Toni Sando: “A imagem do Brasil precisa ser melhor trabalhada e a promoção tem que voltar com força total”

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Em continuação à série Entrevistas Presidenciais, ouvimos  Toni Sando de Oliveira, presidente executivo da Fundação 25 de Janeiro (São Paulo Convention & Visitors Bureau e Visite São Paulo) e da Unedestinos (União Nacional dos CVBs e Entidades de Destinos). 

O SPCVB é uma entidade sem fins lucrativos que busca ampliar o volume de negócios e o mercado de consumo na cidade por meio da atividade turística e Toni Sando é o homem responsável por fazer girar essa roda, que movimenta estimados R$ 16 bilhões anualmente em São Paulo, somente com a operacionalização das feiras de negócios.

Considerado um dos executivos mais respeitados do Brasil na área de hospitalidade, que abrange o turismo, eventos e promoções, trocou o promissor cargo de gerente geral de Marketing para América do Sul na Accor Hotels para assumir o desafio de transformar o SPC&VB. E conseguiu.

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Sob sua gestão o primeiro Convention & Visitors Buereau do Brasil, que está próximo de completar 40 anos, saiu dos 200 associados e hoje tem mais de 800. Também pulou da 80ª colocação no ranking da ICCA (Associação Internacional de Congressos e Convenções) para a 12ª e o 1ª das Américas. Também lançou o slogan “São Paulo é Tudo de Bom” e uma linha de produtos, além de posicionar o destino para que resista à mudança de gestões públicas. Promoveu campanhas publicitárias com celebridades conhecidas; treinou milhares de pessoas através da Academia Visite São Paulo; e teve até um samba enredo sobre São Paulo levado para o Sambódromo pela Escola de Samba Mocidade Alegre.

Toni Sando, que também é presidente da Unedestinos (União Nacional dos CVBs e Entidades de Destinos) e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo garante que seguir crescendo é preciso se reinventar todos os anos, além de agir ativamente na articulação com representantes dos diversos setores públicos e privados. Segundo ele, se não tivermos surpresas, 2023 será muito movimentado. “A retomada será passado e os novos negócios e oportunidades serão o presente e futuro.” Acompanhe a entrevista exclusiva concedida ao jornalista Roberto Maia, parceiro do DT.

Há quanto tempo o senhor está no comando do Visite São Paulo – São Paulo Convention & Visitors Bureau?

Estou na Fundação 25 de Janeiro, que conta com as marcas registradas São Paulo Convention & Visitors Bureau (SPCVB) e Visite São Paulo (VSP), desde 2005.

Anteriormente, estava como gerente geral de Marketing para América do Sul na Accor Hotels, quando Orlando de Souza, que então era o diretor de Operações das marcas Novotel, Mercure, Parthenon, foi eleito para a diretoria executiva da Fundação e, assim, me convidou para administrar a entidade como superintende executivo. Em 2009, Annie Morrissey, vice-presidente da Rede Atlantica de Hotéis, assumiu a entidade e ajustamos o estatuto através do Conselho Curador, substituindo o modelo de Diretoria Executiva para um Conselho de Administração. A minha função então passou a ser presidente executivo. Em 2013, assumiu a presidência do Conselho de Administração Juan Pablo De Vera, que à época era o presidente da Reed Alcântara Machado. Quatro anos depois, em 2017, foi a vez de Guilherme Paulus, fundador da CVC e presidente do grupo GJP Hotels & Resorts. Por fim, desde 2019, está à frente do Conselho Raul Souza Sulzbacher, membro do Conselho de Cotistas do Shopping Iguatemi e diretor da Fecomercio SP.

Durante esse período quais foram as principais mudanças na forma de atuação do SPCVB? Cresceu o número de associados? E qual foi o seu maior desafio?

Quando chegamos, a primeira coisa que fizemos foi ouvir os associados, formadores de opinião e setor público, criando vários grupos de trabalho. Elaboramos um Planejamento Estratégico, no qual levantamos questões como “quem somos”, “onde queremos chegar”, premissas e eixos estratégicos. Tínhamos aproximadamente 200 associados e chegamos a 800. Estávamos em 80º no ranking da ICCA (Associação Internacional de Congressos e Convenções) e chegamos a 12º e o 1º das Américas, em um amplo trabalho de pesquisa de eventos associativos internacionais.

O desafio que temos é nos reinventamos todos os anos, mas sem perder a essência estatutária da entidade. A missão da Fundação, motivo de seu nascimento, é aumentar o fluxo de visitantes através do apoio e captação de eventos e a promoção do destino.

E quais foram os principais projetos desenvolvidos e implantados nesses anos do SPCVB sob o seu comando?

A Fundação acumulou muitas histórias de sucesso durante seus 38 anos. Muita gente dedicou tempo e energia para manter a entidade. Temos uma parede na sede com o nome de todos que contribuíram quer seja no Conselho Curador, Conselho de Administração/Diretoria Executiva, superintendentes, com meu antecessor Aristides Cury e todos os gestores e funcionários. Temos um livro digital no site Visitesaopaulo.com, em “downloads”, cujo qual descreve cases de sucesso de todo esse período, entre eles o esforço da abertura do comércio aos domingos.

