As dezenas de adjetivos para descrever a figura de Tasso Gadzanis, que morreu nesta terça-feira (22) em São Paulo, talvez sejam incompletos. O DIÁRIO ouviu vários amigos que emocionados o descreveram assim: Figura emblemática no turismo, pessoa icônica. Um sujeito brilhante, sensível, viajado, intelectualizado toda vida. Um gentleman, um homem do bem…
por Paulo Atzingen*
Tasso foi um excelente negociador, dizem os amigos ouvidos pelo DT. Ele transitava por todos os setores, seja nas feiras da Associação Brasileira de Agentes de Viagens – ABAV, entre os agentes de viagens, seja na cúpula do poder, em Brasília, nos governos estaduais, nas Câmaras setoriais… Sempre com boas ideias, uma pessoa ponderada, muito representativa e de fácil acesso.
Ex-presidente da Abav Nacional e Abav-SP, vice-presidente da SP Turis, presidente do SPCVB (São Paulo Conventions Visitors Bureau), e presidente do Skal, Tasso vai deixar saudade por seu jeito bonachão, conciliador. Bonachão, conciliador, mas atuante. É um dos poucos que lutou pela regulamentação da atividade do agente de viagem.
Tasso acreditava no setor do turismo, tanto que chegou a se candidatar a deputado estadual, e buscou apoio no setor de viagens e turismo. No entanto, não alcançou êxito porque faltava mesmo – e ainda falta – uma união setorial, qualificada para efetivamente atuar como uma bancada em defesa do turismo, como fazem outros setores. Mas ele acreditava – e todos os amigos reforçam isso – que um dia o trade turístico iria tomar consciência de sua força.
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Embate terrível
Conheci Gadzanis no Riocentro, durante um Congresso Nacional de Turismo da Abav. Repórter, participava do encontro na grande plenária do centro de convenções. À época se discutia a relação conflituosa – entre as companhias aéreas e os agentes de viagens naquele quesito chamado percentual de comissionamento. Havia mais de 800 agentes de viagens naquela plenária que era presidida por Tasso. A época – por volta de 2005 – aquele embate terrível começava e duraria por muitos anos: comprar bilhetes diretamente nos sites das companhias aéreas sem pagar nenhum centavo ao agente de viagem. Os profissionais das agências reivindicavam seus direitos conquistados ao longo dos anos, o clima era de tensão naquele Riocentro.
Os cortes nas comissões dos agentes, em especial as comissões dos voos internacionais eram radicais e a palavra de ordem era que o agente de viagem tinha que reivindicar direitos…Gadzanis estava pressionado, mas respondia as perguntas dos centenas de agentes com uma calma de monge budista.
Precisava encontrar um título para minha reportagem e não tinha ideia dada a enxurrada de assuntos, reclamações, denúncias, demandas desencontradas que os próprios profissionais apresentavam em suas postulações. Até que um agente, lá no fundo, perguntou ao presidente:
– Senhor Tasso, em que pé está o assunto do corte das comissões das companhias aéreas para nós, os agentes de viagem?
Tasso, pegou o microfone, tentou identificar o agente de viagem lá atrás do grande ambiente oval e sua resposta ecoou pelos quatro cantos do Riocentro:
– O assunto está deitado!
A sinceridade de Tasso não permitia embromation. A capacidade de síntese, se encontrava com o humor e a perspicácia de Tasso para dizer que, em outras palavras, as Companhias Aéreas eram as donas dos bilhetes e cabia a elas a decisão.
Já tinha o título da minha matéria:
“Presidente da Abav diz que comissão está deitada em berço esplêndido”
É essa a lembrança bem humorada que tenho de Tasso Gadzanis. Obrigado, Tasso, vai com Deus em sua viagem.
*para esse texto foram ouvidos os amigos: Lisandra Martins, Aristides Cury, Caio Luiz de Carvalho, Luiz Henrique Miranda, Luiz Francisco de Sales.
*Tasso era egípcio e teve um AVC. Morreu aos 84 anos.