A pandemia acelerou a preocupação das empresas, e da sociedade como um todo, em relação ao ESG – Environmental, Social and Governance – Meio Ambiente, Social e Governança, que passa agora a ser prioridade, colocando no topo da pauta corporativa a questão da sustentabilidade.
por Monica Bressan*
Até a década de 70, a preocupação com recursos naturais e sociais era praticamente inexistente, pois não se acreditava na falta de recursos e não havia uma grande preocupação com a qualidade das condições humanas. Foi nesse período que os cientistas começaram a alertar sobre os problemas do efeito estufa e do esgotamento dos recursos naturais, iniciando a realização de estudos sobre maneiras conscientes de explorar o meio ambiente e de forma sustentável, surgindo então a ideia de que é preciso garantir que os recursos usados hoje sejam renovados para que gerações futuras também possam usufruir deles. Junto aos estudos do meio ambiente, também surgiu a preocupação com o desenvolvimento social e as condições humanas.
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A partir desses estudos, a questão socioambiental começou a ser uma preocupação das grandes organizações internacionais, que passaram a discutir sobre como desenvolver a exploração de forma sustentável, sem comprometer o próprio desenvolvimento tecnológico e social.
Essa preocupação chegou aos investidores institucionais e em 2006, juntamente com a Iniciativa Financeira do Programa da ONU para o Meio-Ambiente (UNEP FI) e o Pacto Global, foram publicados os princípios do investimento responsável – Principles for Responsible Investments (PRI), que sintetizou essa preocupação em seis princípios que devem orientar os investidores na tomada de decisões em relação aos seus investimentos.
São eles:
1 – Incorporaremos os temas ESG às análises de investimento e aos processos de tomada de decisão.
2 – Seremos pró-ativos e incorporaremos os temas ESG às nossas políticas e práticas de propriedade de ativos.
3 – Buscaremos sempre fazer com que as entidades nas quais investimos divulguem suas ações relacionadas aos temas ESG.
4 – Promoveremos a aceitação e implementação dos Princípios dentro do setor do investimento.
5 – Trabalharemos unidos para ampliar a eficácia na implementação dos Princípios.
6 – Cada um de nós divulgará relatórios sobre atividades e progresso da implementação dos Princípios.
Desde então, o número de signatários desse compromisso tem aumentado cada vez mais. Em 2006 eram em torno de 200 investidores, hoje são mais de 3.000. Somando os recursos movimentados por esses investidores temos o valor de 120 trilhões de dólares disponível para a realização de investimentos em negócios voltados para os conceitos do ESG.
Essa mudança de paradigma, no sentido de que os negócios devem ser preocupar com o meio ambiente, questões sociais, além da governança, tem como fundamento o desenvolvimento sustentável não só do meio-ambiente ou do âmbito social, mas do próprio negócio.
Um bom exemplo de empresa com foco no ESG é a Faber Castell, que replanta árvores nos lugares onde ela extrai madeira para produzir seus lápis, como uma questão autoconsciente, garantindo a manutenção dos recursos para continuar construindo seu principal produto e, assim a sua própria sustentabilidade como negócio.
A mídia também desempenhou um papel fundamental para conscientizar a população sobre o consumo de produtos ou serviços de empresas que estivessem comprometidas com a questão ESG, estimulando ainda mais as companhias interessadas em cativar esse público, a adotarem esse sistema.
Uma empresa que investe em ações ESG tende a passar maior credibilidade aos investidores e, também, aos seus colaboradores, fornecedores e clientes, por estar seguindo os padrões inovadores e sustentáveis, além de estar em conexão ao inconsciente coletivo da sociedade, que também incorporou essa ideia ao seu estilo de vida, uma vez que todos querem que as gerações seguintes também possam usufruir dos recursos e manter o legado de conscientização desenvolvido na segunda metade do século 20.
Outra tendência ESG é gerar economia à própria população, poupando-a de ter que arcar com os custos gerados com problemas ambientais que as empresas deixavam ou explorar recursos os quais elas ficariam sem.
Daí por que o poder público também se mostra cada vez mais suscetível a essa ideia. Vale mencionar o fomento do governo do Paraná, além de linhas de crédito específicas do Finame e do BNDES, que incentivam a adoção de energia renovável e a instalação de sistemas de micro e minigeração de energia elétrica fotovoltaica, eólica ou de biomassa, que permitem que a produção excedente de energia elétrica renovável possa ser compartilhada com o sistema das distribuidoras concessionárias tradicionais, gerando ainda crédito adicional para seus produtores.
Vale lembrar que a Governança Corporativa se pauta pelos tradicionais pilares de transparência, prestação de contas, equidade e responsabilidade corporativa. E dentro desse pilar de responsabilidade corporativa já havia a preocupação com o compliance e a responsabilidade socioambiental. Mas com o suporte dos investidores e da própria sociedade, que cada vez mais vem pautando as ações corporativas voltadas para o ESG, a sua implementação veio para ficar.
*Monica Bressan é especialista em governança corporativa, compliance, ISO 37001, ISO 31000, contratos e finanças.