Em nossa gestão, lançamos o slogan “São Paulo é Tudo de Bom” e com ele veio uma família de produtos, além de um posicionamento de destino que resiste à mudança de gestões públicas. Fizemos campanha publicitárias com celebridades conhecidas; um samba enredo de São Paulo, com a Escola de Samba Mocidade Alegre; milhares de pessoas foram treinadas através da Academia Visite São Paulo; e, hoje, atuamos com uma linha de comunicação com o Estado de São Paulo, sob a marca “São Paulo Pra Todos”, em parceria com a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), e alinhada com a comunicação do Governo do Estado, através da Secretaria de Turismo e Viagens.

São inúmeros também os resultados da capitação de eventos nacionais e internacionais, atraindo grandes encontros mundiais, como foi a Convenção do Rotary Internacional e o World Skill Competition; e nacionais, como a Conferência Nacional da Advocacia Brasileira. Eventos que incrementam a economia do destino por meio de toda a cadeia produtiva de turismo, eventos e viagens.

O setor de eventos praticamente parou durante a pandemia da Covid-19. Em São Paulo eles já retornaram aos níveis de 2019, na pré-pandemia?

De fato. Parou mesmo. Foi se ajustando gradativamente através dos encontros virtuais e hoje estamos praticamente com 70% do que era 2019.  É importante destacar que muitos eventos que estão preenchendo o atual calendário foram contratados antes da pandemia. Ou seja, o desafio atual é fomentar a agenda com novos eventos, novos contratos, para que a recuperação econômica do setor seja mais sustentável e consistente.

O desafio atual é fomentar a agenda com novos eventos, novos contratos, para que a recuperação econômica do setor seja mais sustentável e consistente.

Durante a pandemia como foi a atuação do SPCVB em defesa dos associados?

Estávamos em plena campanha publicitária do “São Paulo Pra Todos” no Brasil e no mundo, com filmes e anúncios, focando nos destinos paulistas e a possibilidade de o viajante realizar o Stopover, recém criado pelas companhias aéreas nacionais. Com a pandemia, adaptamos imediatamente os esforços para vídeos apresentando os protocolos do setor da hotelaria, espaço de eventos, restaurante, bares e companhias aéreas. O momento era mobilizar a todos para seguirem as orientações para se conscientizarem da necessidade das precauções, e já se informarem e preparem para a retomada segura. Paralelamente, nos juntamos as demais entidades para pleitear junto às autoridades públicas, as necessidades e pleitos do setor para sua sobrevivência, como linhas de crédito, decretos, isenção de taxas e regulamento da flexibilização.

As entidades de classe ligadas ao turismo foram muito atuantes durante a pandemia na interlocução com o governo (municipal, estadual e federal). O senhor acredita que essa atuação conjunta continuará acontecendo?

A crise nos fortaleceu. Muitos movimentos foram feitos no período, reuniões semanais e às vezes diárias, através do G8, G20, Supera Turismo, Unidos pela Vacina entre outros. A atuação conjunta continuará existindo, obviamente com as pautas que forem comuns entre os diversos segmentos que compõe a cadeia produtiva de turismo, viagens e eventos.

Na última semana de junho, por exemplo, estivemos em Brasília a convite da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), que mantém o Cetur (Conselho de Turismo), que coordenou o trabalho com entidades, acadêmicos, sindicatos e federações, para entregar aos pré-candidatos à Presidência da República, recomendações de políticas públicas do comércio e turismo.

O Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos), que foi um benefício concreto na cadeia produtiva, foi liderado pela Abrape (Associação Brasileira dos Promotores de Eventos) e contou com o apoio, mobilização e envolvimento de todas as entidades setoriais e as entidades de destinos.

Quanto o senhor estima que foi o impacto econômico do setor em São Paulo?

É difícil mensurar, pois quando param os eventos, não somente a economia do segmento que é impactado. Há um cálculo da Ubrafe (União Brasileira dos Promotores Feiras) que estima que cerca de R$ 16 bilhões são movimentados em São Paulo, por ano, somente com a operacionalização das feiras de negócios. Entretanto, nesta conta, não integra o que se movimenta, por exemplo, no segmento da feira, que pode ser moda, tecnologia, automobilismo, saúde, varejo, viagens e mais.

“Independente do governante, a iniciativa privada seguirá seu caminho. Não há salvador da pátria” (Crédito: Andre Stefano – divulgação)

Como o senhor vê essa retomada dos negócios e dos eventos em São Paulo? Os congressos e eventos internacionais já estão retornando?

Sim, estivemos recentemente na IMEX em Frankfurt e na FIEXPO Latin America na Cidade do Panamá e a recepção com foi positiva. Se não tivermos surpresas nos fatores incontroláveis, teremos um 2023 muito movimentado, com a retomada sendo um passado, e novos negócios e oportunidades sendo o presente e futuro.

