Novos olhares para hotelaria atender a geração millennials

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Por Cris Paola, do Studio Cris Paola

Sempre fui encantada por viagens e a possibilidade de conhecer novos destinos. E como arquiteta, invariavelmente sou inclinada a observar os traços que traduzem a história da arquitetura da região e a estrutura hoteleira.

Antes de seguir em viagem – seja no meu caso, como também para viajantes de outras áreas, o hotel é um dos pontos que definem o destino. Independente da categoria, o turista sempre almeja por um local gostoso para chegar depois do seu dia de passeio, tomar um banho revigorante e descansar para a continuidade da programação. Todavia, com o passar do tempo o hoteleiro – tanto no exterior, como no Brasil –, entendeu que a definição de hotel vai muito além disso. Oferecer uma estrutura, além do tradicional, colabora para a experiência de hospedagem e a taxa de retenção – sim, pois quem gostou, pode voltar novamente e recomendar para os amigos.

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É aí que a arquitetura e a decoração entram em cena. Tenho acompanhado e trabalho em projetos que buscam aprimorar cada vez mais os serviços e aumentar a convivência entre os hóspedes. Por exemplo, o lounge de um hotel tem sido um espaço cada vez mais explorado por clientes que utilizam a estrutura de mesas, poltronas e sinal de wi-fi para trabalhar com seus notebooks e promover reuniões. Quantos fechamentos de novos negócios não acontecem em um hotel?

Em tempos atuais, o conceito de ‘colivings’ é outra tendência que pode chegar com força na hotelaria brasileira. Orginalmente, trata-se de novo movimento de moradias compartilhadas que não está relacionado com a essência das tradicionais repúblicas de estudantes, já que a ideia nasceu com características diferenciadas e bastante particulares.

O coliving apareceu na Dinamarca, em meados de 1970, e desde então foi tomando formato.

O coliving apareceu na Dinamarca, em meados de 1970, e desde então foi tomando formato. Mas foi somente depois de 2010 que a concepção de ‘casa’ com cômodos alugados chegou por aqui e veio de encontro com a geração millennials, que concebe bem o estilo de vida de compartilhar espaços com outras pessoas que, diferentemente das repúblicas, não estão buscando apenas um lugar mais em conta para morar. A pessoa com a mente aberta para o coliving está disposta a reforçar os laços que nela coabitam.

Além de compartilhar espaços comuns de uma residência, como uma sala de estar ou um espaço gourmet, os moradores, por vezes, se engajam em atividades particulares para viver momentos juntos e se conhecerem melhor. O bacana é que, mesmo em conjunto, cada pessoa tem sua individualidade preservada em sua célula.

Transpondo para a hotelaria, por que não trazer a formulação do coliving para o setor? Grandes players da área já vislumbraram esse mercado, como o caso da Accor, que lançou Joe&Joe, um conceito de casa aberta com uma nova visão sobre hospitalidade, e também a rede Hilton.

Como arquiteta e conhecedora do segmento, o coliving pode ser uma injeção de ânimo para os pequenos e médios hotéis que amargam um custo elevado em suas instalações e a cada dia que passa sofrem com a existência de outros sistemas, como o Airbnb, que concorrem com as hospedagens, ou mesmo redes sociais internacionais como o Couchsurfing que, desde 2003, conta com 4 milhões de usuários que se hospedam na casa de outras pessoas durante suas viagens – seja de trabalho ou lazer.

Dentro de um hotel, o coliving pode ser perfeitamente implementado em lounges, salas de jogos, salas de leitura, academia, piscina ou mesmo em espaço de trabalho, já conhecido como coworkings – que carregam o mesmo ideal de convivência. Até mesmo a lavanderia tem apelo para o setor hoteleiro atender a geração adepta a convivência compartilhada.

Com reformulações na arquitetura e decoração, é possível preparar as instalações para receber esse novo público. E a oportunidade vem de encontro com uma sondagem recente realizada esse ano pelo Ministério do Turismo. Entre mais de 600 empreendimentos ouvidos em todos os estados brasileiros, todos estão dispostos a promover investimentos. Na região Sudeste, por exemplo, que concentra a maior oferta hoteleira do país, 2/3 dos entrevistados estavam inclinados a realizar aportes visando mudanças em suas estruturas.

É possível transformar parte do seu hotel para conviver de igual para igual com o bairro onde o hoteleiro está localizado

Atentos ao momento, é possível transformar parte do seu hotel para conviver de igual para igual com o bairro onde o hoteleiro está localizado, criar a estrutura de apartamentos individuais por locação, além de incrementar as áreas comuns de maneira que todos desejarão estar e interagir dentro delas – seja através de um aluguel, em um jantar com amigos ou para lavar roupas, por exemplo.

Minha visão, que compartilhei com os hoteleiros durante a última edição da Equipotel foi: ‘faça de seu negócio um diferencial e não fique parado esperando que o mundo se transforme ao seu redor’. Faça você está transformação!

Cris Paola é formada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, em São Paulo, e com 30 anos de experiência em arquitetura e design de interiores. Cris Paola é autora do blog www.milideiaspormetroquadrado, onde compartilha ideias, tendências e dicas.

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