Nasci há 10 mil anos atrás – por Werner Schumacher*

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Como diria o Mestre Seixas, não é a minha praia, mas a canção te leva a cantá-la e reconheço isto, assim como acabo muitas vezes reconhecendo coisas que não havia compreendido bem e acabei criticando.


Posso até ser meio jurássico em algumas coisas, mas nasci em 1953, na metade do século passado, que foi marcado pelo avanço técnico e científico em muitas áreas, entre elas a da enologia.

Vivemos mais hoje – foi comprovado cientificamente – pelo consumo moderado de vinho, mas também pelo avanço da medicina e isto está em mim impregnado, não sai e não se solta, acredito por demais na Ciência.

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A esta altura do campeonato não vejo possibilidades de mudança em relação a esses dogmas pessoais, mas reconheço que devo aceitar alguns movimentos que ainda tenho dúvidas, mais me parece saudosismo, empirismo, crença, religião e sei lá, menos resultado da Ciência.

Falo aqui dos vinhos naturais, orgânicos, biodinâmicos, veganos, ancestrais, etc. Naturalmente reconheço que há um movimento importante neste sentido, mas parece que carecem de fundamentos científicos, não consigo entender como um chifre de gado pode ajudar no desenvolvimento de uma videira.

Nesses últimos dias vi uma grande variedade de vinhos oferecidos com variedades de uvas resistentes à doenças, de alta produtividade, e muitos desses vinhos eram apresentados inclusive por empresas de renome internacional, como as famílias Catena-Zapata e Miguel Torres.

A Catena com um vinho da uva criolla e a Torres com um espumante de uva país; não são vinhos baratos, mas não consigo entender como produtos derivadosde uvas tão baratas, (menos de R$ 0,50/kg), alcançam preços tão elevados, apenas por serem orgânicos.

Para facilitar, vou considerar este tipo de vinho como orgânico, palavra que eu entendo melhor para defini-lo. A produção de uva orgânica não aceita defensivos agrícolas, menos custo, o vinho requer menores doses de sultifo, não aceita o uso de leveduras selecionadas e outras práticas enológicas, idem menor custo e assim vai.

Qual a razão que os faz ser tão caros?

Sinceramente, eu não encontro razões.

Mais, o que o faz ser melhor em relação a um vinho não orgânico? Por trás há uma ciência com grande conhecimento técnico e cientifico que fez crescer enormemente a qualidade dos nossos vinhos.

Na minha modesta opinião, estamos vivendo uma batalha que não interessa a ninguém, pois um não anula o outro, ambos têm a intervenção humana, um mais que o outro, mas são igualmente naturais.

Nenhum está saindo vencedor, mas perdedores, quem está ganhando é o vinho globalizado e padronizado, a cerveja, a coca-cola, a água, entre outros, resta-nos fazer uma reflexão sobre o assunto.

Como disse Pau Roca, dirigente da OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho), o mundo do vinho é um só e por este devemos lutar.



*Werner Schumacher estudou Economia na PUC/RS e é um dos responsáveis pela profissionalização da vitivinicultura no Brasil.

 

 

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