Quais são os seus argumentos no momento de tentar trazer um evento para São Paulo? Quais são as vantagens competitivas?

São Paulo, durante todos esses anos, foi se preparando para receber qualquer tipo de evento. Temos um destino, onde apenas na capital temos mais de 45 mil apartamentos de hotéis, 12 centros de convenções, equipamentos para realização de eventos com alta tecnologia, muito entretenimento e cultura e mais de 15 mil restaurantes e 72 shopping centers. Quando olhamos para o estado de São Paulo, são mais de 20 resorts no interior e litoral, estancias turística e parques naturais.

Além da estrutura e parceiros para a realização de evento, o Estado é a capital econômica do País e até da América do Sul. Então, com a forte presença das empresas e entidades multinacionais, o sucesso do evento ganha ainda mais um fator positivo.

O setor de lazer representa quanto percentualmente em relação ao de negócios em São Paulo? Tem havido crescimento?

A vocação do destino São Paulo é de negócios, entretanto, o lazer vem ganhando cada vez mais força com a nova característica do mercado de trabalho. Na capital, em números pré-pandemia, cerca da metade dos 15 milhões de visitantes vinham a São Paulo motivados por negócios e eventos. Reflexo deste movimento, a hotelaria de São Paulo costumava registrar maiores índices de ocupação durante a semana. Com a pandemia, tendo o turismo de lazer e entretenimento como carro-chefe da retomada, esse registro inverteu. O turismo de lazer se apresentou em São Paulo, com suas diversas vocações, como uma experiência de alta qualidade – com foco principalmente no turismo de aproximação. Durante esse período de retomada, muitos hotéis passaram a registrar o contrário, uma maior ocupação aos finais de semana.

A vocação do destino São Paulo é de negócios, entretanto, o lazer vem ganhando cada vez mais força com a nova característica do mercado de trabalho (…) O turismo de lazer se apresentou em São Paulo, com suas diversas vocações, como uma experiência de alta qualidade – com foco principalmente no turismo de aproximação.

E como o senhor vislumbra o futuro do setor de eventos no curto e médio prazo?

Estou muito otimista com o futuro, não que será do mesmo modelo que era há 20 anos atrás, mas com certeza será mais criativo, dinâmico e com muita conexão. A pandemia acelerou o uso de uma série de tecnologias que vieram para ficar. Formato híbrido, metaverso, conferências digitais, realidade aumentada, inteligência artificial, internet das coisas, hologramas, tudo que se soma ao que já está estabelecido. “O futuro não é mais como era antigamente.” A experiência do presencial, junto às atuais tendências, tornaram os eventos ainda mais especiais.

Em outubro teremos eleições no Brasil. A incerteza quanto ao resultado das urnas atrapalha na captação de eventos e negócios para o próximo ano?

De forma alguma. Independente do governante, a iniciativa privada seguirá seu caminho. Não há salvador da pátria. Temos problemas, como tantos outros destinos pelo mundo. A imagem do Brasil precisa ser mais bem trabalhada e a promoção tem que voltar com força total. Por isso se destaca o trabalho de diálogo realizado pelas entidades, capitaneado pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), de pautas aos presidenciáveis e demais potenciais governantes sobre a importância do setor e como trabalhar em conjunto.

Quantos visitantes São Paulo recebia anualmente até antes da pandemia? Qual sua previsão para voltar a esse patamar e até superar?

Somos otimistas na recuperação e somos promotores de um destino. Sempre estaremos vendo o copo cheio. Chegamos a ter 15 milhões de visitantes na capital e cerca de 50 milhões no Estado. Os números pós-pandemia ainda não foram divulgados, mas acredito que em 2023 já empataremos, mais bem estabelecidos tanto no turismo de negócios e eventos, quanto no de lazer e entretenimento.

Fale sobre sua gestão à frente da Unedestinos – União Nacional de CVBs e Entidades de Destinos. Quais são os projetos em desenvolvimento?

A Unedestinos foi criada para dar maior representatividade aos profissionais que atuam no marketing de destinos. A missão é integrar as organizações de Visitors e de Conventions Bureau e buscar sempre as melhores práticas de atuação.

Somos um grupo nacional, fortalecido pós pandemia, com propósitos e atitudes, atuando como protagonistas do destino e atuando sempre alinhado com as entidades setoriais e governantes. Estamos trabalhando no desenvolvimento de um Observatório de Turismo de Eventos em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, através do IBICT (Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia), que resultará em uma plataforma, uma grande ferramenta para os profissionais de captação de eventos.

Dos encontros anuais, temos o Unecongresso, que reúne presidentes e gestores para discutir nossos problemas sem exposição e sem caráter político ou financeiro.

Em 2023, o São Paulo Convention & Visitors Bureau completará 40 anos. Qual a sua expectativa para esse ano especial? Já pensou em como será a comemoração?

Surpresa! Mas saibam que o que estamos preparando desde já vai valorizar muito as conquistas nas quais a entidade se envolveu em toda a evolução do setor, assim como as pessoas que passaram pela entidade e deixaram suas marcas.

 

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