Marco Ferraz, presidente da CLIA Brasil: “meta é reduzir as emissões de carbono em 40%, até 2030”

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O Entrevistas Presidenciais, desta edição do DT, é com o presidente da CLIA Brasil – Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos, Marco Ferraz. Administrador de empresas, com formação na FAAP e FGV, distingue-se pela capacidade empreendedora, liderança, carisma e habilidade para lidar com pessoas. Além disso, é conhecedor dos negócios relacionados ao turismo.

EDITORES DO DT


Nesta entrevista concedida aos editores do DIÁRIO, jornalistas Paulo Atzingen e Gabriel Emídio, Marco fala sobre segurança biossanitária, cita uma relação de novas tecnologias que integram os navios de cruzeiros pós-modernos, legislação trabalhista, infraestrutura portuária e o  posicionamento da CLIA Brasil em relação à proteção do meio ambiente. Confira:

DIÁRIO – Como dirigente de uma entidade fundada há 15 anos, como você analisa o fôlego das empresas de Cruzeiros Marítimos no Brasil e no mundo?

São empresas sólidas, que atravessaram esse período de paralisação e estão voltando mais fortes. Um dos indicadores dessa força é a quantidade de navios que entrarão em operação nos próximos anos: até 2027, teremos mais 93 novas embarcações navegando pelo mundo todo.

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DIÁRIO – A pandemia C-19 afetou, drasticamente, a atividade turística. Como a CLIA Brasil lidou (e ainda lida) com os efeitos destes dois anos de turbulência?

Responsabilidade, resiliência e muito trabalho focado nas pessoas, no meio ambiente, no compliance e nas comunidades. Esse foi o principal ponto de trabalho da CLIA e seus membros desde o início da pandemia da COVID 19.

Com medidas respaldadas por médicos, cientistas e especialistas, sempre aptas a adaptações de acordo com o cenário e com as exigências de cada país, nossa indústria atravessou os dias desafiadores e, hoje, contabiliza mais de seis milhões de cruzeiristas embarcados em todo o mundo, desde a retomada das operações em julho de 2020.

Seguimos reforçando o alto grau de segurança das viagens, que é comprovado a cada novo embarque realizado com sucesso pelos quatro cantos do mundo e , inclusive, no Brasil. Além disso, nosso trabalho segue com muito critério, para que as experiências que oferecemos continuem sendo memoráveis.

DIÁRIO – Qual o nível de segurança biossanitária que, hoje, é oferecido pelas empresas associadas à CLIA Brasil?

Os cruzeiros são o único segmento do turismo que exige uma abordagem robusta em várias camadas aos protocolos de saúde e segurança que abrangem toda a experiência – incluindo testes negativos antes do embarque; testes regulares da tripulação; um ambiente onde quase todas as pessoas são vacinadas; limpeza contínua de todos os espaços públicos e quartos de hóspedes/tripulação; uso de máscaras, distanciamento social, ventilação e outras medidas que especialistas em saúde pública de todo o mundo endossaram.

Como resultado, a incidência de COVID-19 a bordo de navios de cruzeiro é uma fração do que ocorre em terra e as hospitalizações são extremamente raras.

Nas excepcionais ocasiões em que é necessário tratamento médico para passageiros ou tripulantes, os navios de cruzeiro têm instalações médicas, de isolamento e quarentena no local e planos de resposta abrangentes usando recursos privados em terra para evitar qualquer ônus para os portos ou comunidades.

Navio Costa Fascinosa (Crédito: Clia)

DIÁRIO – Como está a gestão dos cancelamentos, que afetaram empresas e viajantes?

As Companhias seguem as regras e a legislação vigente dentro de cada país. Como entidade, temos o compliance como uma das prioridades.

DIÁRIO – Como partner da Cruise Lines International Association (CLIA), as medidas tomadas pelas autoridades brasileiras estão em consonância com aquelas adotadas por outros países?

Os protocolos da Anvisa são seguros e têm similaridades com os procedimentos adotados em outros países.

Desde julho de 2020, mais de 6 milhões de pessoas navegaram em quase 90 mercados em todo o mundo, adotando protocolos de segurança robustos e desenvolvidos por médicos, cientistas e especialistas, sempre de acordo com as autoridades de cada país ou região.

DIÁRIO – Pandemia C-19 e derivações à parte, qual o posicionamento da CLIA Brasil em relação à proteção do meio ambiente? A entidade compartilha os parâmetros estabelecidos pelo ESG?

Nossas estratégias seguem lado a lado com o nosso compromisso com as pessoas, com o meio ambiente, com os tripulantes e com a nossa comunidade. Além, é claro, com os impactos econômicos positivos e com a geração de empregos.

