Nas lembranças e memórias afetivas, tenho a imagem da Juliana de mãos dadas com minha filha correndo pelo pátio da escola. Minha pequena chegou ofegante e me soltou: “Mãe, é ela, Jú, a minha melhor amiga”. Na mesma ocasião conheci sua mãe e pronto; formamos um time pois a empatia foi instantânea e a partir deste dia, colecionamos passeios, encontros e até viagens com as nossas meninas.
*Por Márcia Kovacs, em colaboração ao DIÁRIO
Juliana e minha filha cresceram e ficaram próximas até o fim do primeiro grau. Com mudança de escolas, os amigos se reciclam e acabam indo por outros caminhos. Tanto elas como nós, mães, continuamos tendo contato, mas o tempo, mudança de rumos e objetivos, nos afastou, mas não apagou tudo que vivemos, durante anos. Ainda tenho uma grande amizade com a Maria Alice, mãe da Juliana e nos visitamos periodicamente.
Duas décadas se passaram, minha filha teve formação na área da Publicidade e alcançou destaque e paralelamente, a Juliana fez teatro no Macunaíma, uma vez ou outra participa de algumas peças e também concluiu o curso de Jornalismo e entrou em uma grande emissora de televisão. Além de participar de um blog das ‘Mulheres Jornalistas’, relatando suas viagens fora do país, até mesmo intercâmbio, entregando dicas e experiências.
Orgulho e nostalgia
Relembrar da Juliana criança e constatar o que se tornou, causa um misto de orgulho, emoção e nostalgia, pois não temos a percepção que o tempo passa e tudo se modifica. Ela foi sábia e aproveitou bem o período com tanto aprendizado e vivências.
E é sobre esta menina que se transformou em uma mulher empoderada, sábia e viajante nata, que estou destacando nesta entrevista. Vamos conhecer questões que a levaram por este caminho das artes, aventuras e relatos intensos e grandiosos. Confesso, me sinto imensamente feliz por ter convivido com ela, mesmo que no passado…
Juliana, qual foi o gatilho para que se interessar e envolver, pelo turismo e escrever sobre este segmento?
Sempre gostei de viajar, conhecer culturas diferentes e lugares bonitos. Quem não gosta? mas sempre que eu me preparava para alguma viagem passava horas pesquisando e lendo experiência de outras pessoas. Na minha opinião, ler experiências de outros viajantes faz toda diferença na hora de entender o caminho que você vai percorrer, e decidir se aquele roteiro serve ou não pra você. Então decidi que eu também queria contar aos outros a melhor forma de viajar e onde ir.
Compartilhar, essa foi a grande motivação para eu querer escrever sobre turismo. Já ouviu aquela frase: “A felicidade só é real quando compartilhada?” Essa frase norteia muito das minhas aventuras pelo mundo e acho que todo viajante precisa estar compartilhando descobertas. Seja com alguém que viaja junto ou com aquele que está longe esperando para ler o que você encontrou no caminho.
Como uma jovem profissional, conseguiu transitar, vivenciar, superar e hoje estar em uma renomada emissora de televisão? Compartilhe suas experiências e como foi chegar onde está?
Quando decidi fazer jornalismo foi porque não conseguia encontrar uma única coisa que eu queria fazer. Não conseguia me ver estudando algo e deixando todas as outras possibilidades para trás. Então escolhi o jornalismo para que eu pudesse viver diversos assuntos, conversar com pessoas que sabem muito uma coisa só, e me transformar em uma pessoa que sabe um pouco de cada coisa. Fui buscando oportunidades onde encontrava, pedindo, conhecendo pessoas, dando as caras. é assim que tem que ser, nunca esperei as coisas acontecerem.
