Paulo Kakinoff, presidente da GOL, abre a série do DT: Entrevistas Presidenciais 

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Na primeira entrevista da série com presidentes de empresas e instituições umbilicalmente ligadas à economia do Turismo, o DIÁRIO ouviu o presidente da GOL Linhas Aéreas, Paulo Kakinoff. Com o compromisso de oferecer aos melhores leitores do DT um conteúdo extenso e completo, a primeira entrevista aborda assuntos de todas as naturezas, sejam as relações institucionais (não paternalistas) que a companhia aérea tem com o governo, sejam os planos de expansão da companhia sob a sombra de uma pandemia ainda mal resolvida, sejam assuntos técnicos como o impacto da tecnologia digital na operação da aérea, ou temas comerciais como a venda direta de serviços aéreos ao consumidor em detrimento ao papel das operadoras e agências de viagens. Paulo Kakinoff respondeu a todas as perguntas. Os jornalistas Gabriel Emídio e Paulo Atzingen assinam a produção e edição da entrevista, confira a seguir:

DIÁRIO – Quais seriam as questões mais desafiadoras para a GOL manter o equilíbrio básico, recuperar o padrão pré-pandemia e evoluir?

Acredito que há motivos para sermos otimistas. O equilíbrio entre a oferta e a demanda segue sendo para a GOL o aspecto fundamental para uma indústria de aviação sustentável, e com esse foco que trabalhamos para 2022. Os desafios neste momento não diferem daqueles que enfrentamos já há alguns meses, que são os custos da operação, principalmente o valor do combustível da aviação, que é dolarizado.

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DIÁRIO – Onde as instâncias governamentais poderiam (e ainda podem) contribuir, de forma não paternalista, com a sustentação e recuperação do setor aéreo, no seu todo?

Ao longo desses anos de pandemia, especialmente em 2020, o governo brasileiro nos apoiou em diversas iniciativas que permitiram a flexibilização de obrigações que iriam impactar a saúde financeira das empresas, como por exemplo a extensão do período de reembolso de passagens aos clientes e diferimentos de pagamentos para empresas geridas pelo governo. No entanto, diferentemente ao observado em outros países, não foram disponibilizados aportes financeiros diretos para auxílio às linhas aéreas. Ou seja, a obtenção de recursos para o enfrentamento da crise foi proveniente da própria capacidade da empresa junto ao mercado de capitais e seus investidores/credores. Como Companhia, o que temos de fazer é atacar a questão estrutural de custos – muito afetada pelo dólar e o preço do combustível, cujo objetivo é tornar o acesso ao avião ainda mais democratizado, e trabalhar por uma agenda com medidas positivamente impactantes para a tarifa e para os consumidores, o que felizmente é parte relevante da atual pauta governamental para o setor no país.

DIÁRIO – Em janeiro de 2022, a Gol Linhas Aéreas fez 21 anos. O que se tem para comemorar?

Há muito a se comemorar. Somos uma Companhia que nasceu para ser a Primeira Para Todos e democratizamos o transporte aéreo no Brasil. Ao longo dessas duas décadas nunca paramos de inovar e estabelecemos uma relação de confiança com os brasileiros reconhecida pelo mercado. A GOL transformou a indústria no Brasil e com isso o número de Clientes usando o transporte aéreo saltou quase 3 vezes. Atravessamos a pandemia mantendo nosso time completo e garantindo a operação mesmo nos períodos mais difíceis. No final de janeiro tivemos um evento interno que contou com a participação de diversas de nossas Águias e que celebrou a trajetória da Companhia, relembrando o passado, nossas conquistas e em como nossa história nos ajuda a olhar para o futuro da GOL.

DIÁRIO – A pandemia Covid-19 deixa sequelas ou revigora os planos da empresa?

A pandemia não acabou e, claro, ainda impacta todos os setores da economia. O nosso não é diferente. Certamente tem sido o nosso maior desafio nesses 21 anos e aprendemos muito com isso. Acreditamos que com a vacinação ampla da população, já podemos olhar para uma retomada real não só do nosso setor, mas da economia como um todo.

DIÁRIO – O aumento da demanda doméstica por viagens aéreas altera os planos da expansão da GOL?

Foram meses de demanda represada por causa das restrições impostas pela pandemia e é natural, neste momento em que há maior abertura e a maioria da população está vacinada, que haja um aumento de demanda. Não há motivos para esse fato alterar os planos de expansão da GOL até porque muitas novas rotas são nacionais. Aumentaremos a capilaridade da nossa malha por meio da expansão regional, crescendo de maneira racional especialmente onde existir vantagens competitivas para a nossa Companhia. Um exemplo foram as recentes inaugurações das rotas entre Congonhas (CGH) – Bonito (BYO) e Guarulhos (GRU) – Pelotas (PET). Outras três bases da GOL no Rio Grande do Sul serão abertas em 2022 (Santa Maria, Santo Ângelo e Uruguaiana). Estamos com foco total em expandir nossos mercados e caminhando cada vez mais para o interior do Brasil, além da retomada gradual dos destinos internacionais. Também buscamos ampliar e fidelizar os Clientes corporativo e a lazer, considerando os novos perfis e mercados do pós-pandemia como o chamado “bleasure” que mistura a viagem de lazer com trabalho, modelo impulsionado pelo “anywhere office”.