O presente e o futuro do nosso setor também são pautados pela responsabilidade ambiental. Embora os cruzeiros tenham sido um dos setores mais afetados pela pandemia, as Companhias continuam se destacando no desafio de desenvolver novas tecnologias ambientais que beneficiem toda a indústria de navegação e mais de 23,5 bilhões de dólares estão sendo investidos nisso.

De acordo com um recente estudo lançado pela CLIA Global (State of the Cruise Industry Outlook de 2022), até 2027, 81% da capacidade global de navios estará equipada com Sistemas Avançados de Tratamento de Águas Residuais e 174 embarcações terão conectividade de energia em terra.

Os membros da entidade ainda têm a meta de reduzir as emissões de carbono em 40%, até 2030, e zerá-las até o ano de 2050. Além disso, quatro navios movidos a GNL (gás natural liquefeito) foram lançados recentemente e outras 22 embarcações foram pedidas ou estão em construção.

DIÁRIO – A tecnologia embarcada nos navios das associadas à CLIA Brasil altera o conceito das viagens em cruzeiros marítimos? Impacta, de forma positiva, o consumo de energia?

Todo investimento em tecnologia sempre foi e será empregado para aprimorar as experiências a bordo e para colocar nossa indústria na vanguarda no desenvolvimento de práticas ambientais responsáveis, desde a utilização de combustíveis mais limpos para reduzir as emissões atmosféricas até maneiras de alcançar maior eficiência energética.

Atualmente, existem muitas novidades tecnológicas que têm deixado as experiências a bordo mais rápidas e econômicas. Muita coisa é touchless: elevadores e ar-condicionado inteligente, dentro da cabine é possível falar com a Alexa, não existem mais cardápios físicos, entre outras coisas.

Atualmente, existem muitos outros exemplos de eficiência energética a bordo de navios de cruzeiro, incluindo:

Sistemas de lubrificação de ar para cascos de navios para reduzir o arrasto e o consumo de combustível para maior eficiência.

Motores com eficiência energética que consomem menos combustível e reduzem as emissões.

Meta de chegar a 174 navios de cruzeiro preparados para conectividade de energia em terra, até 2027.

Revestimentos de pintura especial para cascos de navios que reduzem o consumo de combustível em até 5%.

Instalação de vidros coloridos, aparelhos de maior eficiência e sistemas HVAC e janelas que capturam e reciclam o calor.

Itinerários otimizados que afetam a velocidade, rotas e distâncias percorridas para reduzir significativamente o consumo de combustível.

Iluminação LED – dura 25 vezes mais e usa 80% menos energia.

Quatro navios movidos a GNL (gás natural liquefeito) foram lançados recentemente e outras 22 embarcações foram pedidas ou estão em construção.

DIÁRIO – Infraestrutura portuária: qual o posicionamento da CLIA Brasil sobre esse tema?

Esse é um dos principais focos do trabalho da CLIA, para que o Brasil seja cada vez mais atrativo para os cruzeiristas e para as companhias marítimas.

Continuamos nossos esforços neste sentido e, também, na busca por novos destinos com boa infraestrutura – Penha e Ilha do Mel são alguns que estão em estágio avançado nas tratativas.

Sabemos que existe um longo caminho pela frente, mas já contabilizamos avanço recentes. Por exemplo, nesta temporada vigente, já pudemos contar com cinco portos de embarque: Santos, Rio de Janeiro, Salvador, Itajaí e Maceió (este último com um terminal recém-inaugurado).

Queremos mais e sabemos do nosso enorme potencial a ser explorado. Temos 42 Companhias Marítimas e todas estão aptas para vir para cá. Até 2027, entrarão em operação 93 novos navios e eles precisarão de destinos. Estamos fazendo nosso trabalho que o Brasil seja um candidato para recebê-los, se possível, e assim ampliar a oferta para os cruzeiristas brasileiros.

Navio da MSC, em Santos (Crédito: Clia)

DIÁRIO – A legislação trabalhista brasileira é adequada à realidade específica dos empreendimentos em cruzeiros marítimos?

Esse é um dos grandes entraves para o desenvolvimento dos Navios no Brasil. Já conseguimos a ratificação Convenção do Trabalho Marítimo, mas existe um caminho a ser percorrido para que estejamos em nível de igualdade com outros países que entendem que a legislação internacional é a que vale.

DIÁRIO – De forma sucinta, pode antecipar tendências influenciadas pelo aprendizado dos últimos tempos, no segmento de cruzeiros marítimos?

Alguns protocolos vieram para ficar e garantir o alto grau de segurança dos navios. Mas as experiências que os navios proporcionam continuarão sendo memoráveis. Trabalhamos para isso.

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