Apenas nas Américas, o número total de quartos em 2021 aumentou quase 30% em relação a 2015
EDIÇÃO DO DIÁRIO com agências
O setor de marcas lifestyle para o segmento mais econômico de hotéis experimentou um crescimento significativo nos últimos anos, principalmente durante a pandemia, aponta o estudo “Rise of Affordable Lifestyle Hotel Brands”, da JLL. Desde 2015, o número de quartos mais que triplicou, registrando hoje mais de 106 mil unidades ao redor do mundo. No campo das grandes marcas hoteleiras, o crescimento dessa tipologia foi de 21,7% no mesmo período.
O conceito lifestyle traz componentes de modernidade, integração e foco na experiência do hóspede, ainda mais valorizada neste período de distanciamento que vivemos, explica Pedro Freire, diretor de Valuation and Advisory Services da JLL. “O lifestyle ‘econômico’ vem atender a uma demanda crescente de viajantes que querem ter contato com a cultura local e com experiências autênticas, sem ter que pagar muito pela hospedagem”, explica.
Nas Américas, o número total de quartos de marcas lifestyle econômicas em 2021 aumentou 29,9% em relação a 2015, de acordo com o levantamento da JLL. Esse é o mercado com a maior oportunidade para produtos econômicos com recursos e comodidades modernas. Na Europa, no Oriente Médio e na África, o crescimento do setor é mais moderado por conta do mercado de hostels bem estabelecido. No entanto, a região atualmente possui a maior quantidade de projetos em construção. Ásia-Pacífico, por sua vez, registrou um aumento de 33,9% no segmento, influenciado pelas ambições de expansão das grandes empresas especializadas em mercados anteriormente inexplorados.
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Essa tendência é impulsionada por três fatores:
As principais empresas hoteleiras estão lançando novas marcas em resposta às expectativas dos hóspedes, principalmente os mais jovens, que valorizam tecnologia e espaços de integração;
O setor imobiliário tradicional está se adaptando às áreas urbanas, que estão cada vez mais adensadas: hotéis urbanos com quartos menores e alto investimento em tecnologia estão atraindo cada vez mais viajantes corporativos e de lazer, que normalmente utilizam marcas hoteleiras tradicionais;
Operadores de hotéis estão procurando competir com acomodações alternativas, como Airbnb.
Conceito possibilita aumento de ganhos
Para os empreendimentos, seguir essa tendência é uma oportunidade de aumentar seus ganhos sem promover grandes alterações na estrutura física.
“Incorporar conceitos de lifestyle agrega mais valor ao preço da diária do que a estrutura física. Não há mudanças no tamanho dos apartamentos, por exemplo, mas o lobby ganha importância como área de convivência, assim como a oferta de A&B (alimentos e bebidas) e a decoração. É uma maneira de rentabilizar um espaço que antes ficava mais ocioso”, analisa Pedro Freire.
As características mais comuns de hotéis de marcas lifestyle econômicas são:
Design eficiente e aprimorado pelo uso intenso de tecnologia;
Lobbies contemporâneos com espaço aberto para incentivar a interação entre os hóspedes;
Opções de comidas rápidas em A&B (grab-and-go), com maior ênfase na venda de bebidas;
Quartos menores, que variam de 17 a 25 metros quadrados.
A adaptação ao conceito de lifestyle vale para novos projetos e para hotéis já existentes. “Há mercados em que o custo é alto, como São Paulo e Rio de Janeiro, que não têm terrenos disponíveis em lugares classe A. Então, hotéis já existentes passam por reformas para se adaptar”, afirma o diretor da JLL.
Segundo ele, hotéis econômicos com conceito lifestyle podem ter rentabilidade mais alta e bom retorno aos acionistas. “Em um projeto de hotel econômico com conceito lifestyle, você tem o custo reduzido de construção, mas a rentabilidade fica entre mid e upscale. Um hotel de luxo gera volume alto, mas a rentabilidade é um pouco menor”, compara.
Não à toa, empresas do ramo hoteleiro que tradicionalmente se concentram nos segmentos de categorias superior e midscale estão apostando no conceito. É o caso da Marriott International, Hilton Worldwide e InterContinental Hotel Group, que estão por trás da criação de marcas lifestyle mais econômicas, incluindo Moxy, Tru e Avid. No outro extremo, a Best Western lançou as marcas Vib e Glo para competir nesse setor. No Brasil, a rede Selina tem se destacado e expandido sua presença no país. Esse nível de comprometimento dos principais players hoteleiros demonstra a demanda de longo prazo entre os clientes por produtos mais econômicos e, portanto, a viabilidade desse segmento em expansão.
Por que hotéis de marca lifestyle e categoria econômica atraem investidores?
Os quartos menores criam a flexibilidade de situar um hotel em áreas urbanas mais densas, que se beneficiam de maior fluxo de pessoas e são locais geralmente preferidos pelos investidores;
Potencial para prazos mais curtos de construção;
Os quartos menores permitem mais espaço para as instalações e os recursos que os hóspedes exigem cada vez mais, como espaços abertos para trabalhar e relaxar, que, por sua vez, incentivam maiores gastos com alimentos e bebidas;
O produto hoteleiro atrai viajantes a lazer e a negócios, com a maioria das marcas relatando demanda dividida entre os dois segmentos de hóspedes.
Startups também pressionam os hotéis a se reinventar
Outro movimento importante é o número crescente de startups do segmento de hospitalidade competindo no espaço imobiliário e atraindo uma quantidade crescente de capital. Um exemplo é a Oyo Hotels, startup indiana que faz parcerias com hoteleiros independentes de pequeno e médio porte para investir na repaginação desses estabelecimentos e em sistemas de gestão e de tecnologia. Ou seja, os hotéis devem estar atentos aos novos entrantes de fora da indústria, de acordo com Freire.
“As startups conseguem ter a sensibilidade da importância da integração, do bom uso dos espaços. Elas estão tendo sucesso, forçando marcas tradicionais a se repaginar ou a comprar esses novos players”, avalia o executivo.
Confira o estudo Rise of Affordable Lifestyle Hotel Brands da JLL aqui.