A hoteleira Gabriela Schwan Poltronieri dá um novo passo em sua carreira com a criação da Gabriela Schwan Hospitality Consulting. Com isso, ela deixa o cargo de CEO da Rede Swan, mas segue como Conselheira Estratégica da empresa da família.
Em entrevista concedida ao DIÁRIO, Gabriela informa que o propósito desse novo momento é trabalhar uma hospitalidade que conecta, trazendo soluções inovadoras e transformadoras para a hotelaria brasileira. “Quero ajudar outros hoteleiros a reposicionar estrategicamente seus negócios e produtos no mercado, trazendo a reputação de marcas e produtos de turismo a outros patamares mais atuais e rentáveis”, destaca Gabriela, que é vice-presidente do Transforma RS, conselheira da AMCHAM, membro do Nexo Governança Corporativa, conselheira do Turistech Hub, co-founder, sócia e conselheira estratégica e de novos negócios da rede Swan Hotéis, vice-presidente do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB) e cofounder do projeto RSNASCE. Confira, a seguir a entrevista, concedida ao editor do DIÁRIO, jornalista Paulo Atzingen:
DIÁRIO — Gabriela, o que a motivou a criar a Gabriela Schwan Hospitality Consulting neste momento da sua trajetória?
Depois de anos liderando marcas e desenvolvendo hotéis no Brasil e em Portugal — transitando pela hotelaria urbana, de lazer, condo-hotéis, hotéis tradicionais e multipropriedade — e enfrentando os maiores desafios contemporâneos do setor, como a pandemia e as recentes crises climáticas no Rio Grande do Sul, percebi que era hora de transformar toda essa vivência em um legado ainda maior, que fosse além da nossa rede familiar, a Swan Hotéis.
A consultoria nasce do desejo profundo de apoiar empresas e líderes do setor a se reposicionarem estrategicamente, integrando propósito, cultura organizacional e inovação. É um novo ciclo da minha carreira — mais maduro, autoral e conectado com aquilo em que acredito: marcas fortes são aquelas que entregam valor real, emocional e duradouro.
DIÁRIO — Como você enxerga a principal lacuna que existe hoje no mercado de hospitalidade e que sua consultoria pretende preencher?
A principal lacuna que enxergo está na desconexão entre propósito, operação, cultura de hospitalidade e percepção de valor. Muitas marcas ainda operam com foco quase exclusivo em produto ou ocupação, sem conseguir traduzir sua essência em experiências memoráveis, cultura organizacional coerente e diferenciais competitivos genuínos.
Minha consultoria atua justamente nesse ponto de interseção: revelando o DNA da marca e transformando-o em posicionamento estratégico, produtos com identidade e experiências que geram conexão emocional com o hóspede — e valorização do negócio no longo prazo. Porque hoje, mais do que entregar uma boa estadia, é preciso criar marcas que deixem marca e construam legado.
DIÁRIO — Que diferenciais você pretende trazer em termos de inovação para os grupos hoteleiros que buscarão a sua expertise?
A inovação que proponho vai muito além da tecnologia pela tecnologia. Ela começa com um ambiente colaborativo, onde diferentes saberes, visões e talentos se encontram para gerar soluções verdadeiramente transformadoras. Inovar, para mim, é ouvir com atenção, compreender os desejos das novas gerações de viajantes e traduzir a vocação de cada território em experiências autênticas.
Trago uma abordagem personalizada, que une inteligência estratégica e sensibilidade às tendências emergentes. Entre os diferenciais que aplico estão: modelos híbridos de hospitalidade, hubs de conexão e experiências, curadoria cultural e sensorial, novas formas de monetização, colaborações criativas e a integração de tecnologias que ampliam — e não substituem — o fator humano.
A inovação, quando tem propósito, transforma a percepção de valor da marca, potencializa a experiência do hóspede e impulsiona resultados sustentáveis para o negócio.
DIÁRIO — Na sua visão, quais serão as grandes tendências que devem impactar a hotelaria brasileira nos próximos cinco anos?
As tendências que vão moldar a hotelaria brasileira nos próximos anos já estão se consolidando globalmente — e exigirão das marcas uma capacidade real de adaptação, leitura cultural e reinvenção estratégica. A personalização da experiência, potencializada por dados e inteligência artificial, será um divisor de águas, assim como o fortalecimento da autonomia do hóspede por meio de soluções digitais integradas e intuitivas.
Modelos híbridos devem se expandir com força: coliving, multipropriedade, timesharing, sistemas por pontos, hospedagem por assinatura, branded residences e formatos de uso misto que combinam hospitalidade, bem-estar, saúde e lifestyle. Veremos o crescimento do quiet luxury, da busca por sustentabilidade concreta, da valorização da identidade local e de marcas com alma — aquelas que traduzem propósito em cada detalhe da jornada.
No Brasil, essas tendências ganham nuances únicas. Temos uma riqueza cultural incomparável, mas também enfrentamos desafios operacionais e tecnológicos. Por isso, as marcas que conseguirem unir hospitalidade de raiz com inovação sistêmica e sensível estarão na vanguarda do setor.
Acredito que o futuro da hotelaria não está mais em vender diárias, e sim em criar comunidades, experiências e marcas que realmente importem na vida das pessoas.

