HOTEL: local errado, dinheiro no lixo – por Fábio Steinberg*

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A triste cena se repete pelo Brasil. Um empreendedor bem intencionado compra terreno lugar aprazível e, para economizar, constrói hotel por conta própria. Mas só quando termina a obra que os problemas aparecem.

Dias atrás estive no único hotel de Brumadinho, o Estrada Real Palace Hotel, que fica próximo ao fantástico Instituto Inhotim, em Minas Gerais. A iniciativa teria tudo para ser um sucesso, tanto pelo pioneirismo como pelas boas instalações. Só que não levou em conta algo muito importante: o terreno fica grudado ao entroncamento de duas barulhentas rodovias, sendo que a mais próxima é uma pirambeira que obriga os motores dos veículos, geralmente caminhões, a acelerar na subida ou frear na descida. Noite e dia o barulho infernal tira o sossego do hóspede que veio ali justamente para curtir a natureza e fugir da poluição das cidades.

Esta história me lembra outra. Há alguns anos estive em centro de convenções em uma cidade do interior tematizado como aldeia indígena. A ideia era ótima, mas só tinha um defeito: toda vez que ventava, o teto de sapê voava e as construções perdiam o teto. Cansado de tantas opiniões de como corrigir, o dono chamou um índio especialista em ocas, que diagnosticou na hora o problema: “Índio jamais construiria neste local”. Por quê, perguntou o empreendedor. “Ora, porque venta muito”, respondeu o silvícola.

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No caso do Estrada Real de Brumadinho, o problema poderia ser evitado com um bom planejamento prévio. O que inclui a contratação de uma consultoria especializada para avaliar, entre outros fatores relevantes, a conveniência da localização e eventuais impactos. Se o hotel fosse associado a uma boa rede, como bandeira ou franqueado, jamais teria entrado numa fria como esta, pois se beneficiaria do expertise e experiência no ramo.

Pode-se argumentar que na situação do hotel de Brumadinho basta colocar janelas antirruído e buscar fórmulas criativas de “enjaular” o hóspede para minimizar os estragos sonoros. Mas a gente sabe que não vale a pena colocar cadeado só depois que a casa foi arrombada.

É verdade que como propriedade única do lugar, o hotel ainda conta com o privilégio duvidoso do monopólio. Mas esta é uma vantagem transitória. Até quando ele vai reinar sem concorrência num mercado tão atrativo sem chamar a atenção da concorrência, justamente em um território pantanoso que atende pelo nome de “vontade do consumidor”?

Fábio Steinberg é carioca, administrador e jornalista. Tem três livros publicados: Ficções Reais, Ficciones Reales (espanhol), Viagem de Negócios e O Maestro. É fundador do blog Viagens & Negócios

Para saber mais acesse o site: https://www.blog.steinberg.com.br/

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