Entre as árvores e ramos e galhos de um sertão nordestino o andarilho das altitudes, Eliseu Thomae volta à carga. Ele envia à redação uma série de fotos de pássaros de todas as espécies. Selecionamos algumas. São cristas vermelhas em peitos amarelos que rivalizam com plumagens azuis e bicos pretos afiados e duros como o carbono. Araras azuis, bem-te-vis e papagaios verdadeiros integram o banquete de cores.
por Paulo Atzingen (direto da cidade de concreto)
Pássaros são os seres viventes com a agilidade inconfundível do lampejo. Seu instinto voador desloca-se em um segundo e a precisão do clique é como um tiro no escuro.
Veja também as mais lidas do DT
Vejam o cardeal do Nordeste: apareceu sobre uma cerca próximo ao domínio dos homens e foi clicado fora da liturgia da mata. O que será que pensa essa cabecinha vermelha? Deu um impulso que o enfiou nas brenhas da renda verde da árvore. Quem clicou, clicou.
O papagaio verdadeiro não admite ser confundido com nenhuma outra ave. É bilíngue e esconde-se atrás do arbusto e fala ora a língua dos homens, ora a língua dos anjos. Xinga os fotógrafos mas usa a língua dos ares e ninguém o entende. Ainda bem.
O bem-te-vi, o caboclinho verdadeiro, o corrupião, todos esses, têm cristas salientes quando cantam e mesmo quando calam, mas não escandalizam pois são tão elegantes que parecem que usam terno e gravata e saem de um culto dominical onde o louvor é tão belo – e alto – que ultrapassa a cúpula das árvores e chega ao céu.
De todas as fotos saltam plumagens em cores que ainda não estão na paleta. Tons e meio tons que não respeitam o intrincado mundo acadêmico – que luta em colocar nomes em tudo – e pena para entender (e gravar) o chilrear desses voadores que deixam, quem os fotografa, mudos.
O curió, a arara-azul e o caburé anunciam que a natureza é que dá as cartas lá no sertão do Rio Grande do Norte, da Paraíba e de Pernambuco. Eles são a própria natureza. Não se abatem na estiagem e cantam inconfundíveis emprestando à quem tem sede uma gota de chuva e a quem tem fome um pedaço de pão.
Dentre todas as aves nordestinas que Thomae clicou, faltou uma que não é tão linda não. Tem plumagem cinza e esbranquiçada, mas ganhou notoriedade com a música do Rei do Baião. É moradora das caatingas e das grotas próximas às nascentes e seu canto meio estridente faz alegria dos ornitólogos de plantão. Falo aqui da Asa Branca, que bateu asas do sertão.