Por Paulo Atzingen*
Parque Nacional Alberto Agostini – (Quinta-feira, dia 9 de abril)
Acordei vendo torres de gelo arranhando as nuvens e um céu ainda indeciso em se fazer pleno. Minha janela era o espetáculo. Estava – fui conferir no mapa – no epicentro da Terra do Fogo. De propósito, o comandante Rodrigo Navarro navegava lentamente pelo canal, antes de ser anunciado que o café da manhã estava servido.
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O navio Via Australis baixou âncora em um dos fiordes do Parque Nacional Alberto Agostini.
Tudo era colossal e o anúncio do café da manhã convidava os ainda sonolentos passageiros a pularem da cama e fotografar e pensar: a mesma força que sustenta os homens sobre o solo e os barcos sobre os mares, colocara aquele bloco de gelo sedimentado pelos séculos diante dos olhos.
Café tomado, os zodiacs saem levando os turistas para ver os glaciares de perto. Primeiro os que falam inglês e em seguida os que falam espanhol e portunhol.
Quebrando placas de gelo
Entramos embarcados no fiorde, em direção a uma geleira azul celeste. O zodiac recorta o fiorde quebrando placas de gelo e, em alguns segundos se constata que tudo isso foi planejado pela tripulação com a meta de uma margem de erro beirando a zero. O piloto do barco conhece o traçado exato e evita os icebergs maiores.
“Há cerca de 100 mil anos essa geleira cobre todo o fiorde. Este parque tem esse nome em homenagem ao missionário e explorador italiano Alberto Maria de Agostini, que esteve por aqui no início do século XX”, explica a guia de expedição, Mônica Rivera.
Um riacho sai de dentro da geleira e silenciosamente deságua no fiorde. O bloco de gelo traz um detalhe, que visto de longe, parece insignificante, mas não é: um rio subterrâneo, uma espécie de artéria que tem origem no coração da ilha e que para desaguar no canal rompeu, rompe e continuará rompendo o glacial neste próximo minuto e durante o próximo século. É preciso que se cumpra a sina – e a lei da gravidade – de que todos os rios correm para o mar.
Coloração das geleiras
O processo de sedimentação da neve sobre o gelo aqui na Patagônia é expresso pela coloração das geleiras, os glaciares como são chamados. Ao nos aproximarmos do glacial Piloto, observamos um azul quase fosforescente. A natureza virgem da Patagônia se expressa: um ar puríssimo, raios de sol sobre os pássaros e um silêncio avassalador, cortado apenas pelo ronco do motor dos botes zodiacs.
Surge, do nada, um, dois, três pássaros – “da espécie Remolinera patagônica” – explica Mônica Rivera. Uma ave muito parecida ao nosso pardal; rodopia em volta do barco e pousa na proa como se deixasse fotografar.
Por volta do meio dia, avistamos o ponto mais alto do Parque Alberto Agostini: o monte Sarmiento, com 2.2 mil metros de altura.
À tarde, desembarcamos em uma praia para vermos de perto a geleira Áquila, uma das várias montanhas de gelo que compõem a cordilheira Darwin.
Flora rica
Na caminhada, na praia, vimos várias espécies de flora entre elas a Calafate (Berberis micropylla) a Zalzaparrilha (Ribes magellanicum) e a Michay (Berberis ilicifolia).
Depois de uns 20 minutos de caminhada chegamos defronte à geleira Áquila, um colosso de gelo de mais ou menos mil anos de vida, que, curiosamente, explica a guia, ao invés de descer em direção à água, ao contrário, sobe a montanha. “Este bloco de gelo é empurrado para cima pela força do vento e pela constante neve que são mais fortes que o degelo do verão”, explica Mônica, de forma muito didática.
Albatrozes saem de seus ninhos. Parece que adivinham o final do outono. E adivinham.
Jantar
À noite, pontualmente às 20 horas, foi anunciado o jantar. Prato principal: costelinha de porco refogada sobre purê de batatas sauté com aspargos. O jovem chef chileno, Carlos Vera, assina.
* O jornalista Paulo Atzingen viajou à Patagônia convidado pela Cruceros Australis
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