DIÁRIO — Você mencionou a importância de reposicionar marcas no setor. Quais são os primeiros sinais de que um produto ou serviço de turismo precisa passar por um reposicionamento?
O reposicionamento se torna necessário quando há um desalinhamento entre a proposta da marca e a percepção do público. Os primeiros sinais surgem em indicadores como perda de competitividade frente aos concorrentes, dificuldade de comunicar valor, baixa fidelização ou engajamento do cliente. Muitas vezes, o alerta mais contundente vem de dentro: quando até os próprios colaboradores já não conseguem traduzir com clareza o que a marca representa.
Outro ponto crítico é a desconexão com os novos perfis de viajantes. Hoje, as grandes marcas muitas vezes priorizam modelos escaláveis, mas acabam não aprofundando na diversidade de experiências que as novas gerações esperam encontrar — experiências mais sensoriais, autorais e com propósito.
Foi justamente diante dessa percepção que criamos projetos como o Swan Generation, um hub urbano de conexões que une hospedagem, coliving, coworking e eventos culturais — reposicionando a marca para dialogar com o novo viajante urbano. E também o Jangal das Araucárias, um produto de natureza voltado ao bem-estar, com identidade local forte e um lifestyle alinhado à regeneração.
Reposicionar não é só mudar a aparência — é revisitar a essência da marca, ressignificar sua entrega e torná-la relevante para os desejos, valores e expectativas do hóspede contemporâneo.
DIÁRIO — De que forma o lifestyle, o design e a cultura se tornaram elementos indispensáveis para o sucesso de marcas de hospitalidade hoje?
A hospitalidade contemporânea vai muito além da boa prestação de serviços — ela se tornou uma expressão do estilo de vida do hóspede e dos valores que ele carrega. O que diferencia uma marca hoje é a capacidade de criar experiências que reflitam identidade, pertença e autenticidade. Nesse contexto, lifestyle, design e cultura deixaram de ser acessórios e se tornaram elementos centrais da estratégia.
O design comunica narrativa, desperta emoções e orienta a jornada. A cultura local, quando bem interpretada, conecta a marca ao território de forma única. E o lifestyle cria coerência com o público que se deseja atrair. Mas nada disso é completo se não tocar também o coração da comunidade em que o hotel está inserido — e principalmente dos seus colaboradores. Eles precisam se sentir parte viva desse propósito, pois são eles que o colocam em prática diariamente.
Projetos como o Jangal das Araucárias, com sua imersão na natureza e valorização da arquitetura regional, e o Swan Generation, com sua atmosfera urbana, criativa e colaborativa, são exemplos disso: marcas que criam pertencimento e conexão genuína, de dentro para fora. Em tempos de excesso de oferta e de informação, serão essas marcas — enraizadas e verdadeiras — que permanecerão relevantes no coração dos hóspedes.
DIÁRIO — Você foi pioneira em hubs de hospitalidade como o Swan Generation. Na sua opinião, qual o papel da tecnologia para a competitividade do turismo brasileiro?
A tecnologia é uma aliada estratégica — mas precisa ser aplicada com propósito. Seu papel não é substituir a hospitalidade humana, e sim ampliá-la: tornar a operação mais eficiente, facilitar a jornada do hóspede e permitir que as equipes se concentrem no que realmente importa — cuidar das pessoas e criar conexão. No Swan Generation, a tecnologia nos permitiu empoderar o hóspede, simplificar processos e integrar soluções alinhadas ao estilo de vida digital das novas gerações. Tudo isso sem perder a essência da hospitalidade acolhedora, criativa e humana.
Durante a missão que realizei à China, ficou evidente o quanto o Brasil ainda precisa avançar na integração de soluções digitais e na adoção de tecnologias com APIs abertas e interoperabilidade. Lá, a automação da jornada do hóspede já é realidade — com check-ins por reconhecimento facial, robôs de delivery e apartamentos altamente automatizados, o que eleva a experiência a um novo patamar.
No Brasil, o desafio está em equilibrar essa inovação com as nossas particularidades culturais e operacionais. A competitividade do turismo brasileiro passa por investir em tecnologias que gerem eficiência, encantamento e autonomia para o hóspede, sem perder o toque humano como diferencial. Além disso, é urgente que os grandes players de tecnologia no país atuem de forma mais colaborativa e integrada, promovendo um ecossistema que realmente viabilize a inovação.
O futuro da hospitalidade será digital, sim — mas continuará sendo, acima de tudo, profundamente humano.
Expandir a marca Swan para Portugal foi um movimento estratégico, mas também profundamente emocional. Era um desejo antigo do meu pai — e só se concretizou quando encontramos o projeto, o momento e as pessoas certas
DIÁRIO — Como foi o processo de expansão da marca Swan para Portugal? Quais as diferenças mais marcantes entre operar no Brasil e na Europa?
Expandir a marca Swan para Portugal foi um movimento estratégico, mas também profundamente emocional. Era um desejo antigo do meu pai — e só se concretizou quando encontramos o projeto, o momento e as pessoas certas, em plena sintonia com o nosso DNA de hospitalidade. O processo exigiu uma leitura cuidadosa do mercado local, adaptação cultural, sensibilidade para a economia criativa e uma escuta ativa para compreender os valores do viajante europeu.