Empresário com mais de 41 anos de atuação no mercado hoteleiro carioca e fluminense, Alexandre Sampaio é presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA) e também do Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade da Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Cetur/CNC), que reúne mais de 20 entidades associativas empresariais do turismo, além de representantes do turismo nas Federações do Comércio nos Estados.
por POR ROBERTO MAIA – especial para o DIÁRIO
Sampaio é ainda membro do Conselho Nacional de Turismo do Ministério do Turismo; coordenador do Comitê Brasileiro de Normatização em Turismo (CB54), órgão de planejamento, coordenação e controle das normas relacionadas ao Turismo da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Com formação em Ciências Contábeis, foi presidente do SindRio (Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro) entre 2002 e 2010, quando assumiu a presidência da FBHA.
Nesta entrevista Alexandre faz um diagnóstico do setor de hotelaria, comércio, bens, serviços e turismo pós-covid, acrescentando a experiência de quem circula e entende os mecanismos legais e toda a jurisprudência do setor. Além disso fala da atuação da sua entidade junto aos parlamentares no sentido de tentar fortalecer os laços com pessoas que podem melhorar o ambiente de negócios para o turismo nacional.
Confira a seguir a entrevista exclusiva concedida ao DIÁRIO DO TURISMO para a série “Entrevistas Presidenciais”:
O senhor foi reeleito em maio para mais uma gestão à frente da FBHA. Quais são as principais ações que pretende desenvolver?
Precisamos atuar em conjunto com nossos sindicatos filiados no sentido de expandir exponencialmente o número de empresas associadas. Neste sentido, vamos trabalhar para fortalecer o associativismo, com o apoio da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Acreditamos que essa é a ferramenta primordial para o fortalecimento e crescimento das empresas que representamos. A caminhada é árdua, mas os esforços conjuntos em uma mesma direção se concretizam em união e representatividade.
A hotelaria como um importante setor da economia do país está bem representada politicamente?
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Sindicalmente, a hotelaria nacional é representada pela FNHRBS (Federação Nacional de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares). Mas temos outras quatro associações nacionais que estão no Conselho Nacional de Turismo, do Ministério do Turismo, e no Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade, da CNC. Dessa forma, a hotelaria nacional está representada, inclusive, com nichos específicos de mercado.
A hotelaria e os restaurantes sofreram muito durante o auge da pandemia do coronavírus. Com a vacinação teve início a retomada. O primeiro semestre de 2022 foi satisfatório?
Sabemos que o turismo foi o segmento mais afetado pela pandemia e os setores representados pela FNHRBS não tiveram trajetória diferente. Os restaurantes foram demasiadamente afetados, servindo como manobra de política pública para tentar conter o vírus. Vimos nossos estabelecimentos serem fechados e reabertos em pouquíssimo espaço de tempo, várias vezes no período. Somos um segmento empregador e acreditamos no nosso potencial como gerador de renda. Começamos a vislumbrar um esboço de retomada no primeiro semestre de 2022. Entretanto, dadas as perdas acumuladas desde 2020, ainda não tivemos um resultado que possamos chamar de satisfatório, acreditamos que a recuperação possa ocorrer até o final deste ano.
A inflação alta está comprometendo a recuperação?
À medida que a inflação alta impacta o consumo das famílias, pode sim ter reflexos negativos na recuperação da economia. Está havendo um movimento de alta nos preços das passagens aéreas, o que dificulta a retomada do turismo e das viagens mais longas. Estamos observando um movimento de viagens mais curtas, de carro ou ônibus, e um novo conceito de turismo vem se consolidando, o “staycation” (período em que uma pessoa ou família fica em casa e participa de atividades de lazer a uma distância de viagem de um dia de sua casa e não requer acomodação durante a noite). O brasileiro está se adequando às novas formas de viagens e reinventando o turismo.
Como o senhor avalia a recuperação da diária média na hotelaria após a crise gerada pela pandemia? Quando serão retomados os níveis de 2019?
Acreditamos na plena recuperação do valor da diária média, voltando aos patamares de 2019, no final do ano de 2022.
Quais são os principais pleitos dos setores de hospedagem e de alimentação fora do lar junto ao governo federal? Reforma tributária e desoneração da folha de pagamento estão na pauta?
- Regulação da Economia, através da propositura de Mensagem ao Congresso ou edição de Medida Provisória que fixe justa de retribuição dos direitos autorais derivados da execução de música;
- Regulação das locações por temporada através de plataformas digitais;
- Regulação da Economia através da propositura de Mensagem ao Congresso ou edição de Medida Provisória que produza um ambiente concorrencial equilibrado na oferta de serviços através de plataformas digitais de entregas;
- Mensagem ao Congresso ou edição de Medida Provisória, capaz de equilibrar as relações do trabalho, no tocante aos reflexos da gorjeta na folha de pagamento;
- Majoração dos limites para enquadramento no Simples Nacional.
