O presidente da França, Emmanuel Macron, delineou ontem uma saída minuciosa do lockdown nacional imposta contra o coronavírus, em meio a uma forte disputa em seu Gabinete sobre a rapidez com que reabrir a economia.
Dow Jones Newswires, de Paris
De um lado estava o premiê e autoridades de saúde, favoráveis a que as medidas de lockdown continuassem em vigor. Do outro estava o ministro da Economia, apoiado pelos varejistas, que veem na temporada de compras de Natal um momento decisivo.
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Em discurso pela TV, Macron buscou um equilíbrio entre os dois lados. Disse que a partir de sábado as lojas podem reabrir, mas sob regras estritas de distanciamento social. Se o número de novos casos diários cair para menos de 5.000, o governo suspenderá o lockdown em 15 de dezembro e o substituirá por um toque de recolher a partir das 21h – com exceção dos dias de Natal e Réveillon Já os bares e restaurantes permanecerão fechados pelo menos até 20 de janeiro.
“Precisamos fazer de tudo para evitar uma terceira onda, pare evitar um terceiro lockdown”, disse.
“Às vezes o desânimo toma conta, os debates ficam acalorados”, acrescentou. “Nestes momentos, não devemos nos deixar levar.”
A França, país mais atingido da segunda onda na Europa, tornou-se um barômetro para os governos ocidentais divididos entre a necessidade de salvar vidas e os prejuízos econômicos causados por novas interrupções.
Este dilema afeta países por toda a Europa. Lockdowns rígidos ajudaram a desacelerar a propagação do vírus na Itália, na Espanha e no Reino Unido, mas também tiveram um alto custo econômico. Na Alemanha, onde o governo não foi tão severo, as medidas limitadas impostas no início deste mês não conseguiram reduzir substancialmente os casos de coronavírus.
“A reversão da tendência que esperávamos ver em novembro não se materializou”, escreveram os governos central e regionais da Alemanha, num esboço de conclusões a que o “The Wall Street Journal” teve acesso. Esses governos se reunirão hoje para discutir a possibilidade de endurecer as medidas e estendê-la até 20 de dezembro.
A tensão começou a crescer dentro do governo de Macron já no início do segundo lockdown da França, em 30 de outubro. O ministro das Finanças, Bruno Le Maire, começou a pressionar para que as lojas tivessem permissão para reabrir. O premiê Jean Castex resistiu.
Um dos fatores que alimentam a tensão é a determinação de evitar a repetição de erros passados. As autoridades econômicas do país querem limitar as medidas draconianas que fizeram do lockdown do começo do ano na França um das mais rígidos, com escolas e lojas não essenciais fechadas e pessoas obrigadas a ficar em casa. Isso levou a economia a encolher quase 14% no segundo trimestre, um recorde pós-Segunda Guerra.
Já as autoridades de saúde querem evitar o erro cometido de relaxar as medidas rápido demais. “De fato, é possível que tenhamos encerrado o lockdown um pouco cedo demais”, disse Castex ao Parlamento na semana passada.
Durante todo esse tempo, Macron vacilou entre os dois campos, às vezes ignorando seus assessores científicos e às vezes dando força ao lockdown. Quando o número de novos casos começou a aumentar de novo, durante o verão, Macron relutou em tomar medidas drásticas que poderiam atrapalhar a recuperação econômica do país.
“Um lockdown é a medida mais tosca para lutar contra um vírus, a coisa mais simplória que fizemos desde a Idade Média”, disse Macron a jornalistas em 28 de agosto.
No início de setembro, o chefe do conselho científico que assessora as autoridades francesas sobre como enfrentar a pandemia, disse estar preocupado com a evolução da epidemia na França. Macron indignou-se com a sugestão de um novo lockdown e disse que o governo tinha como objetivo reduzir o contágio ao mesmo tempo em que continuava a permitir que as pessoas vivessem da maneira mais normal possível, acrescentando que cientistas não fazem políticas.