Feminista, Nísia Floresta defendeu direitos das mulheres há 200 anos

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Uma feminista e abolicionista que chocou a sociedade potiguar no século XIX é só a primeira mostra do que conhecemos nesta quinta-feira (26) em Nísia Floresta (RN)

Por Paulo Atzingen*

Matéria publicada originalmente em 27 de agosto de 2017 e reeditada em homenagem às mulheres


Neste segundo dia do roteiro dos Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçu no Rio Grande do Norte, conhecemos o museu Nísia Floresta, onde está guardado grande parte da história da educadora, escritora e poetisa brasileira, defensora de índios, pobres e mulheres, há 200 anos atrás: Nísia Floresta. Nesta mesma quinta-feira conhecemos a origem da Campanha da Fraternidade no Brasil e a Casa de Pedra, cenário do segundo massacre imposto pelos holandeses aos mártires católicos (confira primeira matéria).

Nísia Floresta, à frente de seu tempo, até hoje

A mais notável

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Considerada a mais notável mulher que a História do Rio Grande do Norte já teve, Nísia Floresta Brasileira Augusta levantou várias bandeiras dos direitos civis que são até hoje discutidos e debatidos. De uma tacada só, ela foi defensora de ideais abolicionistas, republicanos e principalmente feministas, posicionamentos inovadores para os anos 30 do século XIX.

“Falar de Nísia Floresta é falar de liberdade, de emancipação feminina, de direitos civis. Ela foi uma abolicionista, escreveu livros, culta. Temos muito orgulho dela”, disse o guia de turismo e historiador, Adriano Felipe, ao DT.

Adriano Felipe, historiador e guia de turismo

Prêmios

O museu, no coração da cidade, fica na Praça Coronel José de Araújo, 135 e já recebeu dois prêmios nacionais:  o Prêmio Mais Museus do IPHAN / IBRAM (2009) e o Prêmio da Fundação Banco do Brasil – Reconhecido como uma Tecnologia Social (2017).

Nossa visita foi guiada por Mircherlânia de Souza, museóloga, que nos mostrou o Útero Materno, uma sala em espiral onde há fotografias das fortes mulheres nordestinas.

Campanha da Fraternidade Nasceu em Nísia Floresta

Embora os registros apontem para bispos e padres responsáveis a darem um aspecto mais “oficial” à Campanha da Fraternidade, a verdade é que ela nasceu a partir do coração de três ou quatro missionárias que viviam em Nísia Floresta e que foram denominadas irmãs vigárias. Visitamos a “Casa Rainha dos Apóstolos, onde viviam as missionárias e fomos recebidos por Maria Aparecida, a administradora da casa.

Maria Aparecida: “Eram piedosas, misericordiosas e a única coisa que possuíam era um jeep para levar alimento para os necessitados”

Ela nos mostra as fotos, móveis e utensílios onde viveram as irmãs e conta alguns aspectos curiosos das irmãs-vigárias: “Eram piedosas, misericordiosas e a única coisa que possuíam era um jeep para levar alimento para os necessitados, trazer e levar doentes para o hospital”, afirma Aparecida. A Casa foi fundada em 1962, por iniciativa de Dom Heitor de Araújo Sales, Arcebispo Emérito da Arquidiocese de Natal.

Experiência Revolucionária

Essas irmãs foram chamadas de vigárias porque assumiram funções que até então eram apenas destinadas aos padres, como batizar e distribuir a hóstia. Visitamos também a capela de São Gonçalo do Amarante, no distrito do Timbó, ainda em Nísia Floresta. Lá fomos recebidos por Piedade, administradora da capela.

As irmãs-vigárias em pleno exercício de seu trabalho de amor ao próximo (reprodução)

“Eu convivi com essa história, as missionárias procuraram minha mãe para se hospedarem lá em casa. Eu tinha dois anos de idade. Minha mãe, que era professora e meu pai agricultor – mesmo com essas condições tão simples, nós as recebemos, foi a melhor coisa que fizemos na vida”, adianta Piedade ao DIÁRIO. Ela acrescenta que a escolha de Timbó para o trabalho misericordioso das irmãs desenvolveu na comunidade um espírito de solidariedade que perdura até hoje.

Piedade: “Eu convivi com essa história, as missionárias procuraram minha mãe para se hospedarem lá em casa”

“Elas desenvolveram essa comunidade, trouxeram pedreiros para dar curso. Nossas casas, antes de palha, passaram a ser de tijolos. Trouxeram material para que as casas tivessem banheiro. Levaram pessoas daqui para aprenderem artesanato”, enumera dona Piedade.

Piedade completa: “Elas foram as primeiras ministras extraordinárias do mundo, a receberem a graça para batizar, distribuir a hóstia e outras atividades que só os padres faziam”, completa.

Com a chegada do Pároco (padre responsável por uma paróquia) em 1991 as irmãs foram transferidas, deixando o seu legado.

Casa de Pedra, o massacre dos anônimos

Retornamos ao período do Brasil colônia ao visitarmos nesse segundo dia a Casa de Pedra, uma edificação robusta construída por volta de 1570, antes mesmo da Fortaleza dos Reis Magos, em Natal.

Segundo Sidnésio Moura, coordenador do Fórum Nacional e Regionais de Turismo Religioso e idealizador e Coordenador do Caminho dos Santos Mártires do Brasil, a Casa de Pedra é uma construção portuguesa e foi usada de diversas formas, feitoria, como casa e até mesmo como fortaleza.

“Aqui na casa de pedra aconteceu o segundo morticínio. Nela foram martirizados de 15 a 16 empregados, que são aqueles santos (leigos ou anônimos) que o papa João Paulo Segundo e o Papa Francisco citam; são esse anônimos que foram mortos aqui”, explica Sidnésio Moura.

Sidnésio lembra que em março do ano de 2017, o Papa Francisco anunciou a canonização de 30 novos santos brasileiros. Com o decreto papal, os padres André de Soveral e Ambrósio Francisco Ferro, junto a Mateus Moreira e outros 27 leigos, ou seja, os anônimos, foram santificados.


**O jornalista viajou a convite dos municípios de Canguaretama, Nísia Floresta, São Gonçalo do Amarante e Natal (integrantes do Roteiro Caminho dos Mártires Santos) com o apoio da Foco Turismo Operadora, da WHel Tour Receptivo e do hotel Praia Bonita.

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