DIÁRIO – Em que pontos essenciais as aéreas nacionais movimentam-se juntas e unidas, para o fortalecimento desse modal, como um todo? Qual a importância da liberdade tarifária?

A GOL é fruto da liberdade tarifária e sempre defendeu o que promove a concorrência saudável, algo que é interesse mútuo de todas as empresas do setor. O equilíbrio entre a oferta e a demanda é um aspecto fundamental para uma indústria de aviação sustentável. Temos que atacar a questão estrutural de custos – muito afetada pelo dólar e o preço do combustível, cujo objetivo é tornar o acesso ao avião ainda mais democratizado, e trabalhar por uma agenda com medidas positivamente impactantes para a tarifa e para o consumidor.

DIÁRIO – Qual o impacto da tecnologia digital na equação operacional da Gol – transporte de pessoas e cargas?

Ampliar e melhorar os serviços tecnológicos em toda a jornada do cliente, seja na compra, como no atendimento, é mais do que nunca o foco da Companhia, que mesmo durante a pandemia investiu muito nessa frente, aprimorando os sistemas de venda e atendimento. A GOL foi a primeira Companhia aérea do Brasil a utilizar a tecnologia digital de forma inédita, com um modelo de negócio que revolucionou o mercado de aviação no país, democratizando o acesso ao transporte aéreo. Fomos pioneiros ao lançar o serviço de check-in feito inteiramente pelo celular (inclusive por meio de biometria), o serviço de geolocalização mobile para Clientes e um site com recursos de acessibilidade para atender pessoas com deficiência visual e motora – além de recentemente implementarmos o aplicativo para comunicação por Libras a bordo e check-in por WhatsApp. Fomos ainda a primeira companhia aérea a oferecer wi-fi a bordo. Seguimos investindo em sistemas e soluções mais modernos e que nos ajudam a aprimorar e customizar cada vez mais a experiência do Cliente, desde a busca e escolha por passagens até o pós-venda e programa de fidelidade, passando pelos pontos mais críticos como atendimento, vendas e check-in.

Paulo: “Nossa crença é que o consumidor é quem decide a melhor forma de adquirir uma passagem ou de traçar um roteiro de viagem” (Crédito: GOL)

DIÁRIO – Qual a política de investimento da Gol em pesquisa sobre o comportamento do viajante a lazer e a negócios?

Como todas as empresas, fazemos de forma recorrente nossas pesquisas de mercado e de comportamento. Não abrimos detalhes de como elas são feitas, por serem estratégicas para o negócio, mas tem observado algumas mudanças de comportamento ligadas diretamente ao momento da pandemia.

DIÁRIO – A retração das viagens e eventos corporativos mexe com as estratégias de marketing e vendas da Cia?

Os últimos dois anos tiveram, sim, uma retração das viagens corporativas, mas já observamos para 2022, com o avanço da vacinação e a retomada dos eventos presenciais, uma maior procura por este tipo de viagem e acreditamos que a demanda deve voltar a ser muito próxima dos patamares pré-pandemia. Temos observado também uma mudança no perfil de passageiros corporativos também, com muitos adotando o que chamamos “bleasure”, uma mistura de business com pleasure, quando combinam um mesmo destino para fazer uma viagem a negócios, mas ao mesmo tempo ir com a família a lazer. É também a partir da observação destes novos comportamentos que traçamos as estratégias de vendas e marketing para os próximos meses.

DIÁRIO – A comercialização direta de serviços aéreos ao consumidor secundariza o papel das operadoras e agências de viagens?

Não, não acreditamos nisso. Nossa crença é que o consumidor é quem decide a melhor forma de adquirir uma passagem ou de traçar um roteiro de viagem. O nosso papel como setor é oferecer diversos canais para que seja escolhido pelo Cliente o mais conveniente:  daqueles que optam por realizar toda a operação e pesquisa e aqueles que terceirizam essa escolha, especialmente nas viagens a lazer. O importante é que as Companhias Aéreas estejam prontas para atender as duas demandas, oferecendo os melhores serviços de reserva, seja para as agências como para os Clientes diretos, pois ambos são muito importantes para nós.

DIÁRIO – Como analisa a carga tributária sobre os insumos da aviação, especialmente o combustível?

Este é um dos nossos principais desafios e o que mais impacta o consumidor, já que o preço elevado do combustível de aviação é um dos principais causadores de aumento das tarifas de passagens. Trabalhamos em conjunto com a ABEAR para tratar deste tema, já que é algo que afeta todo o setor.

DIÁRIO – Qual a posição da Gol sobre a infraestrutura aeroportuária brasileira e o processo de privatização em curso?

