Olivier Hick, francês de nascimento e apaixonado pelo Brasil, ocupa o posto de Chief Operating Officer das marcas Premium, Midscale e Economy da da Accor no Brasil, maior operadora de hotéis do mundo. Parte do corpo operacional da rede, há quase quatro décadas, o executivo atuou na Polinésia Francesa, Serra Leoa, Tailândia, Coréia do Sul, França, Malta, Tunísia e Dubai, até a chegada ao País.
Texto Cecília Fazzini – entrevista Paulo Atzingen
Nesta entrevista exclusiva, Olivier Hick fala dos projetos que tem sobre a mesa para ampliar a presença no mercado hoteleiro das marcas da rede midscale, econômico e premium. E comemora o crescimento de 40% nos resultados, nos últimos 8 meses, o que fortalece a previsão de consolidação da retomada no atual exercício, após o período de pandemia.
O desenho do negócio Accor, definido em janeiro de 2023, conforme ressalta Olivier Hick, dividiu em duas frentes distintas as categorias. De um lado midscale, econômico e premium e de outro os empreendimentos rotulados como luxo e life style, O primeiro nicho, sob sua responsabilidade no Brasil apoiado por equipe própria de colaboradores, reúne 340 hotéis – que correspondem a 55 mil quartos. Este ano ainda ocorreu a integração de 14 hotéis – que correspondem a 3,4 mil quartos a mais – das marcas Pullman, Grand Mercure e Jequitimar by Accor).
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Depois da abertura de 23 hotéis, no ano de 2022, o plano de expansão mantém o ritmo com a previsão de inaugurar entre 16 e 18 novos hotéis, no atual exercício. E com um pormenor de que 90% das aberturas são de hotéis midscale e econômico.
Em linha com a excelência
“A mudança emanada da Accor Global visa rever a excelência de cada linha do negócio da rede, melhorar o desempenho operacional e financeiro, e, sobretudo, oferecer a clientes e proprietários serviços cada vez mais adequados às necessidades de toda a região Brasil”, confirma o executivo.
De acordo com ele, todo o esforço é no sentido de desenvolver as marcas da Accor, atender o desejo dos hóspedes, assinalar qualidade, valorizar o programa de fidelidade e o recrutamento. “O foco é simplificar e agilizar processos no País, ampliar a visibilidade e concretizar a transformação dentro do segmento”, complementa Olivier Hick.
Perfil atual da hospedagem
Na dianteira da retomada da ocupação na Accor está o hóspede de lazer. Olivier Hick sintetiza que, desde abril de 2022, se registra forte aumento na busca por reservas nos finais de semana. Nesse movimento, as praças de Recife, Fortaleza, Belem e Maceió são destaque.
A demanda por parte do mercado corporativo ainda não recuperou o patamar de 2019, antes do período de reclusão imposto pela pandemia, contudo as estimativas são otimistas, no entender do representante da Accor. “As empresas ainda estão trabalhando em modo híbrido – alternando as rotinas entre remoto e presencial”, frisa ele. Essa formatação repercute em eventos e salas de reuniões lotadas, além de feiras no formato original no Rio e Belo Horizonte que, junto com São Paulo, ganham a dianteira e registram crescimento mais significativo do que o restante do Brasil.
Co-working, suporte completo nos hotéis
Se a pandemia comprometeu ocupação e adiou planos do setor hoteleiro, o poder de reação e adaptação da Accor mostrou prontamente o poder de se reinventar. Olivier Hick cita o fato de 120 hotéis da rede oferecerem hoje uma estrutura de conexão, utilizada no auge da baixa ocupação como alternativa de negócio. A ociosidade dos espaços dos empreendimentos hoteleiros do grupo virou oferta para empresas que fecharam em larga escala seus escritórios. Ele relaciona que alguns quartos foram esvaziados, mobílias remanejadas e foram transformados em locais de trabalho. E os números falam por si: dentro dessa centena de hotéis da Accor foram recebidas mais de 800 mil pessoas, em 2022. De janeiro deste ano para cá, esse fluxo de pessoas já soma 300 mil conexões para trabalho, para um café etc., reforçando o conceito moderno de que é possível trabalhar e qualquer lugar.
