Tempos de Guerra e o ranking da mentalidade débil

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O otimismo, certamente, é um estado de ânimo que habita o chamado elã vital (impulso original de criação). Alinha-se, também, em termos mais populares, com a velha e boa força do pensamento positivo. O copo, para os otimistas contumazes que somos nós, está sempre meio cheio…

Por Gabriel Emídio*


Porém, nem tudo são flores no terreno pedregoso, movediço e até desértico da humanidade. A guerra, sempre, conspira contra a vida – não importa o tamanho nem onde ela ocorra. Sangra, mutila, mata e faz sofrer em nome de escolhas movidas pela ambição e busca tirânica pelo poder.

Enquanto russos e ucranianos protagonizam o retrocesso e reeditam a barbárie, por meio de uma queda de braço inaceitável, a insensatez também pipoca em outras frentes de batalha.

Lembram-se do ‘Marketing de Guerra, de Al Ries, sucesso dos anos 90, baseado nos escritos do general prussiano aposentado, Karl von Clausewitz, intitulados On War, de 1832? Isso foi apenas um exercício didático para mostrar o estágio do capitalismo de anos atrás, bem antes da economia criativa e colaborativa. Do outsourcing adotado sob princípios de compliance e da abordagem contemporânea do ESG.

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Hoje, a bordo da revolução digital, a humanidade não se cansa de produzir outras formas de arrebanhar, alienar e idiotizar. Exemplo? Estudo divulgado pela plataforma CupomValido.com.br reuniu dados da Statista & Hopper, a respeito da remuneração dos chamados inffluencers, por post no Instagram. Cabe lembrar que essa mídia social agrega mais de um bilhão de usuários no mundo, que gastam, em média, 29 minutos/dia no aplicativo.

O ranking dos 10 mais bem pagos do mundo é encabeçado pelo jogador de futebol Cristiano Ronaldo. Para anunciar, as marcas precisam desembolsar R$ 8.020.000 por post. Em segundo lugar está o ator Dwayne Johnson (“The Rock”), que cobra me média R$ 7.615.000 por post. E o terceiro é da cantora Ariana Grande, com um faturamento de R$ 7.550.000 por post.

Ao analisarmos o topo do ranking, encontramos um padrão: a grande maioria são cantores, celebridades ou atletas. Por aparecerem mais na mídia, estas personalidades passam a ser reconhecidas mundialmente. E, com isso, conseguem agregar uma maior quantidade de seguidores.

Uma métrica bem utilizada na indústria, para analisar o real valor entregue, é o fator de engajamento – quantidade de seguidores que curtem e comentam cada post publicado. Assim, é possível encontrar perfis com uma quantidade de seguidores menor, mas com um valor maior cobrado por post.

No Brasil, o 3º país que mais utiliza o Instagram no mundo, superado apenas pelos EUA e a Índia, já existem muitos inffluencers que vivem somente da remuneração da rede social. O estudo revela que, no país, a remuneração começa com R$ 50 para perfis com 1.000 a 5.000 seguidores. Para perfis com 20.000 a 100.000 seguidores, o valor cobrado pode chegar a R$ 10.500. E para perfil com mais de 1 milhão de seguidores, o valor por post é a partir de R$ 75.000.

Entre os brasileiros, Neymar Jr. é o mais caro: cobra, em média, R$ 4.120.000 por post no Instagram. O 2º lugar é de Ronaldinho Gaúcho – R$ 1.505.000 por post. O ator Caio Castro recebe, em média, R$750.000 por post, e está na terceira posição. Camila Coelho cobra R$ 150.000 e Gracyanne Barbosa R$120.000 por post.

O título desse texto – ‘Tempos de Guerra e o ranking da mentalidade débil’ suscita reflexão sobre esse emblemático sinal dos tempos. Lembram-se do ‘bezerro de ouro’ bíblico, à época de Moisés? Pois é. A idolatria, hoje, resultante do miolo mole de milhões de seguidores que se identificam com astros hábeis na embalagem de futilidades, rende fortunas.

Seguidores incondicionais inflam egos e estufam bolsos de seguidos, na maioria das vezes excêntricos, mimados, arrogantes e divorciados das boas práticas, como cidadãos. Essa também é uma guerra surda, disseminada e dissimulada, que alveja a esperança em uma humanidade mais crítica e menos subserviente.


GABRIEL EMIDIO é jornalista e integra o Conselho Editorial do DT

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