Eco-distância – aos cacaueiros da Transamazônica

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por Paulo von Atzingen*

Na eco-distância deste rio de milênios
entre glebas de castanha
e minas de ferro
campos de soja e de vacaria
surgem esse novo garimpo
esse ouro ao contrário
que também brota da terra
e impõe seu tratado
mais natural, mais puro, mais limpo.

Na eco-distância desses braços de água
em sua grande curva de rio infinito
nasce um novo reinado
moderno e sofisticado
em que o próprio rei é o fruto
e quem governa
é o homem que
havia sonhado.

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Na eco-distância dessas estradas em pó
entre a terra das grotas e a serra das mágoas
fermenta no cocho a semente
e a química
a dança misteriosa das bactérias
faz um pacto com o tempo
e o milagre acontece:
a semente morre
e ressuscita
alimento.

Na eco-distância do ser florestal
rasgado por uma linha reta
cercada por jaguatiricas e antas
araras e homens sem lei
um terçado abriu a trilha
para o castanhal deposto
para o jequitibá morto
para o angelim decapitado
para o jacarandá serrado ao meio
para o mogno tombado vivo.

Na eco-distância de um mundo ideal
entre fumaças de um ontem
e castelos de cinzas
extirpa-se do ser o mal
a fórceps
e semeiam no meio da pátria tropical
no centro do sol equinocial
esse ouro futuro
de abastança, de fartura e boa herança:

O cacau.

Medicilândia, Transamazônica (PA), 22 de junho de 2024


*Paulo Atzingen é jornalista, cronista e poeta. Fundou o DIÁRIO DO TURISMO

 

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