Os 140 quilômetros entre Altamira e a fazenda Panorama, da família Gutzeit, tem ao menos 60 deles de puro chão, o que torna a viagem mais interessante e emocionante!
Por Paulo Atzingen, de Uruará (PA)*
A fazenda é de um dos pioneiros da Transamazônica, Ervino Gutzeit, e se destaca pela variedade de cacau plantado, desde o cacau consorciado com outros frutos nativos, roças inteiras em modelo intensivo, cacau híbrido e clonado.
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A entrada da fazenda tem uma escultura do fruto cacau, o que simboliza a base econômica não só da fazenda, mas de toda a região.
Fomos recebidos pelas irmãs Elcy Gutzeit e Eunice Gutzeit. Elcy é a gestora e administradora da fazenda e Eunice cuida da imagem e representa a Panorama nas feiras nacionais e internacionais.
Elcy tem um histórico admirável à frente da fazenda: ganhou inúmeros prêmios com a produção de cacau, como o AgroPará e foi coroada como a Rainha do Cacau na região de Altamira por sua relevância na gestão, produção e refinamento da amêndoa do cacau. “Minha família é pioneira no negócio do cacau há 25 anos. Fui para a Suiça estudar a essência do chocolate e voltei para continuar a saga da família Gutzeit no setor”, disse a executiva.
Asfalto, urgente!
De acordo com Elcy, existem alguns desafios ainda a serem enfrentados para que a região floresça economicamente, tendo o cacau como carro chefe. Um deles é a falta de estradas. “Só existe asfalto até Medicilândia e isso dificulta muito e incide no custo-benefício do nosso negócio. Precisamos urgente de asfalto de Medicilândia até Uruará (BR-230 – Rodovia Transamazônica), que são 40 quilômetros”, cobrou. Ela me adianta que uma equipe do Ministério do Turismo estaria visitando a região na última semana de junho e tratariam deste assunto.
Sistema Agroflorestal (SAF)
Andando pela vasta fazenda acompanhado por Eunice Gutzeit ela me explica o principal sistema de plantio na propriedade: “Utilizamos o Sistema Agroflorestal (SAF), que é uma maneira de praticar a cacauicultura consorciada a outras culturas agrícolas”. À medida que andávamos pelas terras da Panorama comprovava isto: avistava pés de castanha, cameleiras, cajá, manga, jenipapo e outras que não conheço. O nome popular do SAF é “Cabruca”, termo que veio da Bahia.
Eunice me leva a uma área onde existem pés de cacau clonado e me explica a diferença entre cacau clonado e cacau híbrido. “Os clones são cópias de plantas melhoradas geneticamente para serem mais produtivas e resistirem a doenças. Já os híbridos são plantas cruzadas entre plantas diferentes e trazem características de ambas”, esclarece.
Ela enfatiza que esse programa de melhoramento genético é graças à Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), que desenvolve ao longo de décadas diversas cultivares de cacau também na Transamazônica.
Falta mão de obra
Eunice Gutzeit é vice-presidente da Associação Nacional dos Produtores de Cacau (ANPC), e além de me explicar sobre a cultura do cacau também me alerta sobre a grande dificuldade na contratação de mão de obra, principalmente para a produção de cacau fino. “Este problema não é só no Pará, mas em todo o Brasil. É importante que o setor se mobilize mais uma vez buscando mecanização e políticas públicas eficientes para o avanço da produção do cacau do Brasil, aproveitando o momento promissor de expansão e valor da arroba no mercado”, disse-me.
Segundo ela, muitos dos trabalhadores que atuavam na colheita do cacau tiveram a oportunidade de comprar a própria terra e agora estão focados na própria produção. “Isso é muito bom porque esses funcionários viraram empresários, pequenos produtores, mas nossa escassez de mão de obra é desesperadora, tem muito cacau “passando do ponto”, o que é péssimo para a qualidade”, afirma.
Banho de chocolate
A manhã na Fazenda Gutzeit foi coroada com um nascer do sol ao som de canto de pássaros (veja vídeo!). Após um café da manhã cuidadosamente preparado para o visitante, fui convidado para conhecer o projeto de spa do chocolate, que Eunice sonha em colocar em prática em 2025.
É uma autêntica imersão no seu sentido mais amplo e profundo do termo. Tanto a pele como a alma se rendem à energia da terra nos oferecida pelos pés de cacau, retiradas das amêndoas e transformadas em chocolate.
A hospitalidade da família Gutzeit, traduzidas por Elcy, Eunice e Helton levarei como um diadema em minhas lembranças.
A série sobre a Rota Turística do Cacau e do Chocolate termina aqui
É importante destacar que a meta estabelecida pelo governo brasileiro por meio da Ceplac no Plano Inova Cacau 2030 é ambiciosa: alcançar a produção de 400 mil toneladas até 2030, o que colocaria o Brasil em destaque como o quarto maior produtor global. Só o Pará produziu 150 mil toneladas de amêndoas ao longo de 2023, segundo a Ceplac. Além disso, a busca é por uma posição de liderança não apenas em volume, mas também em qualidade e sustentabilidade na produção de cacau. Este objetivo já está sendo trabalhado em projetos e iniciativas que visam a consolidar o Brasil como uma referência mundial informam fontes.
Essa força na economia do cacau impulsiona outros segmentos como o turismo, os eventos e as viagens.
A região visitada destaca-se pela produção de chocolates finos, que tem um impacto significativo no mercado devido a sua qualidade superior, principalmente por sua sustentabilidade na produção, apresentadas aqui, nas reportagens (veja abaixo) .
A União Europeia trabalha a implementação do Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR), previsto para entrar em vigor em 2025, quando só poderão importar commodity agrícola livre de áreas de desmatamento.
Portanto, produção de cacau, turismo consciente e preservação do ambiente são as grandes tendências para o futuro, em especial na região da Transamazônica, no Pará.
SERVIÇO:
Fazenda Panorama – Familia Gutzeit – oferece café da manhã, passeio nas instalações para conhecer o processo de produção do cacau e degustação dos chocolates produzidos
Rodovia Transamazônica – BR-230, KM 140 – Norte (7 Km da rodovia)
(93) 99235-6251
email: contato.gutzeit@gmail.com
instagram: gutcacao / fazendapanorama.agr.br
*O jornalista Paulo Atzingen viajou a convite da Prefeitura de Altamira e da Rota Turística do Cacau ao Chocolate
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