Cada meio de comunicação que eu passei me transformou um pouco e hoje estar em uma emissora de TV é muito gratificante, mas também é onde o jornalismo se perde um pouco, a gente precisa sempre pensar no que os outros querem ouvir ou ver. A Televisão é entender o mundo e a sociedade que você vive, entender o que interessa e o que as pessoas não querem viver, é uma luta diária encontrar histórias que mudem os outros e que sejam importantes ser contatadas. Buscar essas histórias é o que eu mais adoro na profissão e é contando a história dos outros que eu construo a minha. Sejam esses outros, lugares ou pessoas.
O turismo é um mercado repleto de oportunidades. Você enfrentou algum obstáculo ou correu algum risco, ‘turistando’ em alguma viagem? Relate…
Comecei a viajar sozinha, viagens pequenas e curtas para lugares que eu achava que seria fácil de me comunicar. Mas qualquer lugar do mundo que não seja o seu lugar no mundo, a sua casa, a sua língua, e que você precise de um mapa para encontrar seus caminhos é difícil. Se colocar em uma situação de vulnerabilidade quando você está conhecendo algo desconhecido é um risco.
Já senti muito medo em hotéis inseguros, em lugares não acolhedores e pessoas mal intencionadas. Mas esses riscos são importantes para que você entenda o seu lugar no mundo e até onde pode ir. Daí voltamos na questão de compartilhar, se você lê sobre os riscos, se você compartilha os obstáculos, você se prepara para enfrentá-los. Viajar é ir atrás de conhecer o desconhecido, é impossível não correr riscos. Como Chico César diz: “Caminho se conhece andando e de vez em quando é bom se perder”.
Quais são seus projetos profissionais dentro do setor de turismo. Pretende manter paralelo às suas atividades atuais? Uma curiosidade, você tatua nas suas costas todos os países que visitou.
Hoje eu não trabalho com turismo, mas sempre que eu viajo e acho que vale a pena compartilhar, gosto de escrever sobre a experiência. Tenho alguns sites e veículos que faço parceria sem compromisso e acabo mandando textos sobre as viagens. Gosto que seja algo sem compromisso, para que fique ainda mais prazeroso.
Eu tenho no braço uma tatuagem do mapa mundi. Todo mundo costuma me perguntar se eu pinto os países que eu visito, mas não. Eu gosto do mapa mundi inteiro, e não quero ter a ansiedade de viajar para pintar espaços. Vou vivendo e viajando por onde dá vontade e se precisar, repetir caminhos.
Quantas tatuagens você possui e quantas pretende fazer até fim de 2025?
Eu tenho 8 tatuagens, algumas fiz durante algumas viagens. Vamos ver o que 2025 vai esperar pra mim… tatuagens são tão imprevisíveis.
Conte qual foi a viagem mais marcante que fez até hoje, e quais dicas que você recomenda para mulheres que viajam sozinhas?
É muito difícil pensar em uma viagem que me marcou, todas me deixaram alguma marca. Mas a que me transformou por completo foi a Austrália. Aprendi a ser parte de outra família, aprendi o que é estar realmente longe de casa e dos meus, aprendi a me manter perto mesmo longe e tive que ser forte pra me apaixonar e deixar ir.
Agora se eu for pensar na viagem que mais me encantou, foi sem dúvida a África do Sul, onde eu vi de perto animais tão lindos, onde eu ouvi histórias de um povo tão feliz e vi o pôr do sol mais lindo da vida. Tem algo nos países africanos que me chama pra mais perto. Meu pai me disse uma vez, que todo mundo tem um lugar mais perto do coração, e acho que esse é o meu.
Viajar sozinha não é de fato estar sozinha, acho que é estar tão mais aberta para as possibilidades, para as amizades, e para o novo. é preciso ter coragem pra caminhar só, ter atenção e principalmente vontade de compartilhar o caminho. Seja com quem vai ou com quem fica.
Um dia em um hostel na Tasmânia eu li a seguinte frase: “Todo viajante precisa de um travesseiro“. Que é pra gente não esquecer, que não importa o quanto a gente ande, sempre precisa voltar pra casa. Seja lá onde ela for.