Mario Carlos Beni por sua permanente reinvenção, atualização e excepcional lucidez dispensaria apresentações*. Nesta entrevista, concedida ao editor do DIÁRIO, jornalista Paulo Atzingen, Mario Beni fala sobre os efeitos da hipermodernidade no comportamento das pessoas, discorre sobre inteligência artificial e arrisca que ainda estamos à beira de uma profunda recessão. Segundo o professor, a Europa sairá mais fácil do buraco pela força de coesão de seus países. “Já os Estados Unidos e incluindo o BRICS, poderão pensar num Fundo Monetário internacional”, prognostica Mario Beni. Acompanhe abaixo a entrevista completa:
DIARIO: Quem lê até o fim seus artigos atuais tem a grata satisfação de concluir que o senhor permanece com a mesma mente afiada e lúcida dos tempos de seus 20 ou 30 anos. O que mudou na mente de Mário Beni, daquele tempo para agora?
Muita coisa mudou Paulo Atzingen e continua mudando sempre, às vezes a cada 24 horas. A cada dia que me atualizo por diferentes mídias ou pelo contato que mantenho com regularidade com meus ex- orientados de mestrado e doutorado muitos no exterior. Penso e reflito. Todas as informações e inovações que tenho acesso e sempre através uma análise transdisciplinar entre a complexidade e a unidade, para que se tenha uma nova consciência do real.
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DIARIO: Em seu artigo Maiêutica da hipermodernidade o senhor afirma que diante de um mundo aleatório, conflituoso e incerto não sabe ao certo se vivemos uma evolução, uma mutação ou uma revolução. Por quê?
Pressinto esta dúvida, e a cada dia me convenço mais, a cada nova conquista da tecnologia corresponde um avanço à ciência, porém quantos de nós estamos realmente capacitados para lidar com essas conquistas, creio que a defasagem seja imensa e cada vez se dilata mais; veja o esforço dos especialistas para encontrar o antígeno do covid-19, todos são cientistas experientes com habilidades e competências de pesquisa no campo específico da virologia, porém, quantos teriam uma visão holística e transdisciplinar para juntar variáveis de diferentes ciências que poderiam estar interagindo nesse processo? Isto nos remete a educação e formação profissional que deveria a esta altura obrigatoriamente ser holística, transdisciplinar, transversal e intersetorial, para ao menos haver uma conexão verdadeira e eficaz entre as tecnologia digital e a propedêutica…
DIARIO: O senhor acredita que a inteligência artificial poderá substituir totalmente a inteligência humana?
Em algumas funções específicas de agilidade matemática, localização e informação rápida de procedimentos complexos reduzindo tempo de trabalho, porém o homem com suas habilidades e competências irá sempre programá-las para esse fim.
DIARIO: Professor, por volta da Idade Média Deus era o centro de tudo, depois foi a Ciência. Hoje o homem foi alçado ao centro, impulsionado pelo consumo, por sua ideia de infalibilidade. Há algo novo sob o sol depois da Pandemia?
Paulo, Deus sempre esteve presente mesmo para aqueles pesquisadores e cientistas agnósticos. Lavoiser era um católico praticante e jamais faltou as missas aos domingos, para o colegas que o criticavam afirmava enfaticamente: ” quando entro em meu laboratório, Deus fica de fora!
Coitado, ele ainda não tinha sido apresentado a interdisciplinaridade e nunca considerou em suas conquistas a variável da fé!
Haverão muitas coisas novas depois da pandemia sobretudo no cotidiano do ser humano principalmente no que diz respeito a Hábitos e Costumes.
DIÁRIO: O que falta para o Brasil levantar de sua cova esplêndida?
Não creio que estejamos nem próximo a ela. Embora tenha a plena convicção que passaremos uma terrível recessão, que não será diferente de outros países exceptuando-se a Europa pela força de coesão de seu países em todos os sentidos. Quanto aos Estados Unidos, China e Rússia, incluindo o BRICS, poderão pensar num Fundo Monetário internacional para abreviar essa crise econômica global cujos contornos ainda não temos a menor ideia.
Na verdade o mundo hoje é um barco absolutamente desgovernado o qual não estamos conseguindo colocá-lo em seu rumo correto nem mesmo controlar a altura das ondas, tudo acontece na dispersão e negligência, e o sextante está simplesmente enlouquecido!