Eduardo Tiburtius, presidente do Porto de Galinhas Convention & Visitor Bureau e diretor comercial do hotel Village Porto de Galinhas, fala sobre as estratégias para a recuperação do destino
POR ZAQUEU RODRIGUES
A união de três gerações de hoteleiros está sendo determinante para Porto de Galinhas enfrentar com mais confiança a pandemia de Covid-19. Quem diz é Eduardo Tiburtius, presidente do Porto de Galinhas Convention & Visitor Bureau e diretor comercial do hotel Village Porto de Galinhas. ‘A primeira geração está sendo o nosso guru neste momento’, agradece ele, que representa a segunda geração de hoteleiros do destino.
Meio do furacão
“Quando estamos no meio do furacão é difícil ver saída. A geração anterior, responsável pelo desenvolvimento do turismo de Porto de Galinhas, nos ensina o quanto o trabalho em conjunto é importante para atravessar esses períodos de crise. Na pandemia, a gente viu muitos destinos se fecharem, parando de se comunicar. Em Porto de Galinhas procuramos reforçar o diálogo com nossos clientes, com os demais hoteleiros, com os agentes de viagem. Essa comunicação e trabalho unificado foi um grande diferencial para nós. Estamos trabalhando de mãos dadas”, afirma Tiburtius.
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Trabalho unido começou em 1992
Ele lembra que o trabalho unificado em Porto de Galinhas começou em 1992 após um surto de cólera no Nordeste provocar a interdição das praias por duas semanas. Naquela ocasião, os hoteleiros fundaram a Associação de Hotéis de Porto de Galinhas, uma iniciativa que abriu os caminhos para transformar o destino numa potência turística. “Até então os hotéis trabalhavam isolados. Para superar aquela crise, eles começaram a trabalhar unidos”, conta Tiburtius, ressaltando que a experiência conquistada naquele momento está fazendo muita diferença agora.
Perfil atual 100% nacional
Porto de Galinhas é um dos destinos mais destacados do Brasil. Segundo boletim mensal da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), publicado neste mês de julho de 2021, ele está entre os mais vendidos pelas agências de viagem do país. O perfil de seus turistas deve facilitar a retomada. Antes da pandemia, 75% eram representados pelos viajantes brasileiros. Os outros 25% eram formados por latino-americanos, puxados pelos argentinos, uruguaios, paraguaios e colombianos. “Hoje está praticamente 100% nacional”, informa Tiburtius. Ele afirma que a ocupação de hotéis e pousadas locais alcançou os 75% no mês de junho. “É o melhor momento”, comemora.
Destino em 1º lugar
Sobre a consagração do destino no cenário nacional, Tiburtius explica que se trata de uma construção coletiva. E ensina: “o primeiro passo é compreender que os viajantes, antes de irem a um hotel, estão indo a um destino. O destino é o que nos impacta primeiro em uma viagem. A gente diz: quero ir a Porto de Galinhas, quero ir a Gramado… o desejo inicial é sempre pelo destino”.
Ele prossegue: “Estabelecemos conjuntamente que o nome Porto de Galinhas precisava estar em primeiro lugar, independentemente dos empreendimentos existentes aqui. Quando o destino é procurado, obviamente os hotéis também serão. Assim, temos uma competição saudável”, ensina ele, lembrando que a cultura associativa desenvolvida pela geração anterior está preservada. “Quando fechamos os hotéis em abril de 2020, nos ‘reunimos’ toda semana para trocar experiências para poder enfrentar a pandemia”.
Comunicação dos protocolos
Eduardo ressalta que o trabalho conjunto agilizou muitos processos como a implementação de protocolos de biossegurança e a capacitação de profissionais locais. “Recife é um polo médico muito importante do país, o que nos ajudou a ser um dos primeiros destinos a fazer protocolos com hospitais. Conseguimos fechar os protocolos mais cedo e conseguimos divulgá-los rapidamente. Por outro lado, 2020 também foi o ano em que a gente mais capacitou agentes de viagem, pois todos estavam em casa e carentes de informações”. Tiburtius diz que foram 2 mil profissionais capacitados.
A rápida comunicação dos protocolos foi essencial para construir o momento de reabertura. “Os clientes se sentiram seguros. A maioria dos hotéis de Porto de Galinhas reabriram entre julho e agosto de 2020. Logo que anunciamos a reabertura o destino já estava entre os mais procurados. Isso se deve ao nosso trabalho conjunto. Um hotel sozinho seria incapaz de fazer tudo o que fizemos desde o início da pandemia”, assegura.
Percentuais de crescimento
Tiburtius recorda-se que Porto de Galinhas começou 2021 com uma ocupação média de 70%. As medidas restritivas adotadas em função da segunda onda de contaminação, como fechamento da praia, fizeram esse número despencar. “Em março e abril, a ocupação chegou na casa dos 35%, pois muitas pessoas tiveram que remarcam as suas viagens”. A melhora começou em maio, com 45% de ocupação. Segundo ele, o destino fechará o mês de julho com uma média de 70% na ocupação, entre pousadas e hotéis. “As perspectivas são muito boas com o avanço da vacinação”, pontua ele.
Durante a pandemia, Tiburtius destaca que Porto de Galinhas reforçou a comunicação tanto com o mercado quanto com os clientes. “A comunicação do hotel precisa ser muito rápida, bem diferente de alguns anos atrás. Ter profissionais de comunicação é fundamental, pois o nosso negócio é muito humano. A comunicação, além de informar, tem esse papel de humanizar. Ela é um ponto chave para o hotel e para o destino”, afirma.
Tiburtius diz que a pandemia afetou muito Porto de Galinhas por ser um destino altamente turístico. “Não imaginávamos isso. Hotel é uma empresa feita para nunca fechar. Estamos aqui desde 1988 e já passamos por tudo: crise econômica, cólera, óleo na praia… Mas, até então, os hotéis não fecharam por um segundo sequer. E, de uma hora para outra, nos vimos obrigados a fechar durante quatro meses”.
Crise aproximou hoteleiros
Ele assegura que a crise aproximou ainda mais os profissionais do destino. “Nós já éramos próximos como hoteleiros, mas agora a gente se aproximou de toda a cadeia do turismo, despertando a solidariedade. Desde abril de 2020, cada hotel começou a distribuir 40 cestas básicas para os profissionais mais vulneráveis da cadeia, como jangadeiros, taxistas, bugueiros… Essa ação social continua até hoje e é feita em parceria com a ONG Rodas da Liberdade”, ressalta.
Tiburtius afirma que a retomada plena depende da vacinação, que avança para as pessoas de 31 anos. “Se a população estiver 100% vacinada até dezembro de 2021, teremos um verão nos moldes de pré-pandemia”, projeta ele, que observa no país uma mudança cultural em relação às viagens. “Quando eu era criança eu ouvia muito falar que o turismo era algo supérfluo. Isso mudou. Após a pandemia, os brasileiros vão valorizar ainda mais as experiências de viagem. Sairemos desta crise melhor como sociedade”.