E o COO de midscale da Accor ainda considera que é possível aliar o compromisso de trabalho ao lazer, combinar a ocupação com dupla finalidade, um, no seu entender, novo e que veio para ficar.
Projeto Premium
Ter na mira os desafios rege o jeito de administrar os negócios, sob o comando de Olivier Hick. A expansão na oferta da Accor dos hotéis classificados como Premium é desafiante, na interpretação dele, por tratar-se de uma formatação mais complexa, uma vez que requer tempo e programação mais ajustada do investimento, além de cuidado extra com a localização, custos de confecção – que, na avaliação do executivo, estão mais elevados do que em 2019, devido à pandemia, impactos da guerra, inflação, custo dos produtos etc.
Mas o objetivo da rede é claro, “mudar a tendência e buscar novos investidores, com decisão em implantar empreendimentos Premium, mais do que os econômicos”, revela o executivo. Alguns exemplos da disposição em aportar recursos nesse nicho, são os Grand Mercure Curitiba Rayon e o Grand Mercure de Belém, hotéis novos.
Mas Oliver Hick assegura de que há evidências da demanda do mercado luxo e premium, como a abertura do Rosewood São Paulo e a troca de bandeira do Four Seasons.
Médias cidades, máxima oportunidade
A estratégia e o padrão de gestão da Accor também vislumbram oportunidade nas cidades do Interior do Brasil. “Pelo nosso padrão, em cada cidade acima de 200 mil / 300 mil habitantes, identificamos potencial para desenvolver qualquer hotel, quaisquer marcas. Cidades até 300 mil habitantes – atendem mais o formato das categorias midscale e econômica e municípios acima de 500 mil / 800 mil habitantes., relaciona Olivier Hick, oferecem mais oportunidade para desenvolver hotel Premium.
“Recentemente assinamos e vamos inaugurar um flat Novotel, na cidade do Recife, no início de 2024, com 300 quartos e 5 mil metros quadrados de salas de reunião”, sintetiza. O que se vê, observa o executivo, é uma mistura, “já operamos várias unidades do Ibis no Brasil e cada vez precisamos nos posicionar com uma marca diferente”.
Sustentabilidade, muito além do compromisso global
A meta de zero carbono até 2050, com a eliminação das emissões diretas e indiretas de carbono e a retirada, em definitivo, do plástico dos hotéis da rede são compromisso selado na rede. “84% de nossos hotéis atingem hoje o índice de plástico de uso único, meta para 2023 é ser 100% livres de plástico”, explica Olivier Hick.
Entre as providências para alcançar a meta de reduzir o efeito do carbono dentro dos hotéis, a Accor cuida de procedimentos como minimizar as perdas de alimentos – que já atinge 60% e eliminar 100% as amenities individuais e fazer a substituição para dispensers no consumo de sabonetes, shampoos entre outros. “Olhamos como podemos para adotar práticas sustentáveis, como ter mais pratos à base de vegetais, sem carne nos cardápios dos restaurantes dos hotéis, o que também colabora para ganhar espaço diante do concorrente”, acentua o executivo da Accor.
O que é que o Brasil tem?
Olivier não poupa elogios e declara o seu amor pelo Brasil. Afirma que o que mais admira no País são as pessoas, o caráter e a acolhida do brasileiro, para ele um povo muito agradável. “Viajo muito pelo País e a riqueza natural é admirável, praias, a Amazônia. O Brasil tem tudo”, constata.
Sobre o que mudaria no País, sem vacilar na resposta, ele aponta a falta de indústrias e a ausência de estratégia do Brasil no mercado de turismo internacional, tarefa que, se bem realizada, atrairia mais visitantes estrangeiros. E cita a Amazônia como um sonho de destino que, curiosamente, de acordo com ele, não é conhecido por 80% dos brasileiros.
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