Por Werner Schumacher*
Retomando – no sentido de voltar não de beber – a série Pergunte ao Werner, o leitor Nelson Paulo Milani envia a seguinte questão a Werner Schumacher: “Por que os vinhos com alto teor alcólico são os preferidos por algumas pessoas ou consumidores?”
Werner Responde:
“Podemos dizer que essa escolha passou a ser desejada a partir das apreciações do renomado crítico de vinhos americano Robert Parker, que pontuava com notas bem altas esse estilo de bebida.
Sua influência foi e segue sendo muito aceita por consumidores de vinhos, mesmo estando aposentado, mas o seu Wine Advocate, agora com experts contratados por ele, que atuam em regiões específicas, seguem o seu trabalho de influenciar o mercado de vinhos.
Alguns chegam a afirmar que a região francesa de Bordeaux aumentou intencionalmente o teor alcoólico de seus vinhos para agradar Parker e em outros países vinícolas elaboram vinhos exclusivamente para agradar o crítico e assim receber uma boa nota.
Todas as regiões do mundo de clima seco e quente tendem a produzir vinhos bastante alcoólicos. Aquelas de clima frio e relativamente chuvoso podem produzir vinhos alcoólicos, no entanto, isso se dará em vindimas (safras) especiais, quando o clima colabora e permita uma boa maturação da uva.
Vinhos com o maior teor alcoólico possível são os melhores, essa crença caiu bem entre alguns consumidores. Isso se dá pelo fato dos produtores deixarem as uvas amadurecerem acima do necessário, acima da maturação técnica, fazendo que a uva tenha certa desidratação e com isso aumenta o teor de açúcar da fruta.
Essa prática foi e vem sendo adotada muito nos Estados Unidos, Austrália, Argentina e Chile, entre outros, no entanto, vem apresentando problemas e na produção de vinhos desequilibrados. Austrália e Estados Unidos chegaram ao ponto de permitir por lei adicionar água ao mosto (suco) da uva para reduzir o teor alcoólico final do vinho. Exemplo: uma uva muito madura com potencial para produzir um vinho que produzirá 16º de álcool, a lei permite que se adicione água no mosto para fazer baixar o teor alcoólico do vinho final a 14,5º, como exemplo. Para os puristas do vinho, isso é um sacrilégio!
Desidratar a fruta
Outra forma de se aumentar o teor alcoólico dos vinhos, digamos, de forma natural, seria o fato de se desidratar a fruta até se obter um alto teor de açúcar e então vinificar a uva para se produzir tal vinho, como se faz na região da Valpolicella, no entorno da terra de Romeu e Julieta, Verona, na Itália.
As regiões do sul da Itália, Sicília e outras, produzem vinhos alcoólicos sem necessitar realizar o processo acima.
Nas regiões mais secas do Chile ou na Argentina, cultivam em regiões desérticas e utilizam a água do degelo da cordilheira dos Andes para irrigar os vinhedos.
O famoso enólogo chileno Aurélio Montes, sócio proprietário da vinícola que produz o vinho Montes Alpha, entre outros, declarou numa entrevista que alguns vinhedos requerem algo como 10 milhões de litros de água para a irrigação de apenas um hectare. Trata-se de um volume enorme de água e, portanto, está buscando áreas onde não seja necessário irrigar, o tal ‘cultivo a seco’, ou que seja necessário irrigar eventualmente.
A vinícola Ventisquero lançou o vinho varietal Carmenere de nome Obliqua, cujas uvas foram colhidas 30 dias antes da maturação que normalmente as uvas são colhidas no Chile, para não colher uma uva excessivamente madura e assim elaborar um vinho mais equilibrado, com 13,5º de álcool e uma elaboração com uso de barris e dornas de carvalho. Esse vinho recebeu muitos elogios de críticos de vinhos no Brasil.
Falando em Brasil, um adendo a Lei do Vinho foi criado para designar de VINHO NOBRE aqueles com 14,5º de álcool ou mais, sem chaptalização, ou seja, sem a adição de açúcar ao mosto, todo o açúcar tem que ser proveniente da fruta.
A foto acima é de uma nova vinícola, a Berkano (www.berkano.com.br), cuja uva Alvarinho é de origem portuguesa, onde se elabora os vinhos verdes, aqui na Serra Gaúcha alcançou alto teor alcoólico, que permitiu indicar VINHO NOBRE no rótulo. É uma produção limitada. Um excelente vinho, fresco e com a tipicidade da uva, de fato mantém o seu caráter mesmo em outro terroir. A cegas ninguém diria se tratar de um vinho brasileiro.
Espero Nelson ter dado uma resposta à altura de sua pergunta!
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Werner Schumacher, é o alemão brasileiro que na década de 80 e 90 do século passado trouxe os insumos da Europa para o início da vinicultura no Rio Grande do Sul, e portanto, no Brasil.
Sem meias palavras, Werner durante o último ano escreveu sobre inúmeros assuntos do universo do vinho. Defendeu a viticultura heroica de montanha, ficou do lado dos pequenos produtores de uva e vinho do Rio Grande do Sul, enalteceu a importância do enólogo em uma propriedade que produz vinho. Além de tudo isso, e com muita classe, critica os marqueteiros que tentam desmistificar o mundo do vinho com seus produtos padronizados e sem caráter.
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