O senhor acredita que a legalização dos jogos de azar no Brasil ainda possa acontecer em votação da Câmara?
Não neste ano eleitoral, sendo possível no próximo governo.
O que representa para o setor hoteleiro a liberação dos jogos no país? E qual seria o modelo ideal no seu entendimento?
Creio que ajudaria muito. O turismo brasileiro não pode fechar os olhos à realidade internacional e se perpetuar como uma “ilha”, alheio às demandas do mercado turístico. Iniludivelmente, os cassinos representariam ingresso de divisas e fomento ao turismo, em sintonia com o artigo 180 da Constituição Federal, com incremento da arrecadação tributária e postos de trabalho. Por seu turno, reputo que o modelo ideal seriam cassinos autônomos, sem restrições de índices populacionais.
Qual o objetivo do projeto Vai Turismo desenvolvido pela FBHA junto ao Conselho de Turismo da CNC?
Na verdade, o Vai Turismo é um projeto bem mais amplo e complexo. É uma iniciativa da CNC, de um movimento nacional formado por pessoas e organizações, que visa contribuir com propostas concretas que impulsionem o setor de turismo, especialmente no período pós pandemia. O processo foi participativo, com realização de oficinas virtuais e presenciais com atores importantes da cadeia produtiva do turismo de todos os Estados e do Distrito Federal. O projeto considera as diferenças regionais existentes e estas pautas deram origem à uma agenda nacional de diretrizes e políticas públicas, que tem por objetivo orientar os agentes públicos na tomada de decisões para o desenvolvimento sustentável do setor. É uma oportunidade de integrar propostas e conectar instituições para recomendar políticas públicas que estimulem o desenvolvimento sustentável de destinos turísticos brasileiros.
Logo após sua reeleição o senhor esteve com o presidente da Comissão de Turismo da Câmara dos Deputados, deputado Rodrigo Coelho (Podemos-SC). Quais foram os principais temas abordados?
A ação junto aos parlamentares sempre foi um ponto de atuação da Federação no sentido de tentar fortalecer os laços com pessoas que podem melhorar o ambiente de negócios para o turismo nacional. Neste encontro específico, tratamos de questões pertinentes ao trabalho da federação e do sistema comércio, CNC, Sesc e Senac, no contexto atual do turismo nacional, e propostas de atuação em conjunto para o desenvolvimento do setor.
Houve avanços quanto à adequação do modo de liberação do Fungetur, com redução da burocracia e análises de crédito?
O Fungetur ainda carece da aprovação de norma específica, capaz de fazer com que os recursos destinados ao turismo nacional cheguem, de fato, aos protagonistas que prestam serviços turísticos em todo o território nacional. Um projeto tramita no Congresso Nacional com esse fim. Aprovado com alterações no Senado, o PL 2380/2021 retornou à Câmara dos Deputados, para revisão.
E quanto ao Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), que isenta tributos sobre as atividades de eventos e estabelece o parcelamento de débitos de empresas do segmento?
Conquanto o Perse tenha representado uma importante iniciativa que objetivasse compensar as perdas dos setores de turismo, hospitalidade e eventos com a pandemia do Sars-Cov-2 (coronavírus), fato é que as empresas ainda aguardam que a Receita Federal implemente o comando legal, mediante a expedição de regulamento específico, capaz de assegurar que as empresas deixem de pagar tributos federais por 60 meses, o que não ocorreu até a presente data.
Entidades do turismo se uniram durante a pandemia para reforçar pleitos de interesse conjunto. Essa união terá continuidade agora?
Durante a pandemia reunimos as entidades mais representativas do setor de turismo, representando os mais diversos segmentos e nichos, para trabalharmos pautas comuns. Este grupo de trabalho ficou conhecido com G20. Com o avanço da vacinação e o retorno normal às atividades, os trabalhos voltaram a se concentrar no Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade (CETUR), da Confederação Nacional do Comércio, de Bens, Serviços e Turismo.
Para finalizar, como o senhor projeta o futuro dos segmentos de hotelaria e alimentação fora do lar nesse momento de recuperação após o pior momento da pandemia?
Passados dois anos de pandemia, temos expectativas positivas para o futuro da hotelaria e gastronomia. Nossa expectativa é que ao final deste ano já consigamos atingir índices semelhantes ao de 2019.
Algo mais a dizer aos leitores do DIÁRIO DO TURISMO?
A FNHRBS, com apoio da CNC, vem trabalhando incansavelmente junto às esferas públicas para que consigamos obter avanços para o crescimento de nossas empresas. Entendemos que as leis devem atuar de forma a ajudar no desenvolvimento dos setores que geram emprego e renda. Como presidente da FNHRBS e presidente do CETUR, tenho ciência do nosso papel na sociedade e da importância de cumpri-lo de forma eficaz.