Nove lugares que odeiam os turistas

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Jornal faz lista de cidades e destinos onde os turistas começam
a não ser bem recebidos

Paco Nadal (El País) –

Observo com incredulidade a foto (publicada faz pouco tempo por este jornal) de uma pichação que apareceu no bairro de Grácia: “All tourist are bastards”. Assim, sem nuances. O 1,2 bilhões de pessoas que -segundo dados da Organização Mundial do Tursmo- tirou férias fora do seu lugar de residência é composto de adulterinos, espúrios, ilegítimos, infames, falsos e vis. Recuperado do susto, me ponho a pensar:

A) Quem pichou e os colegas que o incentivaram são aborígenes puros e nunca saíram de sua cidade –para não poderem ser tachados de turistas–, o que me leva a duvidar de sua capacidade de raciocínio para compreender e comparar fenômenos globais.

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B) Apesar de não confessar, quem pichou também saiu em férias alguma vez na vida, mesmo que tenha ido a Lloret de Mar, e além de turista bastardo… é um cínico.

O turismo é o grande fenômeno social do século XX. A melhoria das comunicações e do nível de vida de boa parte do planeta pôs metade da população mundial a caminho do lugar de residência da outra metade. E longe de parar, só irá aumentar no século XXI. Mas como todo fenômeno global, tem seus prós e contras: do negócio turístico vive mais de 11% da humanidade e em algumas regiões representa até 50% do PIB. Além disso, o turismo não é só negócio: esses movimentos de massas também implicam intercâmbio de ideias, de projetos, de mestiçagens e de paz. Mas, descontrolado, o turismo é como Átila: acaba com a cultura local. Nessa guerra se inserem as nada amigáveis pichações que aparecem com certa frequência em Barcelona contra os turistas. Como se eles, e não quem planeja as políticas de desenvolvimento, fossem os culpados. O turista não costuma ir aonde quer: vai aonde lhe facilitam ir.

Pode-se odiar os turistas? Sim, infelizmente (embora muitas das cidades que agora os rejeitam cresceram e se tornaram ricas graças a eles; qual seria o PIB dos maiorquinos sem o turismo?) O jornal britânico The Independent preparou uma lista de oito destinos que odeiam ou rejeitam os turistas. A lista não tem nenhum lugar da América Latina. São os que se seguem, embora já antecipo que não estou de acordo com vários dos incluídos. E acrescentei um nono da minha safra: Veneza, que me parece o paradigma da cidade que despreza os visitantes. E você, o que acha?

O cruzeiro 'MSC Preziosa' em um dos canais de Veneza. ANDREA MEROLA (EFE)
O cruzeiro ‘MSC Preziosa’ em um dos canais de Veneza. ANDREA MEROLA (EFE)

Veneza

No caso da cidade italiana, não é novidade: quando a visitei pela primeira vez há mais de 35 anos já senti que não era bem-vindo. Veneza é o paradigma da cidade devorada pelo turismo de massas e um exemplo do que é preciso evitar. Está há anos maltratando o visitante porque sabe que faça o que fizer no dia seguinte terá outras centenas de milhares esperando para entrar.

Tailândia, um dos principais receptores de turismo mochilero. PIXABAY
Tailândia, um dos principais receptores de turismo mochilero. PIXABAY

Ilhas da Tailândia

É curioso que o país do sorriso e um dos mais amáveis com os estrangeiros apareça nesta lista. The Independent o inclui porque em maio de 2016 o governo tailandês decidiu fechar várias ilhas, entre as quais Koh Khai Nok, Koh Khai Nui e Koh Khai Nai, destinos habituais de mochileiros em busca de festa, pelo elevado grau de deterioração ambiental que apresentavam. Mas para mim isso não parece um sintoma de que odeiem os turistas; pelo contrário, é o caminho a seguir para combinar turismo e proteção.

