Publicado originalmente dia 18 de outubro
por Andrea Nakane*
Impossível não associar a história da música popular brasileira a uma das casas de espetáculos mais importante e charmosa do Brasil, localizada na cidade do Rio de Janeiro: o famoso Canecão.
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Do fim da década de 1960 à de 2010 , o Canecão imperou sua magnitude no cenário da produção cultural brasileira, tendo em seu palco se apresentado todos os mais relevantes intérpretes e músicos de nosso cenário, com shows que entraram na história como os de Tom Jobim, Elis Regina, Roberto Carlos, Cazuza, Maysa entre outros nomes.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), proprietária do terreno, conseguiu recuperar o imóvel depois de quatro décadas de imbróglio judicial, gerado justamente por não receber o pagamento de aluguel do antigo responsável pelo gerenciamento da casa, Mário Priolli.
Cinco anos se passaram, a instituição educacional prometeu por diversas vezes que iria transformar o lugar em um espaço cultural público para legitimar uma maior disseminação das artes para a população, sem o cunho comercial de antigamente.
E o cenário atual entristece a todos os cariocas que passam em Botafogo, bairro nobre da zona sul e deparam-se com um impactante abandono externo, repleto de pichações e lonas rasgadas.
Se a população tivesse acesso ao seu interior, a angústia e a revolta seria maior. O revestimento acústico do teto não existe mais, há lixo e entulho por todos os lados, a instalação elétrica toda comprometida não funciona mais. Na boca de cena do palco… apenas sobrou o piso esburacado, sem nada lembrar sua áurea de pompa ao ter recebido tantos artistas por mais de 40 anos.
Um povo sem memória é um povo incompleto. Como Embaixadora do Rio de Janeiro não posso e não vou me calar ao ver tanta depreciação e desprezo por um patrimônio que carrega a alma dos cariocas
A única esperança que há é uma promessa da UFRJ para o restauro do mural “Última Ceia”, de autoria de Ziraldo, que foi feita em 1967 e desde então ficou escondida do público, embaixo de ladrilhos.
Porém a falta de verbas da instituição, que não tem dinheiro nem para honrar a qualidade que a educação superior deveria ser tratada no país, não nos deixa ser otimistas.
Com tantas obras e projetos arquitetônicos para os jogos olímpicos de 2016, não é possível que não seja identificada uma Parceria Público Privada (PPP), que seja sensibilizada pela riqueza que representa a casa e o quando faz sofrer, tantas e tantas, gerações que vivenciaram momentos inesquecíveis de entretenimento e lazer no espaço.
Sei que temos inúmeras prioridades… mas a cultura e a preservação da mesma deve também ser considerada prerrogativa de maior atenção. Imagina o cenário que será transmitido aos inúmeros turistas que irão visitar a cidade do Rio de Janeiro no ano que vem?
Um povo sem memória é um povo incompleto. Como Embaixadora do Rio de Janeiro não posso e não vou me calar ao ver tanta depreciação e desprezo por um patrimônio que carrega a alma dos cariocas.
Por isso clamo: Atenção para a situação do Canecão! Vamos juntos lutar para que ele retorne aos holofotes da nossa cultura… de onde jamais deveria ter saído de cena!
* Andréa Nakane é diretora da Mestres da Hospitalidade e professora da Universidade Metodista de São Paulo.