Um mês de guerra entre Rússia e Ucrânia. 30 dias de perdas humanas irreparáveis e efeitos importantes para a economia local e com reflexos em outros países, inclusive nas atividades turísticas pelo mundo.
Esses impactos se dão, seja por aumento de custos e perdas de receita causados pela insegurança em viajar e/ou pelo efeito das restrições e sanções recíprocas entre os países em conflito e outras nações.
Isso porque quando falamos na guerra em curso, falamos da Rússia e Ucrânia e de todos os países que se envolvem indiretamente nesse contexto, seja por depender de produtos da localidade, seja por se opor às agressões ou ainda por interesses e iniciativas geopolíticas estratégicas.
O número de países envolvidos de alguma forma nesse conflito é representativo.
Mas isso não é tudo.
De acordo com organizações de monitoramento de conflitos pelo mundo, como o World Population Review ou ACLD, hoje existem mais de 20 países em algum tipo de conflito armado em curso ou em grande tensão com a real possibilidade de agressões com impactos gerais.
Esses levantamentos, validados por agências independentes de checagem, não incluem os números de criminalidade local sem o caráter político ou de dominação territorial, o que deixa, por exemplo, o Brasil fora da lista apesar dos números altíssimos de violência no território nacional.
Estudos assim nos mostram que no mundo inteiro enfrentamos, nesse exato momento, os males da agressividade expondo populações (inclusive as próprias) para o alcance de objetivos, em tese, legítimos. Seja por parte das instituições oficiais ou não.
Mas, existindo essa variedade de situações oficiais de guerras e conflitos esquecidas pela mídia, por que devemos nos atentar à guerra entre Rússia e Ucrânia? Porque, devido a grande cobertura e às muitas informações acessíveis, essa é a que nos oferece a maior oportunidade de analisar as incoerências da guerra e o porquê dessas práticas, herdadas de sociedades rudimentares, devem ser inadmissíveis em qualquer aspecto.
Afinal , podemos dizer que a guerra é a opção pela Crise.
E sob o aspecto da gestão de crises, vemos que a contradição da guerra se dá, especialmente, porque os responsáveis pelas realizações desses conflitos são os mesmos que assumem postos de gestão para defender os principais valores de uma nação ou povo.
Por isso, a gestão de crises, em seu conceito, é uma prática contrária às guerras já que busca, como objetivo maior, a preservação e proteção dos maiores valores de um local ou organização.
E o principal valor a ser protegido nas práticas de gestão de Crises são as pessoas .
E aqui nos referimos a pessoas independentemente do lado que estejam de uma fronteira definida nos tratados assinados por poucos. Afinal diferenças de lado físico, econômico, religioso, étnico, etc muitas vezes denotam muito mais proximidade que distância e são todos parte do valor humano a ser preservado.
Líderes adeptos da prática agressiva de forma direta ou indireta, ou que não busquem todas as formas de evitar as perdas humanas, estão agindo contrariamente ao princípio básico de preservação à vida, o bem maior.
Além disso, e como segundo valor comum ao foco da Gestão de Crises, a economia sofre impactos importantes. O desenvolvimento sustentável de um país ou região, tendo este feito parte de um conflito que impediu o funcionamento normal da sociedade, sempre será um desafio complexo e sofrido para qualquer localidade.
Por último, o valor da preservação da imagem e reputação é muito prejudicado diante do envolvimento de líderes em resoluções que utilizem a agressão e destruição ao invés da capacidade diplomática e de gestão de conflitos em ações que preservem pessoas, suas culturas e economia. Os efeitos são rápidos e exponenciais, vide as sanções e boicotes mundiais sofridos pela Rússia e russos decorrentes da realização dos ataques.
Dessa forma, pensando nas dezenas de focos de conflito no mundo com milhões de afetados, e utilizando as informações da guerra no leste europeu explorada pela mídia e exposta para o mundo todo, podemos ter maior base de informações para compreender que a civilidade que almejamos se contrapõe frontalmente ao que ainda é vista como uma ação legítima, de se matar pessoas e sociedades em nome do que quer que seja.
E esse esclarecimento é importante para que ideias, como a de legitimação de agressões nacionais iniciadas pelas justificativas de soberania e de outros interesses subjetivos, abstratos e discutíveis, não sejam transferidos e absorvidos pela sociedade e seus entes, seja no uso da força na tomada de decisões pessoais assim como agressões diversas nas esferas profissionais, ideológicas ou políticas.
Mas como fazer isso na prática? Por onde começar a cobrar a mudança que almejamos?
O passo número um é colocar o respeito à vida no primeiro lugar das nossas prioridades. E a partir disso, rechaçar qualquer ato ou posicionamento, em qualquer esfera que atente contra esse valor primordial.
Obviamente, todos os mecanismos pacíficos de resolução de impasses requerem um trabalho constante de aprimoramento e é nesse sentido que os esforços e investimentos devem confluir.
Mais valorização da inteligência humana em substituição aos mega investimentos na força e capacidade de destruição.
Esse seria um legado para os que virão em seguida e esperam de nós, o mínimo.
Esse é um bom motivo para as guerras de cada um e as de todos nós.
A guerra pacífica pela civilidade.
OTÁVIO NOVO é advogado, profissional de Gestão de Riscos e Crises, atuando, desde o ano 2000, em empresas líderes nos setores de serviços, educação e hospitalidade. Durante 6 anos foi responsável pelo Departamento de Segurança e Riscos da Accor Hotels na América Latina. Atualmente é consultor, membro da comissão de Direito do Turismo e Hospitalidade da OAB/SP 17/18, professor e desenvolvedor de materiais acadêmicos e facilitador na formação de profissionais e na organização de empresas do setor do turismo e hospitalidade. Coautor do livro “Gestão de Qualidade e de crises em negócios do turismo” – Ed. Senac. É criador e responsável pelo projeto Novo8 – www.novo8.com.br