Formado em economia, vejo o Enoturismo mais como atividade econômica que propriamente turística, muito embora as duas caminhem lado a lado já que o objetivo final é desenvolver a região.
Para escrever sobre qualquer assunto, trato de me informar através da leitura de textos dos mais diversos países e suas experiências na área em questão. Essas referências não as cito aqui, pois seriam maiores que o texto em si, como muitas vezes acontece em textos acadêmicos. Nenhum desprezo em relação à academia não me interprete mal.
Ninguém pode negar que o Vale dos Vinhedos é um importante exemplo de progresso e crescimento da região e relativo desenvolvimento. Desde a criação da Aprovale em 1995, das seis vinícolas fundadoras, hoje são mais de 30 e novas a caminho. A estrada não era asfaltada, não havia hotéis, restaurantes e pousadas e outras atividades. Tudo isso existe no Vale hoje e novos empreendimentos surgem, em função do enoturismo.
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Quando falo em relativo desenvolvimento, o faço sob uma visão social, boa parte dos verdadeiros criadores do Vale dos Vinhedos estão à margem de tal progresso. Como exemplo, pode-se dizer que pouco são os produtores de uva que entregam a sua produção às vinícolas locais. Pelo bem da verdade, alguns criaram a sua própria vinícola, mas poucos, além daquela que já existiam.
Muito embora Rotas de Vinho tenham surgido na Alemanha entre 1920-35, o turismo do vinho como hoje se opera, surgiu em países chamados de Novo Mundo do Vinho.
Comum aos estadunidenses, eles se consideram os pioneiros e determinam como marco o Julgamento de Paris em 1976, quando vinhos americanos superaram todas as expectativas e venceram rivais franceses, inclusive provados por franceses, que pontuaram mais os americanos que aqueles de sua pátria.
Em tempos de Olimpíada no Japão, os Estados Unidos têm a sua própria forma de estabelecer um ranking das medalhas e entendem estar em 1º lugar! Devem atribuir pesos diferentes para cada tipo de medalha conquistada.
Nos anos 90 do século passado, além dos Estados Unidos, a Austrália e a Nova Zelândia já despontavam como grandes promotores do Enoturismo. Relatos chegavam dizendo que muitas vinícolas australianas tinham o varejo e a sala de degustação bem maiores que a própria área designada a produção de vinhos.
Por essa época, a Casa Valduga recebia grupos para almoço e jantares em meio às pipas de madeira da vinícola, como a presença de intérpretes de música italiana. “Mérica, Mérica, Mérica cosa sará quest’Mérica…”
Como é possível ver, a criação da Aprovale foi quase concomitante aos primeiros passos do Enoturismo e os produtores abraçaram fortemente esta causa, que muito mudou a cara do Turismo. Aliando o turismo a Indicação de Procedência, uma nova realidade surgiu.
Em 1999 e 2000, duas visitas técnicas foram feitas à região do Napa Valley, com produtores do Vale dos vinhedos e outras regiões, sob o comando da Waleska Schumacher, portanto, o Enoturismo aqui não nasceu ao acaso.
O Enoturismo não é PASSIVO!
Ele envolve hóspedes que visitam vinícolas, participam de degustações e da colheita e pisa da uva, caminhadas, passeios de bicicleta, festivais, etc., tornando o Enoturismo em algo divertido, educativo e esclarecedor para os entusiastas do vinho.
Também, o Enoturismo é relativamente novo, mas atrai milhares de pessoas em todas as regiões do mundo. Com crescimento exponencial, calcula-se que só nos Estados Unidos cerca de 27 milhões de turistas participam ativamente do turismo ligado a Enogastronomia.
A Catalunha, na Espanha, lançou o Enoturismmo como alternativa ideal ao turismo de praia!
O cenário da região é muito pitoresco e este deve ser preservado pois a paisagem é o, Patrimônio nº 1 de uma região vinícola. Em alguns países há leis que protegem tal patrimônio. Por aqui ainda estamos a ver navios.
As atrações são inúmeras e não creio que alguém vá ao Taiti ou ao Havaí para fazer Enoturismo, mas o mundo do vinho oferece essa experiência em lugares inusitados, além dos citados, no Tibete, onde está o vinhedo mais alto do mundo, na Tailândia, onde a colheita da uva é feita com elefantes, no deserto e Atacama no Chile, entre outros.
Devemos destacar que o Brasil vitivinícola é um destino interessantíssimo, pois a produção de uva e a elaboração de vinho acontecem em climas quentes, frios e temperados, portanto, uma experiência única para os entusiastas do vinho. Em breve produziremos um texto em relação as nossas regiões, hoje, felizmente, inúmeras.
Mas que tipo de Enoturista você é?
Eu sou do tipo Doido por Vinho, em minhas viagens sempre considerei roteiros com vinho e boa gastronomia. É possível dizer que essa escolha direciona muito a aspectos culturais e sociais de cada região, coisas típicas não faltam.
Você pode ser também um Aventureiro do Vinho, quando suas papilas o direcionam a gastronomia e ao vinho, por mero prazer, sem desejar ser um grande conhecedor.
Também, você pode ser um Viajante Casual do Vinho, trata-se de quem não quer ser doido ou aventureiro do vinho, simplesmente gosta de paisagens tranquilas, muitas vezes viaja sem rumo, aprecia boas instalações e está em fuga da agitação urbana ou de praias super lotadas.
QUAL O SEU ESTILO?
*Werner Schumacher, é o alemão brasileiro que na década de 80 e 90 do século passado trouxe os insumos da Europa para o início da vinicultura no Rio Grande do Sul, e portanto, no Brasil.
Sem meias palavras, Werner durante o último ano escreveu sobre inúmeros assuntos do universo do vinho. Defendeu a viticultura heroica de montanha, ficou do lado dos pequenos produtores de uva e vinho do Rio Grande do Sul, enalteceu a importância do enólogo em uma propriedade que produz vinho. Além de tudo isso, e com muita classe, critica os marqueteiros que tentam desmistificar o mundo do vinho com seus produtos padronizados e sem caráter.