Arcebispo de Natal fala ao DIÁRIO sobre o Caminho dos Santos Mártires

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A mistura de religião com economia existe desde quando o mundo é mundo. No Brasil, essa dobradinha começou ou ganhou tintas mais expressivas no embate do catolicismo dominante implantado pelos portugueses e o calvinismo luterano trazido nas caravelas dos holandeses.

Por Paulo Atzingen, de Natal (RN)*


Esse embolado de fé, economia canavieira, e demarcação de territórios se deu por aqui em meados do Século XVII, mas, naquele tempo, a preço de sangue e mortes (veja matéria publicada no DT).  Agora é diferente. A religião ao invés de ser elemento de discórdia e divisão ganha contornos bem claros no Estado do Rio Grande do Norte por meio da confraternização, das parcerias e do caminhar junto.
Em uma só jogada, junta-se a fé de um povo de tradição cristã – como o brasileiro – e o interesse de uma vertente da economia mundial, quase nascente sob o ponto de vista histórico, que é o turismo religioso. O Roteiro dos Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçu, que já existe e aos poucos se estrutura, é um ótimo exemplo onde se combinam duas coisas: a vontade e determinação de pequenos e médios empresários do turismo potiguar a esse fato histórico religioso que atrai milhares de pessoas todos os anos.

A Catedral Metropolitana de Natal (Crédito: Paulo Atzingen)

Visibilidade Nacional

O Arcebispo Metropolitano de Natal, Don Jaime Vieira Rocha, recebeu o DIÁRIO DO TURISMO na última segunda-feira (30) em seu gabinete na Catedral Metropolitana da capital potiguar. Dentre os assuntos abordados destaquei dois: a nacionalização do roteiro do Caminho dos Santos Mártires e a importância e a visibilidade que o Rio Grande do Norte passa a ter no Brasil e no mundo quando ganha 30 santos mártires (sim 30!!!), como André de Soveral, Ambrósio Francisco Ferro e Mateus Moreira e mais 27 santificados leigos que entraram no céu pela porta da frente!
Perguntei ao arcebispo se a Igreja do Rio Grande do Norte está participando desse processo de nacionalização do roteiro dos Santos Mártires, considerando o grande e bem possível afluxo de romeiros, peregrinos e turistas pós-pandemia.
Segundo ele, estão se preparando muito bem pois ele já entendeu a dimensão do que é ter o seu estado incluído no roteiro do turismo religioso do Brasil. “Estivemos com todo o clero recentemente em Aparecida (São Paulo) e vimos como isso se estrutura.  Este roteiro do turismo religioso é muito favorável, pois é uma atividade sócio-religiosa e socioeconômica muito próspera. Com a Pandemia, as pessoas voltaram-se mais para Deus, diante de tanta incerteza e sofrimento, assim o turismo religioso vai se confirmando”, disse Dom Jaime ao DT.

O quadro original dos Santos Mártires (Crédito: DT)

O Arcebispo acrescentou que o Rio Grande do Norte possui vários roteiros de tradição e fé, além de Cunhaú, em Canguaretama, e Uruaçu, no município de São Gonçalo de Amarante. Ele lembrou também, da região do Seridó, o monte do Galo, onde religiosos, pagadores de promessas e peregrinos de todos os lugares sobem para rezar e agradecer as bênçãos.
“Quando houve a beatificação (dos mártires) na época do Papa João Paulo 2º, em março de 2000, foi construído em um bairro de Natal a Basílica dos Mártires, que é uma referência e entra também nos roteiros, já que é um dos locais banhados pelo sangue dos mártires. Em Cunhaú e Curiaçu permanecem em atividade nos dias 16 de julho, todo ano”, enumerou.
Na conversa bastante informal com o arcebispo, ele citou novamente a viagem que fez para Aparecida na última semana de agosto, quando esteve em Guaratinguetá (SP) e conheceu as obras do santuário Santo Antônio de Sant’Ana Galvão, o frei Galvão, o primeiro santo brasileiro. “Nós vamos percebendo que essa estrutura do turismo religioso vai se aperfeiçoando, vai se desenvolvendo, e que certamente vai fazer muito bem ao nosso país e ao nosso povo, no sentido dos valores cristãos e da fé”, completou.
Capela Nossa Senhora das Candeias, em Cunhaú, onde aconteceu o primeiro morticínio (Crédito: Paulo Atzingen)