(El País)
(El País)

Barcelona

O jornal britânico destaca as palavras da atual prefeita,  Ada Colau, uma antiga ativista de esquerda, depois de tomar posse como prefeita: “Não queremos que a cidade se transforme em uma loja de lembrancinhas baratas”, e dando Veneza como exemplo. O congelamento de licenças para todos os novos hotéis e apartamentos de aluguel para férias, as multas ao AirBnb, os projetos de novos impostos turísticos e os estudos para limitar o número de visitantes são as razões apontadas pelo The Independent para incluir a capital catalã. Além da imagem que a cidade passa ao mundo com cartazes nas sacadas do tipo “Tourist go home”.

Barcas no canal de Prinsengracht, em Amsterdã, durante o Grachtenfestival. MERTEN SNIJDERS (GETTY)
Barcas no canal de Prinsengracht, em Amsterdã, durante o Grachtenfestival. MERTEN SNIJDERS (GETTY)

Amsterdã

Outra das capitais que morre de sucesso. The Independent cita o discurso de Frans van der Avert, diretor executivo de Marketing de Amsterdam, no recente Foro Mundial de Turismo realizado em Lucerna: “As cidades estão morrendo pelo turismo. Ninguém viverá mais nos centros históricos. Muitas das cidades históricas menores na Europa estão sendo destruídas pelos visitantes. Não gastaremos nem um euro a mais na comercialização de Amsterdam. Não queremos ter mais gente. Queremos elevar a qualidade dos visitantes, queremos pessoas que estejam interessadas na cidade, não que a queiram somente como pano de fundo para uma festa. Vemos muitos visitantes sem respeito pelo caráter da cidade.” E lançou uma seta envenenada: “O problema foi criado pelas companhias aéreas de baixo custo, com os passageiros da Ryanair na linha de frente.”

PACO NADAL
PACO NADAL

Butão

Acho que sua inclusão na lista é um erro. O Butão não odeia os turistas, muito pelo contrário. Só que tem sido muito astuto: ao se incorporar por último ao mercado turístico (o país esteve fechado aos estrangeiros até 1974 e o turismo só começou a deslanchar a partir de 1991) aprendeu com os erros alheios e tenta fazer as coisas de outra maneira. Quem quiser ir ao Butão é bem-vindo, mas tem que entrar com uma agência autorizada e pagar uma taxa fixa de 250 dólares (810 reais) por dia, que inclui o transporte, guia e alojamento. Assim controlam o fluxo e o número de visitantes não se torna desordenado.

(El País)
(El País)

Os onsen do Japão

Um onsen é um banho público termal tradicional da cultura japonesa. Nós, estrangeiros, ficamos encantados também em nos dar esse relax de água superquente ao final do dia. Mas há um problema: na maioria dos onsen é proibida a entrada de quem tiver tatuagens no corpo, algo mal visto na cultura japonesa, mas não na ocidental. De todo modo, me parece absurdo colocar nessa lista um país como o Japão, tão amável com os estrangeiros, somente por isso.

Santorini, Grécia (El País)
Santorini, Grécia (El País)

Santorini (Grécia)

A ilha grega mais popular disse basta. Não cabe nem mais um cruzeiro nem um turista a mais. No verão de 2016 chegaram 10.000 cruzeiristas por dia. As autoridades querem limitar esse número a 8.000 a partir deste ano.

Cinque Terre, Itália. (El País)
Cinque Terre, Itália. (El País)

Cinque Terre (Itália)

É um dos postais mais famosos da Itália: cinco pitorescas cidadezinhas à beira-mar catalogadas como patrimônio da Humanidade, unidas por estreitos e bucólicos caminhos. Suficiente beleza para atrair 2,5 milhões de turistas por ano. Segundo The Independent, seus administradores planejam pôr um númerus clausus máximo de 1,5 milhão por ano. Una vez superado, não entram mais turistas.

River Legacy Park, em Arlington. CITY OF ARLINGTONG
River Legacy Park, em Arlington. CITY OF ARLINGTONG

Arlington (Texas, EUA)

Sua inclusão na lista se baseia em um estudo feito em 2015 sobre comentários a respeito dos turistas em dezenas de milhares de tuites geoetiquetados nos Estados Unidos. A conclusão de seus autores era que a população da cidade de Arlington, no Texas, era a mais hostil aos turistas nos EUA.

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