Mais competitivo e digital, o mercado de transporte rodoviário vira opção para agentes de viagem e passageiros, em meio a um cenário de aumento de preços de passagens aéreas.
Historicamente, a escolha entre fazer uma viagem de ônibus ou de avião tinha um fator de diferenciação: a grande diferença de preços entre os dois modais.
Outro componente que contava a favor do aéreo era a experiência do usuário: as promoções-relâmpago e a comodidade na hora de comprar a passagem tornavam a oferta muito mais atrativa do que o (até então) pouco digital mercado rodoviário.
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Mas uma série de fatores está mudando o jogo para empresas e usuários das linhas de ônibus intermunicipais, interestaduais e também internacionais.
Um dos principais motivos é a disparada de preços das passagens aéreas no Brasil desde o ano passado – em torno de 19,3% em 2021 e de quase 15% nos primeiros meses do ano, segundo dados da ANAC e de plataformas como a Onfly. O setor rodoviário, por sua vez, vive uma situação inversa.
“Com a digitalização de viações – que fortaleceram a venda online e que usam tecnologias de precificação dinâmica – e a concorrência de novos players digitais (Buser, Flixbus, Wemobi, entre outras), há uma variação inédita dos preços de passagens”, afirma José Almeida, diretor da BuscaOnibus , plataforma pioneira no Brasil de comparação de preços no setor rodoviário, que agrega informações de mais de 250 viações.
Pesquisa realizada pela empresa em algumas das principais rotas nacionais e regionais no país mostrou que não é incomum encontrar bilhetes com uma diferença de 400% a 500% e, em alguns casos mais extremos, de até 18.000%.
Um exemplo: em abril passado, o viajante poderia encontrar passagens no trecho São Paulo/Rio entre R$ 15 e R$ 350. Os bilhetes rodoviários foram um dos destaques da Black Friday no ano passado, com promoções que chegaram a até 90% do preço convencional – algo impensável há até pouco tempo.
Mercado rodoviário é oportunidade a ser analisada
Esta evolução do mercado rodoviário não está passando despercebida pelos agentes de viagem, que tradicionalmente tinham como referência o aéreo como parte de suas ofertas para trechos de média e longa distância.
“Os ônibus hoje estão muito mais confortáveis do que os aviões”, comenta Conceição Junckes, presidente da Associação Brasileira de Agentes de Viagem de Santa Catarina (ABAV/SC).
Durante a pandemia, a entidade incentivou as viagens de curta distância e criou, com apoio do Sebrae/SC, o “Guia de Receptivos SC”, para apoiar os agentes a valorizar destinos locais no estado.
“O setor rodoviário tem investido muito em conforto e serviços, então algumas determinadas linhas mais longas (até 800 km, por exemplo) podem até competir na experiência do usuário com o aéreo – também porque o aumento das passagens tem feito o consumidor buscar alternativas”, ressalta Almeida.
Como alguns players do setor avaliam, é possível que mais brasileiros viajem agora em 2022 do que no período pré-pandemia, mas que prefiram destinos mais curtos e gastem um tíquete médio menor do que naquele período.
“Estamos em uma outra era do turismo”, comenta a presidente da ABAV/SC, que ressalta a importância de empresas de viação e agentes de turismo “entrar em consenso para reduzir as margens de lucro, uma negociação necessária em função do aumento de custos, especialmente do combustível. Mais pra frente, o setor voltará ao que era antes da pandemia, mas precisamos dar os primeiros passos”.
EDIÇÃO DO DIÁRIO DO TURISMO com agências