Canonização

Aproveitei a oportunidade para saber do arcebispo o significado da canonização equipolente e como isso se dá.
De acordo com Dom Jaime, este tipo de canonização recebida pelos mártires de Cunhaú e Uruaçu é um tipo de elevação ao status de santo sem a necessidade de comprovação de milagres.
“Significa que por ser um fato histórico bastante antigo, no século XVII, ocorrido 1645, por estar carregado de uma devoção comprovada da fé do povo de Deus e, como se trata de um morticínio de várias pessoas, dispensou-se por isso o milagre, já que atendia as exigências de canonização e historicidade. Nós temos dois sacerdotes canonizados (André de Soveral e Ambrósio Francisco Ferro), um leigo que se destacou no episódio (Mateus Moreira, que teve o coração arrancado pelas costas) e mais 27 companheiros, totalizando 30 mártires. Portanto, para a santificação foi aplicada a providência canônica e litúrgica que é a canonização por equipolência”, esclareceu Dom Jaime Vieira Rocha ao DIÁRIO. Ainda de acordo com o religioso, o fato permaneceu sempre latente (e presente) no Rio Grande do Norte:  “Desde o tempos antigos se reverenciava a memória do morticínio de Cunhaú e Uruaçu que veio a se chamar agora “Mártires de Cunhaú e Uruaçu”, concluiu o arcebispo.

Na conversa bastante informal com o arcebispo ele comentou sobre a viagem que fez para Aparecida na última semana de agosto, quando esteve em Guaratinguetá (SP) e conheceu as obras do santuário Santo Antônio de Sant’Ana Galvão, o frei Galvão (Crédito: Cacilda Medeiros)

 


Dom Jaime Vieira Rocha

 

Nasceu na cidade de Tangará, em 1947, sendo o sétimo dos dez filhos do casal José Patrício Vieira de Melo e Maria Nini Rocha. Cursou Sociologia e Política na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), no período de 1968 a 1971. No ano seguinte, passa e residir em São Paulo, onde cursa Teologia, na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, até 1974.

 

Foi ordenado Diácono, em 1974, na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Serra Caiada/RN, por Dom Nivaldo Monte, então Arcebispo Metropolitano de Natal. No dia 01 de fevereiro de 1975 foi ordenado Presbítero.

 

Recém-ordenado sacerdote foi designado para a Paróquia de São João Batista de Pendências/RN, onde foi pároco por 12 anos, permanecendo até 1987. Neste mesmo ano foi nomeado Reitor do Seminário de São Pedro, função que desempenhou até 1995.

 

Ainda como Reitor do Seminário de São Pedro, em 1995, foi nomeado Bispo Diocesano de Caicó. Sua ordenação realizou-se dia 6 de janeiro do ano seguinte (1996), na Basílica Papal de São Pedro, na Cidade do Vaticano, sendo ordenante principal Sua Santidade, o então Papa, João Paulo II, hoje São João Paulo II. Escolheu como lema episcopal a veemente afirmação de fé de São Paulo: “Scio cui credidi”, que quer dizer “Sei em quem acreditei”.

 

No dia 21 de dezembro de 2011, foi nomeado Arcebispo Metropolitano de Natal, pelo Papa Bento XVI. Em 26 de fevereiro de 2012, tomou posse como o 9º Bispo e 6º Arcebispo Metropolitano, na Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Apresentação, em Natal.

 

Atualmente, Dom Jaime é o Bispo Referencial da Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, no Regional Nordeste 2, da CNBB.

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*Paulo Atzingen é jornalista, fundador do DIÁRIO DO TURISMO. Ele viajou a convite dos municípios de Canguaretama, Nísia FlorestaSão Gonçalo do Amarante e Natal (integrantes do Roteiro Caminho dos Santos Mártires) com o apoio da Foco Turismo Operadora, da WHel Tour Receptivo e do hotel Praia Bonita.

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