No paraíso – Ko Phi Phi – por Osvaldo Alvarenga*

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Vivo numa cidade onde o consumo da cultura local é fundamental para a geração de empregos e, seu excesso, é também causa de gentrificação e cessação dessa cultura. O equilíbrio é difícil. Esta semana teve início a COP26, em Glasgow. Não estou certo se o turismo terá algum protagonismo na pauta de debates. Debatido em grandes cimeiras ou não, é preciso pensarmos sobre o tema. Em 2019, numa viagem à Tailândia, encantado com a beleza de Ko Phi Phi e perturbado com o excesso de turistas, escrevi este pequeno texto:
No paraíso – Ko Phi Phi
No paraíso, até as pessoas com mais de treze podem brincar de ver formas nas nuvens (quando há nuvens). Podem se arrebatar com cardumes que saltam sobre a água ou podem, no mar cristalino, observar os peixes que se escondem em buracos sob a areia. Podem, irresponsavelmente, não se preocupar com as contas, as obrigações e os compromissos. Nada disso existe por aqui. Aliás, existe, mas não é mais importantes que todo o resto.

Importa mesmo se está calor, se sente fome, se chove ou se tem sol. Importam as coisas importantes agora; e, para elas, as soluções simples: nadar, fazer amor, comer, ficar abrigado ou sair por aí de barco…

Bom assim, quem não quer? Todo mundo. E são muitos os que vêm. Com voracidade, a turba consome, maçã por maçã, a macieira inteira. Todos expulsos. Cheio, o paraíso escapa, falseia. Buracos pisados não protegem peixes. Corais, praias, matas e culturas destruídas não guardam nada, não têm encantos.
Aqui, sei, não é mais o que já foi. Ainda assim é o terceiro céu. Hoje premia a quem veio. Amanhã não sei.
Ko Phi Phi, na Tailândia (Crédito: Osvaldo Alvarenga)
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