Acredito que o Brasil possui bons aeroportos e que avançaram muito nos últimos 10 anos. A iniciativa privada tem mais disposição para fazer investimentos e aqueles que já foram privatizados apresentam às companhias aéreas propostas muito interessantes de aumento da capacidade e eficiência operacional. Isso não é só bem-vindo como é desejado para o país como um todo. O nível de eficiência da operação tem uma correlação com o custo. Nós vemos o cenário com muito bons olhos.

DIÁRIO – O chamado ‘Custo Brasil’ dificulta a retomada e expansão de rotas internacionais da GOL?

A retomada internacional para a GOL considera ainda os aspectos relacionados às condições sanitárias dos outros países e, por consequência, o impacto na demanda. Nossas bases começaram a ser reativadas em novembro de 2021, com voos para Montevidéu, Punta Cana e Cancún. No final de dezembro voltamos a Buenos Aires, desta vez no Aeroparque, o aeroporto central da capital argentina, e em janeiro retomamos um voo semanal entre Belém e Paramaribo, no Suriname. Todas essas reaberturas foram pensadas de forma bem cautelosa, sem apressamentos, bem como vão ocorrer os retornos a Santa Cruz de la Sierra e Assunção, em abril, e para os EUA, Orlando e Miami, em maio. Em relação a operação para os EUA, a GOL já tem operado para o país com sua parceira American Airlines, que garante conectividade para os Clientes GOL para mais de 50 destinos nos Estados Unidos a partir deste mês de fevereiro.

DIÁRIO – Quais são os compromissos de curto, médio e longo prazo da Gol, em relação ao ESG?

Em abril de 2021, a Companhia anunciou seu compromisso com o balanço líquido zero de carbono até 2050, sendo a primeira no Brasil a aderir. Em seguida, em junho, a GOL foi a primeira Companhia da América Latina a lançar a possibilidade de seus Clientes compensarem, voluntariamente, a pegada de carbono de seus voos, uma iniciativa desenvolvida em parceria com a MOSS, uma das maiores plataformas ambientais de créditos de carbono do mundo, com atuação em projetos de conservação florestal na Amazônia.

Trata-se do que chamamos de “responsabilidade compartilhada”: enquanto a GOL busca soluções definitivas para o impacto que a aviação comercial gera no planeta com a queima de combustível fóssil, a compensação de carbono consegue mitigar os efeitos prejudiciais das operações que não podem parar.

Em setembro de 2021, lançamos de forma inédita a rota Recife-Fernando de Noronha-Recife como a primeira rota 100% carbono neutro no País: neste caso, a compensação do carbono gerado pelas viagens é inteiramente doada aos Clientes e à tripulação, pela GOL e MOSS, com direito a um certificado aos Clientes e Colaboradores. Um presente para a ilha que é santuário ecológico do Brasil. Em dezembro a rota Congonhas- Bonito já nasceu Carbono Neutro, sendo a segunda rota com voos 100% compensados.

Para o estabelecimento dessa meta desafiadora, que é ser uma Companhia ESG e referência em aviação sustentável no mercado regional, a GOL já vem trabalhando há mais de uma década em inúmeras questões relativas à sustentabilidade nos âmbitos ESG. Os investimentos da Companhia em projetos de desenvolvimento dos combustíveis sustentáveis de aviação no Brasil já são uma realidade – e a resposta definitiva para a geração de gases de efeito estufa – e responderão por parte do sucesso com o compromisso firmado para 2050.

A GOL se apoia em quatro pilares com vista para a neutralização total da emissão de carbono até 2050:

  1. desenvolvimento de novas tecnologias para aeronaves e motores (incluindo a produção de combustíveis sustentáveis de aviação e bioquerosene);
  2. melhorias operacionais contínuas (otimização do espaço aéreo, por exemplo);
  3. melhor uso da infraestrutura e da logística;
  4. medidas baseadas no mercado. Estes pilares foram definidos pela ICAO e ratificados pela IATA (Associação Internacional de Transportes Aéreos).

DIÁRIO – Acrescente, por gentileza, Paulo, conteúdos relevantes eventualmente não alcançados pelas perguntas.

Ainda sobre impacto positivo para o meio ambiente, mas não somente por isso, aceleramos nossa renovação de frota com as mais econômicas e sustentáveis aeronaves Boeing 737-MAX 8. Fechamos 2021 com 28 aeronaves deste modelo em operação e projetamos que daqui um ano, no final de 2022, os MAX representem 32% da nossa frota, com 44 aeronaves no total.

Na estratégia da GOL, o 737-MAX 8 é um componente-chave para a meta da Companhia de atingir a neutralidade de carbono até 2050, dado que esse modelo é 15% mais econômico no consumo de combustível, gera 16% menos emissões de carbono e é 40% mais silencioso em relação ao 737-800 NG. Em 2021, a GOL já ultrapassou 33 mil horas de voo com aeronaves MAX, propiciando, até novembro, uma economia de 16,2 milhões de litros de combustível de aviação e a redução de 40,6 mil toneladas na emissão de GEEs (Gases de Efeito Estufa).

 

 

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