às vítimas: depressão, estresse, sentimento de culpa, mal-estar mental e físico, insegurança, medo, isolamento entre outros.
É fundamental que haja um combate efetivo a esses crimes, para que todas as pessoas, principalmente as mulheres, se sintam confortáveis e seguras nos meios de transportes ou em qualquer outro lugar.
“É importante não só aplicar a lei que criminaliza essa prática, como também desenvolver políticas e mecanismos para prevenção, para garantir que as brasileiras possam se sentir seguras ao exercerem seu direito de ir e vir, garantindo também seu direito a uma vida sem violência”, afirma Jacira Melo, diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão.
Como denunciar?
Uma das formas de denúncias é a ligação gratuita no Ligue 180, um programa do governo federal que encaminha as denúncias aos órgãos competentes.
Além disso, pode-se registrar a queixa em qualquer delegacia de polícia, preferencialmente em um delegacia da mulher.
Apresentar provas no momento de registrar o boletim de ocorrência auxilia na investigação e no processo. De acordo com a Prefeitura de São Paulo, e-mail, prints de tela, gravações, áudios, fotos e similares, além do relato de testemunhas, podem ser elementos de prova.
Assédio ou qualquer violência sexual não é elogio. Não é paquera. Não é legal.